OS CAMINHOS DA MÚSICA CRISTÃ NO BRASIL
Nelson Bomilcar
 1. IntroduçãoNeste  pequeno artigo/estudo, queremos fazer uma rápida análise história do  uso da música na adoração e evangelização, entendendo um pouco mais de  nossas raízes, de nossa herança, e também do que temos visto não só  fora, como dentro da realidade no Brasil, além de termos mais alguns  elementos para tentarmos tratar e lidar com as questões abaixo:
• Como podemos avaliar a herança que recebemos dos missionários? O que a história nos ensina e aponta?
• Como encarar a música produzida no Brasil hoje, tanto na adoração como na evangelização? Estamos abrindo mão do que cremos?
• Como encarar a cultura no processo criativo? Há limites que devemos respeitar na produção de música considerada cristã?
• Como lidar com as forças do marketing e de consumo tão presente em nosso meio?
• O que precisamos resgatar e não abrir mão na música que estamos fazendo?
•  Tudo o que temos visto e ouvido pode ser considerado música cristã?É  fundamental levarmos em conta o propósito da música na adoração e na  evangelização. Adquirirmos informações e conhecermos mais do universo da  música cristã, trará alguns balizamentos e ampliará nossos caminhos  para a música que temos feito nas igrejas ou por músicos e compositores  cristãos.
2. A música na adoração, nos primeiros séculos do cristianismo e seu desenvolvimento na reforma protestante.•  A música é uma forma legítima de expressão que pode e deve ser usada na  adoração. O estudo histórico dos povos da Antiguidade sempre mostra o  uso da música como forma de expressão e criatividade do homem.
•  A música foi usada como parte das cerimônias civis e religiosas nas  civilizações antigas. A música cantada ou tocada era uma importante  manifestação do louvor do povo hebreu.
•  Em 1 Crônicas 15:16-24 temos o registro do trabalho musical e de  adoração feita pelos levitas, trabalho sério, profundo e organizado.
•  O Salmo 150 mostra a universalidade da música e das inúmeras  possibilidades de uso, considerando as diferentes realidades culturais.
• O uso terapêutico da música esteve sempre presente (modificou o estado de espírito de Saul, trabalha as emoções)
• O trabalho dos poetas cristãos eram foram sendo incluídos no repertório da igreja primitiva ( Ef 5.19; Col 3.16)
• O Novo Testamento mostra a dependência inicial das práticas judaicas.
2.1 Características da música na época da reforma
• Canto
• Instrumental
• Somente homens e meninos
• Ritmos dependentes dos textos•
Decreto de Constantino (ano313), Santo Ambrósio séc IV), São Gregório, papa de 590 a 604.
•  Reforma: Lutero (1483-1546), poeta e músico organiza e busca um  fortalecimento e depuração doutrinário e a música acompanha esta divisão  eclesiástica, buscando suas distinções. A igreja nova procurou  restaurar o canto congregacional. “Castelo Forte” torna-se conhecido  como o hino da Reforma.
•  Faz uso de melodias seculares para seus hinos e cânticos, num claro  esforço na evangelização e popularizar as doutrinas da Reforma.
•  Calvino se opôs ao uso de instrumentos musicais, cânticos e hinos com  divisões e cujas letras não fossem extraídas das Escrituras.
•  Historiadores musicais apontam o fato de que buscar melodias seculares  para tornar a música cristã conhecida é um acontecimento familiar na  história da igreja. 
3. A música na Igreja no Brasil
Os  primeiros cânticos evangélicos soam no Brasil no próprio século de seu  descobrimento, o mesmo da Reforma. Vários alemães viajantes como Hans  Staden, Heliodoro Fobano e Ulrico Schmidel divulgaram a música de Lutero  e de outras cantadas pela igreja calvinista na Baía de Guanabara.
a. Primeiro culto evangélico em 1557
b. Século XVII: início da atividade de adoração e música.
c. Século XVIII: silêncio de manifestações musicais
d.  Século XIX: hinos de criação anglo-americana trazidos pelos  missionários. Período caracterizado pela organização dos hinários  eclesiásticos (1855 a 1932) e depois de consolidação (1932). Período  fértil na música.
e. Pouca preocupação com nossa cultura, e quase não houve contextualização.
f.  Música Cristã Contemporânea (final da década de 60 e início dos 70). O  Jesus Movement aconteceu de roldão em meio a um avivamento, onde Jesus e  seus ensinos tinham grande ênfase, em vez da institucionalização das  igrejas norte-americanas. O grupo musical Love Song teve grande  influência nesta época, junto do ministério da Calvary Chapel, do pastor  Chuck Smith.
g.  O ministério Maranatha Music teve grande influência, principalmente na  missão Vencedores Por Cristo, fundada por Jaime Kemp, onde autores de  cantatas e hinos como Kurt Kaiser, Otis Skillings, Ralph Carmichael, Don  Wyrtzen (PV) tiveram espaço.Correndo o risco de esquecer alguém,  permito-me a um flash:Vencedores através de suas gravações e ministério  evangelístico, veiculou músicas em novos estilos de adoração e  evangelização. Outros trabalhos como da Palavra da Vida (Harry Bolback),  e de estilos populares tradicionais como Feliciano Amaral e Luís de  Carvalho ganhavam espaço também, e as primeiras gravadoras evangélicas  aparecem. Grupos como Novo Alvorecer, Mensagem, PAS, Vozes da Verdade,  surgem no cenário evangélico.
h.  A gravação do disco “De vento em Pôpa”, rompeu definitivamente com as  barreiras culturais, trazendo nomes como Aristeu Pires (Brasília),  Guilherme Kerr (Campinas), Sérgio Pimenta (Rio), Artur Mendes e Edy  Chagas (Bauru), Nelson Bomilcar, Sérgio Leoto e Gerson Ortega (São  Paulo), etc.
i.  Tivemos também uma influência do Jairinho Gonçalves e Paulo César (PV,  Elo e atualmente Logos), do Janires (Rebanhão e MPC) na evangelização e  música jovem, coincidindo com o trabalho de David Wilkerson no Brasil na  recuperação de toxicômanos e da igreja Cristo Salva do saudoso Tio  Cássio, Maurão no trabalho com crianças, Wolô, excelente poeta junto à  ABU, Edilson Botelho (Jovens da Verdade), Som Maior, entre os jovens  batistas, Grupo Café entre presbiterianos, cada um dentro de seus  estilos, trazendo novos ares para a música cristã.
j.  O trabalho de Asaph Borba junto a Seara Evangelística no Sul, hoje  Comunidade de Porto Alegre, trouxe novo alento na adoração comunitária e  influenciou grandemente a igreja no Brasil., tendo como parceiros de  visão Adhemar de Campos (Comunidade da Graça) e Gerson Ortega (VPC,  Semente e atualmente na Igreja Cristã da Família), Bene Gomes e Alda  Célia com o ministério Koinonia desde 88. Destaque para o trabalho  brasileiro do MILAD.
k.  Vale o registro do trabalho de Jorge Camargo, Jorge Rehder e João  Alexandre pelas inúmeras músicas de louvor e de conteúdo evangelístico  registrados em cantatas, discos, CDS, fitas e partituras, além do  trabalho contextualizado do Josué Rodrigues, Expresso Luz, Carlinhos  Veiga e Quarteto Vida junto à Mocidade Para Cristo.
l.  Inúmeros cantores, bandas, ministros de louvor e músicos como Kleber  Lucas, Ana Paula Valadão (Lagoinha), Carlinhos Félix, Massao Suguihara,  Jônatas Liasch (Natinha), Banda Rara, Oficina G-3, Koinonia (Vitória),  Carlos Sider (Mensagem), Gladir Cabral, Arlindo Lima (Belém), Daniel  Maia, Maurício Caruso, Maurício Domene, Quico Fagundes(Brasília), David  Neto, Hilquias Alves, em trabalhos instrumentais, Cia de Jesus, Cântaro,  Sal da Terra, Céu na Boca (Brasília), tem influenciado grupos e regiões  diversas.
Na  área de coros, hinos, partituras, educação e estruturação de trabalhos  musicais em igrejas locais e instituições de ensino teológico-musical,  tivemos grande influência de João Faustini, Jaci Maraschin, Almir Rosa,  Fred e Edward Span, Dick Torrans, Simei Monteiro, Nabor Nunes, Nelson  Mathias e Williams Costa Júnior, nas diversas denominações.
Louvamos  a Deus pelo sopro do Espírito Santo em nossa nação nestas últimas  décadas. Manifestações de poder, quebrantamento, mais informalidade e  autenticidade, maior participação no louvor, edificação, cuidado maior  em nossas instituições teológicas de ensino quanto a música, visão  profética na adoração, são ganhos e conquistas que não podemos  desprezar.
•  Tivemos também de relevante numa história mais recente o que chamo de  movimento gospel no Brasil, caracterizado mais com formas musicais  diversas(pop, rock, etc), bem diferente do gênero gospel original e da  música cristã mais comportada feita até então, objetivando alcançar  jovens. Uniu-se a esta ênfase, uma visão e estratégia de marketing para  popularizar o gênero na mídia, aproveitando da experiência de homens de  publicidade, e de um trabalho que hora surgia, o Renascer em Cristo, o  que realmente acabou acontecendo.
• Brother Simeon, Katsbarnea desenvolvem um trabalho musical de grande influência entre adolescentes e jovens.
 4. O que estamos vendo hoje e o que podemos fazer?
Hoje  o que vemos é um leque enorme de opções para a música chamada cristã: o  da adoração, o da evangelização, o do entretenimento, atrelada  perigosamente ao pano de fundo comercial definitivamente instalado no  meio evangélico, o que tem provocado incursões dos artistas e gravadoras  seculares cujo objetivo único é explorar no “mercado que  representamos”.
Inúmeros cantores, cantoras e grupos têm surgido também em nossas igrejas locais, em função desta realidade.
A  mensagem do evangelho tem sido sucateada, colocada em segundo plano,  escondida em letras superficiais e que não ajudam a pessoas a conhecerem  mais do Deus das Escrituras Sagradas. Pobreza poética, excesso de  preocupação com a imagem, mais do que com a fidelidade à mensagem do  evangelho que professamos ou com a integridade dos músicos.
Prova  disso são as inúmeras “conversões” a uma mensagem que não contém mais  chamada ao arrependimento e a uma entrega total ao Senhorio de Cristo.  Uma mensagem açucarada, facilitada, sem preço.
Precisamos  buscar a excelência no que se faz, isto é, integridade mais beleza e  competência no trabalho musical. Pouco se investe no discipulado  responsável de músicos em nossas igrejas locais.
Precisamos  de moralização e ética em nosso meio. Necessidade urgente de se  respeitar direitos autorais e morais, e buscarmos ter um bom  relacionamento com trabalhos e ministérios afins.
Fazermos  músicas contextualizadas para nossa realidade urbana brasileira, que  dignifiquem a mensagem que cremos e professamos. Precisamos de um culto  público com uma linguagem que se identifique mais com as pessoas que  queremos alcançar.
Reter  o que é bom dos modelos que estamos buscando lá fora. Tivemos o momento  de “kenolyzação do louvor” e de outros ministérios, como Hosana Music,  Integrity, Vinyeard, todos com interesses não só ministeriais, mas  comerciais, junto com suas estruturas que aportaram aqui. Pecamos sempre  em absorver o que é massificado pela mídia à exaustão e perdemos outros  referenciais.
Temos  um caminho aberto e enorme para a música instrumental, já que temos  hoje excelentes músicos que tem se levantado nas igrejas. Esta geração  tem gerado um número enorme de competentes músicos, que precisam ganhar  visão do Reino.
Fortalecimento  do trabalho com coros, principalmente para ocuparmos espaços nos  centros culturais, para a atuação artística e para a evangelização.
Continuarmos  com clínicas, encontros, congressos, que nos levem à reflexão do que  temos feito, que nos encorajem à uma vida mais consagrada na obra de  Deus, usando a música como instrumento de adoração e evangelização.
Estarmos  caminhando junto a associações que buscam um melhor desempenho no  ministério da música e um bom testemunho do evangelho que abraçamos.
5. Conclusão
Que  Deus nos leve para uma vida de adoração em oração, comunhão na Palavra,  nos bons relacionamentos em nosso meio e num bom testemunho do  evangelho. Que naquilo que fazemos para o Senhor, busquemos o melhor  para a manifestação da Sua glória, sendo sal e luz do mundo! Que Deus  nos ajude. 

Para saber mais sobre Nelson Bomilcar, visite o site; http://www.nelsonbomilcar.com.br/ 
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