sábado, outubro 02, 2010

LIMITES ESTREITOS DA ÉTICA EVANGÉLICA BRASILEIRA

De igual modo, muitos dos nossos pastores terão que, antes de denunciar os pecados dos de fora, aprender a se desfazer das jóias de ouro que ostentam, dos ternos caríssimos que exibem, dos carros luxuosos que dirigem e padrão de vida endossado por uma teologia que, só serve para justificar a riqueza dos profetas de causa própria, enquanto uma massa de crentes é mantida no padrão social mais baixo do país. Igualmente, convém proclamar, que envergonham os céus, campanhas para levantamento de ofertas que fazem tropeçar todo e qualquer brasileiro que tem cérebro, uma vez que apelam para a ignorância e crendice, num contexto de total falta de transparência da administração financeira das contas de suas instituições.

Há certos temas que são recorrentes na maior parte dos púlpitos brasileiros. Percebe-se a igreja, por exemplo, bastante preocupada com a pedofilia, a lei da homofobia, o aborto, a pornografia, o divórcio. Por motivo de integridade intelectual, não se pode crer no Novo Testamento e menosprezar esses assuntos. A liberdade de expressão, os direitos da criança, a santidade da vida humana, a pureza sexual e a importância do matrimônio são valores inegociáveis do cristianismo. Teme-se que -se essas iniquidades não forem combatidas pela igreja-, Deus julgará o seu povo.
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Temos motivos, de fato, para nos preocupar. Porém, muito mais amplos do que o que inquieta a maior parte da igreja. Por que? Porque essas não são as únicas transgressões que a Bíblia denuncia e condena. Há iniquidades, tão graves quanto as supramencionadas -que passam despercebidas por aqueles cujos nomes constam no rol de membros das igrejas brasileiras-, e presentes de modo histórico, disseminado e crônico no Brasil. 

Não se menciona nos nossos púlpitos a desigualdade social, o homicídio, as péssimas condições de moradia do pobre, a superlotação dos presídios, os salários baixos, a fome, a condição precária dos nossos hospitais, a falta de acesso a educação de qualidade. Como pensar que seremos julgados por Deus pela prática daqueles pecados e não destes? O fato de uns estarem em vias de ser institucionalizados e outros não, não faz diferença, pois jamais houve o caso de um povo ser justificado diante de Deus pela beleza da sua legislação. A lei sem obras é morta.

Tem que ser igualmente enfatizado que -o juízo de Deus começa pela sua casa. O que falar dos que dizem representar os interesses da igreja nas assembléias legislativas estaduais e Congresso Nacional, eleitos com o voto do crente, em campanhas realizadas no horário do culto a Deus? Alguns são reputados como os mais reacionários, vaidosos, alienados, corruptos que se tem notícia. Como deixar de fazer menção das igrejas que lavam dinheiro? Como não mencionar os pastores que deixam suas congregações se transformarem em currais eleitorais de canalhas, em troca de concessão de rádio, aparelhagem de som, legalização de propriedade e tijolo para construir templo? 

Não podemos deixar de deplorar as grandes mobilizações -marchas ufanistas-, capazes de levar milhares para as ruas, para nada, absolutamente nada. Pessoas são assassinadas aos milhares nas cidades brasileiras, dinheiro público escoa pelo bueiro da corrupção, metade da população habita em bairros sem rede de esgoto, e a igreja se reúne em número incontável, nas principais cidades do Brasil, sem anunciar que está indo para as ruas a fim de combater essas provocações à santidade de Deus. Qual o motivo de uma passeata pelos direitos e garantias fundamentais do povo brasileiro jamais ter sido realizada pela igreja? A preocupação com a vida, no seu sentido mais amplo, não está presente nos corações dos seus membros, uma vez que estes encontram-se completamente alheios à obscenidade da violação dos direitos humanos, muitas vezes perpetrada pelo próprio Estado.
Deixaremos de denunciar as nossas instituições de ensino teológico, muitas das quais, ensinam o exato oposto proclamado pelas Escrituras Sagradas, sem ter quem faça oposição? 

De igual modo, muitos dos nossos pastores terão que, antes de denunciar os pecados dos de fora, aprender a se desfazer das jóias de ouro que ostentam, dos ternos caríssimos que exibem, dos carros luxuosos que dirigem e padrão de vida endossado por uma teologia que, só serve para justificar a riqueza dos profetas de causa própria, enquanto uma massa de crentes é mantida no padrão social mais baixo do país. Igualmente, convém proclamar, que envergonham os céus, campanhas para levantamento de ofertas que fazem tropeçar todo e qualquer brasileiro que tem cérebro, uma vez que apelam para a ignorância e crendice, num contexto de total falta de transparência da administração financeira das contas de suas instituições.

As afrontas a Deus em nossa nação e na igreja são mais amplas e sérias do que pensamos. Temos provocado a Deus. Por isso, o desrespeito da população brasileira pela igreja, o desprezo pela função do pastor, a falta de interesse dos meios de comunicação pelo que essa igreja pensa. Perdemos a credibilidade. Setores inteiros da nossa sociedade não conseguem se imaginar presentes em cultos barulhentos, onde não se fala coisa com coisa e dirigidos por homens de vida dúbia.

As maiores ofensas a Deus que ocorrem na nossa nação, só serão combatidas pela igreja, quando esta deixar de agir de modo espasmódico, ingênuo, estreito, superficial. Esses batalhas não se vencem sem evangelização que prega arrependimento para com Deus e fé em Jesus Cristo, oração, protesto nas ruas, busca de informação, pressão sobre as três esferas de poder da república, entre outras ações mais, tão ausentes da praxis das igrejas do nosso país. Somos protestantes. Atrás de nós, há uma legião de homens e mulheres que, por crerem no que creram, protestaram. 

Enquanto nossa mensagem for determinada por uma pregação estranha às reais demandas morais e espirituais do Brasil, carente de relevância, pobre de pertinência histórica, falta de discernimento dos tempos e privada de fidelidade às Escrituras, continuaremos a deixar de pregar sobre aquilo que tão extensamente encontramos nos textos proféticos da Bíblia, e que seria proclamado com clareza, paixão e ousadia por qualquer profeta do passado que estivesse em nosso lugar -homens que costumavam ser valentes não apenas dentro do templo-, mas nos locais onde a verdade referente às demandas do direito e da justiça tinham que fluir como um grande e caudaloso rio.

Ministro do evangelho e presidente do movimento Rio de Paz

2 comentários:

Alberto Couto Filho disse...

Olá Meire,
Disse que vinha; vim e, satisfeito com o que vi, fiquei por aqui e já estou integrando o rol dos seguidores do teu magnífico espaço.
O insigne pastor Antonio Carlos já deve ter percebido que a “Ética Evangélica Brasileira”, no concernente aos insidiosos teólogos da prosperidade, está em desuso já que foi extinta pelos seus atuais profetas.
Beleza de postagem, tamanha a lucidez, a postura e a contemplação observadas na mensagem.
Gosto muito de tudo isso e convido-os a conhecer o Banco Renfã SA , administrado por renomados rufiões da prosperidade e as coisas sérias e verdadeiras, integralmente respaldadas pelas Escrituras, que relato na mensagem ‘MACACO OLHA O TEU RABO”.
Vocês devem gostar muito, pelo comentário que fizeram no Blog da Nani, sobre esta nova jogada do pastor mutante Silas Malacheia, como já é tratado na blogosfera apologética.
Eu estou à espera dos irmãos em http://albertocoutofilho.blogspot.com/
Seu conservo em Cristo
Alberto Couto Filho

Claudio Solon disse...

Sempre existiu fome e carência de fé no povo de Deus, desde sempre e por exemplo na travessia do deserto, enquanto Moisés fora buscar a tábuas da lei e ao voltar percebeu um povo idólatra e disperso. Carência de que? De certezas. É duro crer num Deus invisível. Mais fácil é crer no bezerro de ouro.

A carência de tempos atrás, permanece entre nós e continua a refletir na nossa necessidade de materializar as coisas, na religião e nos seus bezerros de ouro.

Muitos de nós, incautamente dançamos em torno desse bezerro, fazemos nossas preces, damos nossa contribuição, nossa oferta e fazemos muito mais do que seria precavido fazermos, tudo em nome do que? Da prosperidade.

A relação de troca, você dá a Deus e Deus te devolve. Esta relação comercial injeta ânimo ao cristão, mas não dá garantia, por isto a igreja avisa: se você não chegar lá, não é porque Deus não quer, mas porque você é preguiçoso ou porque você não tem fé.

Funciona para muitos, porque as atitudes positivas e confiantes funcionam. Funcionariam também para o não crente. Seria até mais barato. Funciona para quem puder acessar esta força interna que impele a ir mais longe.

Assim, o discurso da prosperidade é apenas mais um truque das igrejas para se manterem importantes e necessárias no imaginário das pessoas, incutindo silenciosamente, quando necessário, o medo e a culpa e remindo através das grandes subvenções e concedendo a prosperidade àqueles que aceitam transicionar neste rico banco da fé.

Peço a Deus que nos dê sabedoria para vermos e sentirmos, mais longe que a espessa névoa das religiões nos permite, mais forte como se Deus, de fato, pudesse habitar em nós e estar sempre presente e nos fazer pleno e cheio do espírito, o que enfim nos deixaria plenamente satisfeitos de sua presença e da total completude de seu amor.