No dia em que eu temer...

"Até quando, ó Senhor ? Esquecer-te-ás de mim para sempre ? Até quando esconderás de mim o teu rosto ?" ( Sl. 13.1 )
Temor não é o medo de Deus, é o medo de sua ausência. O verso do Salmo de Davi é cheio de dor. É repleto de uma angústia que insiste em pintar de roxo as telas da existência. Há dias em que até Deus parece ausente. Nesses momentos de dor a gente se solidariza com as páginas molhadas de lágrimas. O gemido passa a ser íntimo, habita nossas entranhas.
A Bíblia é repleta de gente  assim. É a sofrida Ana que luta com as palavras, mas perde a batalha -  emite apenas gemidos. É José vivendo a terrível experiência de ser  vendido, negociado como mercadoria pelos próprios irmãos - a família  perde o encanto. Neemias que ouve o relato triste de que sua terra natal  vive da vergonha e do caos - o passado de glória se reduz a um monturo  de entulhos. Davi que chega ao ponto de desabafar: "Até quando ?"  
Fernando Pessoa, poeta português, certa vez  escreveu: "Minha alma partiu-se como um vaso vazio. Caiu das mãos da  criada descuidada". A noite escura da vida parece ser muito mais  longa do que o dia. Entretanto, o dia brilha, o sol não tira férias. Não  existe noite eterna enquanto vivermos. O sol sempre rompe as trevas e  vence. Mesmo nos dias em que a tempestade pinta o céu de um cinza  tenebroso, o manto azul sempre surge. A cadência da vida é feita assim,  uma nuvem hoje, sol amanhã. Inverno, verão. A constante dança das  alternâncias.
Ana aprendeu essa lição e o sorriso de Deus a  brindou com um filho. José classificou sua dor como providência divina:  "...conservação da vida" (Gn.45.5). Neemias usou todo seu  potencial de liderança e transformou a tragédia de sua cidade natal em  uma tremenda história de renovação. Davi termina o Salmo 13 assim: "Cantarei  ao Senhor, pois me tem feito muito bem". Talvez, nosso grande erro  seja não ter essa percepção de que Deus é o supremo guia de nossa  história. Não precisamos ser viciados em triunfos, às vezes, Deus se  esconde na feiura da crise.
Como disse o poeta John Donne:  "Assim como me deste um arrependimento do qual não me arrependo,  dá-me, ó Senhor, um temor que eu não precise temer". Que assim seja  ! 
Fonte: Alan Brizotti 
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