Disse-lhes             Simão Pedro: Vou pescar. Jo 21, 3
 Por: Rubem Amorese
Vou Pescar
Pescaria, normalmente,             é sinônimo de lazer e diversão. Ou então,             de uma profissão, das mais antigas. Por sinal, a profissão             de Pedro e da maioria dos sete discípulos que lhe respondem:             "Também nós vamos contigo". Talvez por             isso, passe-nos desapercebido o drama de alma com que esse homem             diz, singelamente, "vou pescar".
Passados aqueles momentos             terríveis da crucificação, os discípulos             estão tontos, perdidos, confusos, órfãos.             A cabeça ainda zumbindo de imagens e lembranças             dos últimos acontecimentos, das correrias, dos apertos,             dos guardas agarrando Jesus, do beijo de Judas, dos açoites...
Pedro ainda carrega             as marcas da sua covardia, de haver negado o Mestre. —             E se eu tivesse enfrentado os guardas; e se eu tivesse cortado             a orelha? Deixei Maria sozinha ao pé da cruz... Se eu             pudesse me explicar... Encontrei Jesus algumas vezes, mas não             é mais a mesma coisa; agora ele parece tão diferente...
Assim, Pedro e seus             amigos, sem perceber, voltam ao local onde o viram pela primeira             vez, o mar de Tiberíades. Ali estavam as coisas que eles,             um dia, haviam deixado para trás. Ali estava a "normalidade",             o descanso, a realidade, o acordar de um longo sono — estaca             zero.
"Vou pescar"             pode ser a atitude de muitos guerreiros de primeira linha, que,             por algum motivo, se ferem e se perdem na escaramuça da             luta cristã. Mas o texto nos mostra que não pescaram             nada naquela noite. Que maré! Nada dá certo! Uma             boa pescaria, agora, seria tão bom para o ânimo,             para o ego, para o recomeço. Mas nada!
Na verdade, não             há como voltar às redes. Não somos mais             os mesmos. Nossa história não nos permite voltar             a ser simples pescadores: pobres, anônimos e... felizes!             Frustrado com o insucesso, Pedro nem percebe aquele que chega             na praia, para lhe confirmar os pensamentos: "Pedro, amas-me?             Então essas redes não fazem mais parte do seu mundo.             Ficaram para trás. Vem, pastoreia as minhas ovelhas".
Fonte: Amorese 

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