terça-feira, abril 26, 2011

Ricardo Gondim na Carta Capital: “Fui eleito o herege da vez”


Texto de Gerson Freitas Jr. publicado originalmente na Carta Capital
Deus nos livre de um Brasil evangélico?’ Quem afirma é um pastor, o cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu crescimento estão as raízes da própria decadência. Os evangélicos, diz Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os direitos homossexuais. Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”, diz na entrevista a seguir.

Carta Capital: Os evangélicos tiveram papel importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais influenciável pelo discurso desse movimento?

RG: Sim, mesmo porque, é notório o crescimento no número de evangélicos. Mas é importante fazer uma ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos de dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos do perfil religioso típico do brasileiro.

CC: Como o senhor define esse perfil?

RG: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos modelos do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.

CC: O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?

RG: Porque esse projeto impõe não só a espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente da República. Isso fica muito claro no projeto da igreja Universal. O objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, pode facilitara expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam os meios.

CC: O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?

RG: O movimento brasileiro é filho direto do fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american way of life de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das principais. As lideranças daqui Ieem basicamente os autores norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial, o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência prestadora de serviços religiosos. de cura, libertação, prosperidade financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos, a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é de que Deus abre portas de emprego para os fiéis.
Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?

CC: O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.

RG: Uma igreja que, para se sustentar, precisa de campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.

CC: Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?

RG: Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os sentidos, ao Tea Party, à guerra.

CC: O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?

RG: Sou a favor. O Brasil é uni país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.

CC: O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?

RG: Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere, controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval, mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível a existência  de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é bom e onipotente, e coisas ruins acontecem., então há aluo errado com esse pressuposto. Minha  resposta é que Deus não está no controle. A favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse, porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos, lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso, que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora da vida.

CC: Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.

RG: Não necessariamente. Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.

10 comentários:

Eduardo Vaz disse...

Eu nao sei onde o GOndim quer chegar com essas falas dele..se por uma lado temos um meio evangelico viciado, por outro temosde fato posicionamentos esquisitos por parte dele...Sou leitor assiduo dele e me assusto...E ainda percebo um coracao inquieto e magoado...

Anônimo disse...

Acredito piamente que o pastor Ricardo Gondim deveria "ter papas na língua" e ser mais responsável antes de conceder uma entrevista que levasse esse título, pois sabemos como cristãos que Jesus Cristo veio para os doentes, não para os sãos e sabemos também que a maioria do povo evangélico no brasil vem de classes sem muitos referenciais de conhecimento para entender o seu artigo quando tenta justificar a sua fala " Deus nos livre de um Brasil evangélico". Para mim esse entrevista só vem a atrapalhar ainda mais o trabalho do povo Cristão que prega o verdadeiro evangélio, fortalecendo a crença dos incrédulos de que os evangélicos vão ser o câncer no Brasil.

Amanda Aleirbeg disse...

Ele quer chegar na liberdade. Somos livres, Deus é livre e essa é a beleza do relacionamento com Deus. O amor verdadeironão requer nada em troca. NADA.

luiz lino disse...

De Luiz Lino :
Pastor Gondin voce está sem visão e sem fé, seu relacionamento com Jesus Cristo é questionavel e por ser um líder é irresponsavel nas suas declarações pois muitas das suas ovelhas estao olhando para voce e se esquecendo das Escrituras não somos como os crentes de Beréia o senhor deveria pensar melhor nisso.

Anônimo disse...

SE VOÇE OLHAR PARA CRISTO NADA VAI TE DERUBAR,POIS O VERDADEIRO EXEMPLO ESTA NO FILHO DE JEOVA,MUITOS CRISTAOS JÁ CAIRAM PORQUE PRÁ JESUS NAO OLHARAM SEGUIRAM O EXEMPLO DE OUTROS E HOJE ESTAO DEROTADOS,SE VOÇE E UM DOS CAIDOS ESTA TRISTE E ABATIDO,LEVANTE AS MAOS E VENHA CORRENDO,JESUS E TEU MELHOR AMIGO.

Carlos Alves disse...

Fico triste ao ler uma entrevista como esta; fui admirador do Pr. Ricardo e de seu trabalho, mas vejo que ele está meio perdido; não sei o que aconteceu - apenas que não vejo o mesmo homem que se dipos a servir a Igreja de Deus como pastor. Vejo um homem amargurado e que quanto mais fala mais polêmica cria - não sei em que isso ajuda a já abalada imagem da Igreja no Brasil. Espero que ele recobre o bom senso, pois o que está fazendo é um desserviço à Fé.

Hérika disse...

Sou admiradora do Pastor Ricardo e continuo o admirando... O Pastor Ricardo fala do que conhece profundamente, e do que aqueles comprometidos com a palavra do Senhor entendem. O movimento evangélico, em grande parte, tem servido para distanciar as pessoas do verdadeiro caminho de Jesus... Que é sobretudo o caminho do amor...

Eraldo Sá disse...

Uma nova onda de "perplexidade" no meio dito evangélico surge...é engraçado, cômico se não fosse vindo de "fogo amigo"...sou do tempo em que a Betesda foi julgada de herege por fazer entender que o pecado não estava nas vestes, não estava no uso da bateria no louvor e do uso do (retro)projetor (chamado na época de "FOGO ESTRANHO NO ALTAR")...éramos ditos malditos pregadores de heresia...e hoje se acende nova discussão pelas benditas palavras desse homem de Deus! Mas o tempo dirá...abraço a quem de abraço e beijo a quem de beijo! Obrigado Pastor Ricardo por elevar o nível da discussão (ou no mínimo fazer os ditos "cristãos" refletirem, pensarem) do que representa sermos cristãos numa sociedade tão perdida de valores e de Cristianismo!

Anônimo disse...

FICO TRISTE E PREOCUPADO COM UM ATO DE IRRESPOSABILIDADE E LOUCURA, SE ELE QUER ASSUMIR SOU PREFERENCIA SEXUAL, PROBLEMA DELE MAIS NÃO DEVERIA TENTAR INFLUENCIAR OUTROS USANDO DO CARGO DE PASTOR.O MAIS TRISTE E QUE ELE CONHECE A PALAVRA DE DEUS, DEVE TA SEM FÉ O PASSANDO POR ALGUM PROBLEMA PESSOAL OU FAMILIAR.

Anônimo disse...

esta se cumprindo: mateus 7.15 A CAUTELAI-VOS, POREM, DOS FALSOS PROFETAS, QUE VEM ATE VOS VESTIDOS COMO OVELHAS, MAS INTERIORMENTE SÃO LOBOS DEVORADORES.MATEUS 24.24:PORQUE SURGIRÃO FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS E FARÃO TÃO GRANDES SINAIS E PRODIGIOS, QUE, SE POSSIVEL FORA, ENGANARIAM ATE OS ESCOLHIDOS. COMO CONHECEDOR DA PALAVRA DE DEUS, FICO TRANQUILO E EM ORAÇÃO , PORQUE DEUS NÃO DISSE DE OMDE SURGIRÃO.