A diferença entre a vaidade e o orgulho consiste em que este é uma convicção bem firme de nossa superioridade em todas as coisas; a vaidade, pelo contrário, é o desejo que temos de despertar nos outros esta persuasão, com a esperança secreta de chegar por fim a convencer a nós mesmos.
O orgulho tem, pois, origem numa convicção interior e,portanto, direta; a vaidade é a tendência de adquirir a auto-estima do exterior e, portanto, indiretamente. A vaidade é faladora, o orgulho silencioso. Mas o homem vaidoso deveria saber que a alta opinião dos outros, alvo de seus esforços, se obtém mais facilmente por um silêncio contínuo do que pela palavra, mesmo quando há para dizer as coisas mais lindas. Não é orgulhoso quem quer;pode-se, no máximo, simular o orgulho, mas, como todo papel de convenção, não logrará ser sustentado até o fim.
Porque é apenas a convicção profunda, firme, inabalável que se tem de possuir méritos superiores e valor excepcional que dá o verdadeiro orgulho. Esta convicção pode até ser errônea, ou fundada apenas em vantagens exteriores e de convenção, mas, se é real e sincera, em nada prejudica o orgulho. Pois o orgulho tem raízes na nossa convicção e não depende, assim como sucede com qualquer outro conhecimento, do nosso bel-prazer. O seu pior inimigo, quero dizer o seu maior obstáculo, é a vaidade, que apenas leva o indivíduo a solicitar os aplausos alheios para, em seguida, formar uma opinião elevada de si mesmo; ao passo que o orgulho supõe uma opinião já firmemente arraigada em nós. Há quem censure e critique o orgulho; esses sem dúvida nada possuem de que se orgulhar.
(A. Schopenhauer. Dores do Mundo.
São Paulo: Edições e Publicações Brasil, 1959 - tradução revista).
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