Sobrevivi 
Se o Estado quiser, fará. Mas precisa  ser antes  da Copa, porque se esperarmos a Copa, tudo virará grama,  cerveja e  Madona. E a bola? A bola será a cabeça das crianças do morro  do Bumba  nos pés do Estado. 
Nesses dias bateu à porta do meu coração uma  necessidade avassaladora de cumprir o chamado para o qual  definitivamente eu nasci. Toda maturidade é bem vinda principalmente a  que parece me chegar aos 33 anos. Meu chamado para a Capelania da  Misericórdia e da Justiça tem me consumido. A dificuldade em mobilizar  de maneira útil o braço da Igreja em favor dos menos favorecidos, me  consome.Tenho conseguido essa adesão aos poucos como em um trabalho de  conta-gotas interminável. Eu sigo com meu coração pegando fogo desde  Portas Abertas e A Igreja Perseguida, essa que jamais abandonarei e pela  qual continuarei gastando a minha voz para gritar: “Orem! Socorram a  Igreja Perseguida!!!
“O Mundo jaz no maligno!! Aleluia!!  Temos que  morrer mesmo assim,  soterrados, assassinados, torturados porque Jesus  vai voltar….” Que  mente derradeira a da Igreja que assim pensa. 
Fui ignorada e engavetada nesse discurso, até que os  jovens começaram a dançar minhas canções na Igreja e a mostrar aos  lideres que entendiam de intercessão e missiologia muito mais que os  Teólogos engravatados. O povo veio, gritou: “Eu Vou!” Lotou o Mauá de  São Gonçalo. Sessenta mil pessoas vieram e gravaram o Profetizando as  Nações. DVD tachado de chato e longo para os desligados do mundo  espiritual, assim como o CD, que foi incompreendido e taxado de sem  expressão de vendas, até que conquistou seu platina duplo e  credibilidade junto aos órgãos missionários.
A massa veio, gravou, cantou, e hoje, muitos dos que  estavam na gravação, estão debaixo de escombros da lama e das avalanches  de barro, água, lixo e descaso público. Meus guerreiros de São Gonçalo  foram soterrados. Meus amigos que gritaram alto comigo para o planeta  ouvir, foram dizimados. Estão sem casa, sem amor, sem ajuda. Muitos  guerreiros e mártires se organizaram abrindo as portas das Igrejas  próximas ao morro do Bumba. Só restou a Igreja. O Estado não acomoda  ninguém em lugar nenhum. Soube da história do Pr. Bruno que desde o dia 5  de Abril está sem voltar em casa cuidando de gente, amando os que  choram… Como ele, muitos estão amando… apenas amando… porque é TUDO o  que eles tem para dar.
Eu sobrevivo ao Rio de Janeiro, aos ataques e aos  atentados que já sofri. Aos tiros que levei na Av. Automóvel Clube, via  conhecida como perigosíssima no Rio de Janeiro.
Eu era pastora no bairro de Vicente de Carvalho perto  do Morro do Juramento e voltava para casa quando coloquei a mão no teto  do carro e disse: “Mil cairão ao meu lado, dez mil à minha direita, mas  eu não serei atingida.” Fizemos a curva para o bairro de Inhaúma e três  rapazes invadiam a pista e pulavam para calçada com se brincassem de  atravessar a rua. Na nossa vez, um deles também pulou, eu achei que era  brincadeira. Esse mesmo, puxou uma pistola ponto 40 e disparou 4 tiros  em nosso pára-brisa. Isaac tinha 9 meses e estava na cadeirinha atrás  com a Mema (babá). Emerson tentou desviar e eu vi quando as balas eram  cuspidas da pistola e sumiam incandescentes diante dos meu olhos como se  apagassem chegando ao vidro da frente. Batemos na mureta da linha do  metrô e, como por reflexo, Emerson lançou o carro em cima do bandido.  Ele correu para a calçada e continuou atirando. O cheiro de pólvora era  forte dentro do carro e uma fumaça nos inebriou.  
“Estamos mortos”!  Pensei. O bandido continuava atirando e dessa vez nos carros de traz.  Matou o motorista da Kombi que vinha a seguir, atirou em um Honda Civic,  em outra família. Eu gritei: “Ele não quer o carro! Emerson, corre!!! ”
O Emerson saiu em alta velocidade enquanto olhávamos  se estávamos sangrando. Chegamos a uma patrulha na linha amarela e  relatamos o acontecido. O policial estava sozinho e chamou outros pelo  rádio. Heroicamente saiu ao encontro dos três que atiravam sem parar em  quem passasse . Eles tinham ordem do comando para barbarizar os civis,  pois um deles havia sido morto por policiais no dia anterior (viu ? eles  pressionam o Estado, não que eu concorde, longe de mim!).
Seguimos para casa em choque. Eu pensava: “É assim  que se morre. Devemos estar estirados no chão mas em nossas mentes  achamos que estamos vivos. Onde estarão os anjos?” Seguimos para o  condomínio onde morávamos. Saímos do carro e procurávamos os buracos de  bala.Tiramos as roupas e fraldas do bebê Isaac de 9 meses. O viramos de  cabeça para baixo. Olhamos uns aos outros milimétricamente à procura de  furos de bala. Estávamos livres. Procuramos no carro os furos, não havia  nenhum. Enfim eu disse: “Sobrevivi…”
Não era a primeira experiência.Vou contar outras a  vocês, como a de quando chegávamos em casa na Penha e fomos rendidos por  4 homens com metralhadoras e pistolas. Metralhadoras das chamadas  Macaquinhas, pequenas e fáceis de levar em carro de passeio.
Passaram a pistola pela cara do Emerson, desceram por  todo o corpo dele, passavam o cano da pistola nele para revistá-lo e  levarem nosso carro. Levaram tudo. Depois devolveram. Conversei muito ao  telefone com eles, preguei para todos. Descobri que eram desviados.
Tenho inúmeras experiências de sobrevivência no Rio,  em Belém, em vários lugares. Mas tenho também em minha Igreja e em meu  Estado famílias enlutadas.Casos de homens de Deus e jovens santos,  cheios de Deus que foram executados.Ou soterrados.
Além da violência, e a falta de vontade política,  somos conformados dizendo: “O Mundo jaz no maligno!! Aleluia!! Temos que  morrer mesmo assim, soterrados, assassinados, torturados porque Jesus  vai voltar….” Que mente derradeira a da Igreja que assim pensa.
O Espírito Santo está sobre a Terra e habita a  Igreja!!! O mesmo mundo que jaz no maligno tem tachas de homicídios bem  menores na França ou na Bélgica, onde o povo vai pra rua e grita!!! Ou  será que nós crentes estamos tão misturados com a inércia e a ignorância  que não temos o que pensar ? O que dizer? Ou não podemos protestar  porque na ultima eleição recebemos dentaduras ou recursos para trazermos  nossos cantores evangélicos em nossas Igrejas?
Ou será que isso não é problema nosso se as crianças  de nossa comunidade estão fazendo fila para entrar para o trafico,  enquanto não temos trabalhos sociais? “Ah! é verdade…deixemos isso para o  Afro Reague, que aliás, pode nos dar aulas de cidadania.”
Será que vamos seguir votando sistematicamente em  candidatos evangélicos sem cobrá-los de suas responsabilidades? Sem  pesquisarmos no Google quantos processos ou quantas leis eles aprovaram e  fizeram valer?
Eu estou exausta de fazer campanhas e depois delas  ser ignorada e muitas vezes nem atendida pelos nossos “santos  evangélicos” elegíveis. São poucos os parceiros que eu tenho e não  preciso citá-los porque os que fazem valer o cargo que ocupam, vocês já  conhecem e não precisam se defender. Suas obras falam por si.
E quanto a nós? O grupo Rebanhão cantava “Quantos  Chico Mendes ainda vão morrer?” Essa nossa geração perguntaria: “ Quem  foi Chico Mendes?”
Nossos Lideres fazem pressão politica para que a  placa que indica como chegar na igreja seja colocada na rua apontando a  direção, ou para que um monumento à Bíblia seja erguido na praça da  cidade. NINGUEM LEMBRA DOS ÓRFÃOS!!! As viúvas apodrecem nos barracos,  com fome, ou morando num puxadinho de favor.Será que os nossos  representantes vão seguir firmes? Ou vão sumir das Igrejas por mais 4  anos?
Por nossa vez temos que deixar de desrespeitar os  eleitos, vaiá-los ou ridicularizá-los. Não é essa a educação que Cristo  nos sugere. Antes, ao invés de vaiá-los ou xingá-los, deveríamos  responder nas urnas.
Pense! Ouça o Espírito Santo, estude, preste à  atenção, não se deixe manobrar. Não seja ingênuo.Vote, grite! Acorde!  Seja! Reclame! Não se conforme! Precisamos de respostas para os nossos  irmãos vitimas das chuvas: Quando? Como?
Vamos fazer como o bom samaritano que enfiou a mão no  bolso. Eu estou disposta. E você?  
Se o Estado quiser, fará. Mas precisa  ser antes da Copa, porque se esperarmos a Copa, tudo virará grama,  cerveja e Madona. E a bola? A bola será a cabeça das crianças do morro  do Bumba nos pés do Estado.
Com Temor em Cristo
Fernanda Brum
Favela Mandela de Pedra Manguinhos Rio de Janeiro
 À 30 minutos da minha casa
http://riodepaz.typepad.com/.a/6a010535f229c6970c01347fe3a923970c-pi 
Fonte: Profetizando às nações