terça-feira, maio 26, 2009

A música gospel e sua teologia.

A música gospel e sua teologia.
Fui criada no universo católico, numa época onde o discurso era influenciado pela “teologia da libertação”, (A teologia da libertação é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs desenvolvidas no Terceiro Mundo ou nas periferias pobres do Primeiro Mundo a partir dos anos 70 do século XX, baseadas na opção pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina.
Estas teologias utilizam como ponto de partida de sua reflexão a situação de
pobreza e exclusão social à luz da fé cristã. Esta situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas, influenciada pela visão das ciências sociais, sobretudo a Teoria da Dependência na América Latina, que possui inspiração marxista.), então a riqueza era quase um pecado para alguns religiosos. Não entendam mal, os dias eram difíceis e a Igreja tentava inculcar nos fiéis a esperança no porvir, mas aqui a luta era intensa. Cristão bom era critão engajado no contexto social onde suas mazelas eram combatidas. O cara mais pop era São Francisco de Assis, (Filho de um rico comerciante de tecidos, Francisco tirou todos os proveitos de sua condição social vivendo entre os amigos boêmios.
Tentou, como o pai, seguir a carreira de comerciante, mas a tentativa foi em vão.
Com a renúncia definitiva aos bens materiais paternos, São Francisco deu início à sua vida religiosa, "unindo-se à Irmã Pobreza".
), e todo jovem tinha o sonho de mudar o mundo.
Lembro de algumas canções de quando era criança e gostava de cantar na igreja, naquela época tudo era mais simples, o padre mais pop era o padre Zezinho, (Pe. Zezinho é um dos maiores fenômenos da
música cristã no mundo, sempre lotando suas apresentações. Foi um dos pioneiros da música católica popular, fruto do Concílio Vaticano II. Começou a compor em 1964 e iniciou sua carreira de cantor em 1967. Em 1969, gravou Shalom, seu primeiro compacto, pela Paulinas COMEP. O sucesso das canções de Zezinho foi imediato entre os fiéis católicos, sendo reconhecido por eles como um profeta de várias gerações.
Algumas de suas canções mais famosas são Um Certo Galileu, Maria de Nazaré, Amar como Jesus Amou, Oração da Família, És Água Viva, Maria da Minha Infância, Alô Meu Deus, Ilumina, Ilumina, Estou Pensando em Deus, Utopia, Tua palavra, Senhor, Mãe do Céu Morena, Um Coração para Amar, Quando Jesus Passar, Cidadão do Infinito, Nova Geração, Minha Vida Tem Sentido, Daqui do Meu Lugar, De Lá do Interior, Palavra de Salvação e Glória a Deus na Imensidão.),
a música que mais gostava de cantar era: Amar como Jesus amou, letra que até hoje é para mim uma receita simples de felicidade.
Mas o tempo é implacável e uma mudança brusca ocorre no cenário da igreja católica, que se viu perdendo cada vez mais jovens, que migravam aos montes para o universo pop gospel. E nasce uma estrela: Pe Marcelo Rossi,
(Marcelo Mendonça Rossi (
São Paulo, 20 de maio de 1967) é um sacerdote católico brasileiro, ex-professor de Educação Física, que tornou-se um fenômeno de mídia e cultura de massas no final dos anos 90. Ficou muito conhecido pela forma como adota danças e coreografias típicas da Renovação Carismática Católica (RCC) e pela publicidade dos trabalhos (CDs, DVDs, cinema e televisão).
Para mim a maior tristeza foi o esquecimento da mensagem: “Erguer as mãos com alegria, mas repartir também o pão com alegria...”, mas fazer o que, meu tempo já era estava contado nas bandas romanas, afinal sou uma ex católica e saí da mesma por convicções teológicas, optei pela Palavra antes de tudo.
A liturgia não foi o maior estranhamento na minha mente que já estava bastante confusa com toda a mudança que aconteceu na minha vida. O que mais estranhei foram os cânticos: a temática da época da minha conversão era Vitória, Fogo e Poder, pensava com meus botões: eu devo não estar entendendo direito, mas um dia aprendo.
Mas eu não aprendi, conheci outros ministérios de louvor e aos poucos as coisas foram se encaixando na minha cabeça. Lembra daqueles comerciais das facas guinso? É mais ou menos assim, “mas não é só isso, e ainda tem mais”: Não é que comecei a perceber umas músicas estranhas demais e isso começou a causar uma indignação em mim que já não dá mais para eu me calar. Chego a perguntar como é que você que é cristão protestante há mais tempo deixou isso acontecer?
A música da teologia...
Da prosperidade!
Vamos ver alguns exemplos de como Deus era louvado nas igrejas e como Ele foi diminuído ao valor monetário.
Na música A Olhos Nus – Grupo Logos, Deus é visto como o Criador de todas as coisas, Ele é Deus e Senhor:
A olhos nus
Grupo Logos
Composição: Paulo Cezar / Paulo Cezar e Clóvis Lardo
Olhar para os verdes campos...
Matizes na imensidão.
Um quadro tal qual pintura
Que grava em meu coração
Vontade de tua graça cantar.
As águas cortando a terra...
Os rios a viajar...
Dos montes descendo os vales
Buscando o grande mar
Me inspiram de Tua graça cantar.
O sol que me faz contar
Os dia que vou viver
Que enxuga a terra
E planta faz crescer...
Que brilha com sua luz
Que aquece com seu calor...
Figura do grande amor de Jesus.
No ninho o aconchego.
No espaço o seu quintal.
Nas penas a sua roupa...
No canto o seu prazer...
No vôo a liberdade pra viver.
A chuva que rega a terra
E voltas ao seu lugar...
No céu pinta uma aquarela
Um arco a declarar...
A aliança que vem a terra abençoar.
A lua com seu fulgor
E estrelas tal como véu
Morando no grande céuque Deus criou...
Na noite espalhando aluz...
Poemas a olhos nus
Mostrando a beleza
E a glória do Senhor.
E aqui assistindo a tudo
Sou visto também por Deus...
Seus olhos cercam o mundo
Guardando os que são seus...
Por isso, sua graça quero anunciar.
e enquanto aqui viver
Meus versos vão descrever
O que esses olhos podem contemplar.
E amar tudo que Deus fez...
Ser grato por ser assim...
Criado pra Sua glória até o fim.

Vamos ver agora outra música que tocou muito nas rádios:
Toda Sorte de Bênçãos
Toque no Altar
Composição: Davi Sacer, Verônoca Sacer e Ronald Fonseca
Pôr onde eu for a tua bênção me seguirá
Onde eu colocar as minhas mãos prosperará
A minha entrada e a minha saída bendita será
Pois sobre mim há uma promessa
Prosperarei, transbordarei
Os meus celeiros fartamente se encherão
A minha casa terá sempre tua provisão
Onde eu puser a planta dos meus pés
Possuirei
Pois sobre mim há uma promessa
Prosperarei, transbordarei
Para direita, para esquerda
A minha frente
E para trás
Por todo lado, sou abençoado
Em tudo o que eu faço
Sou abençoado
Toda sorte de bençãos
O Senhor preparou para mim
E em todas as coisas
Eu sou mais do que vencedor
Não sei se sou apenas eu, ou tem mais gente estranhando essas músicas, mas de uma coisa estou certa: Deus não deve ser louvado apenas pela benção material, aliás esse deveria ser o último motivo de louvor de um cristão. O primeiro motivo já temos: A Salvação por meio do sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário.Se por um lado quando criança era instruída a lutar apenas contra a desigualdade social, esquecendo que Jesus veio não só para os pobres de casa e carro, mas principalmente para os pobres de espírito, por outro lado ouço por todos os lados músicas que falam em reinar em vida, sim “Reinar em Vida”.
Reinar em vida
Toque no Altar
Milagres escondidos Descobri
Sucesso em pleno vale
Eu prevaleci
Quando não se esperava
O Senhor me ergueu
Quem não acreditava
Ouvirá o meu louvor
Eu só preciso acreditar
Chegou minha vez de celebrar
Reinar em vida eu vou
Eu verei a minha casa
Festejando o melhor!

Jesus agora não é mais retratado como Senhor e Salvador do homem pobre e miserável, morto em seus pecados, agora Jesus é uma espécie de Silvio Santos, misturado com Gênio da lâmpada mágica. Você compra o carnê, (entenda oferta para o homem de deus) e é só aguardar o “abrir as portas da esperança”, ah, não veio o que você sonhava? Sua fé não foi forte o bastante, mas tem sempre outro homem de deus que pagou o preço por você, e com apenas mais uma oferta de fé você ganha a lâmpada mágica que lhe dará o direito a três pedidos: casa, carro e empresa – seja seu próprio patrão. Reine em vida.
Será então esse um dos motivos de tanto desapontamento em nosso meio, um rodízio sem fim de pessoas, que vão andando como em procissões intermináveis, pagando seus “votos” para os mercadores da fé.

5 comentários:

Anônimo disse...

Vc é uma idiota tem certeza que conhece a palavra?

Thayssa - PAV disse...

Desculpe, Anônimo, mas idiota é quem fecha os olhos para a secularização da igreja. Nem é preciso conhecer a palavra para saber que os rumos tomados pela igreja evangélica brasileira são os piores possíveis, uma vez q se afasta cada vez mais do ideal da igreja primitiva, em que as pessoas eram totalmente desprendidas e viviam em harmonia umas com as outras. Salvo algumas exceções, o q reina nas igrejas agora é o lema "cada um por si e Deus por todos", q não raro vem acompanhado de intolerância, inveja e fofoca. Sinto saudades da época de minha conversão (há exatos 10 anos atrás), em que eu ainda via as pessoas indo ao púlpito para receber Jesus, e não apenas as bençãos provenientes dele.

Meire disse...

Caro Sr. Anônimo,
Eu sei que não sou uma idiota, pois como você pode observar não me enquadro em seu significado que segue abaixo:
1. • adj+s m+f (lat idiota) Falto de inteligência.
2. Estúpido, parvo, pateta.
3. Ignorante.
4. Med Doente de idiotia.
5. Psicol Pessoa com nível mental a um quinto, ou menos, do nível normal do grupo de idade cronológica a que pertence.

Mas, francamente me pergunto o que você quis dizer, onde você discorda, ou qual o seu medo em se identificar?
Por favor, retorne e compartilhe do seu conhecimento bíblico, teológico e filosófico comigo e os leitores do blog.

Meire disse...

Thayssa - PAV
Obrigado pelo incentivo, eu realmente não estava com paciência para responder um comentário anônimo que quis apenas ofender.
Saí do catolicismo romano há 6 anos, já peguei as coisas esquisitas no arraial gospel.
Beijos e volte sempre pra contribuir com seus comentários.

Patrick Denucci disse...

Também é preciso comentar, que o que acaba contando não é apenas o fato de que as músicas "evangélicas" de hoje sejam teologicamente fracas. São elas também musicalmente muito ruins. Na minha opinião, o talento musical vem de Deus, e expresa a natureza infinitamente criativa de Deus (relacione todas as músicas que o homem compôs "deste os primódios até hoje em dia" e veja se tem alguma igual). Hoje, fazer música "evangélica" é um grande negócio, e eu já estou cansado de ouvir que crente só pode ouvir música evangélica, o que é coerente, pois os músicos "evangélicos" precisam garantir seu ganha-pão. Para esses digo: não vou perder meu tempo ouvindo suas músicas, elas não acrescentam nada para a minha vida, não são capazes sequer de me oferecer entretenimento de qualidade.