Evangelizar e/ou educar?
Esta pergunta aparentemente  ingênua é, na verdade, um divisor de águas ou um motivo de divisão entre  as pessoas que professam a fé metodista. Isto porque existe a  compreensão de que a missão da Igreja é evangelizar as pessoas e a  compreensão de que a missão, para ser integral deve agregar, além da  evangelização, a educação. Os metodistas primitivos entenderam que não  dava para separar a evangelização da educação e a educação da  evangelização, pois uma contribui ou complementa a outra para o  cumprimento pleno da missão.
Evangelizar tem como objetivo a vida. Educar também. Evangelizar  é apresentar o Evangelho para que as pessoas e a sociedade recebam uma  vida nova e a vivam na perspectiva dos valores do Evangelho. Educar é  transmitir valores que valorizam a vida e a vivência em sociedade.  Evangelizar e educar tem a vida como seu objetivo maior. Quando se  evangeliza se educa e quando se educa se evangeliza, pois ambas focam a  vida, pois são ações confessionais.
A missão na perspectiva dos  metodistas caracteriza-se pela paixão evangelística, pela proclamação  das boas novas do Evangelho, pela misericórdia e solidariedade, pelo  desenvolvimento de um processo que ofereça às pessoas e sociedade uma  compreensão da vida comprometida com uma prática de libertação e de  valorização da pessoa, pelo questionamento dos sistemas que produzem a  opressão, a violência e a morte, pelo confronto da realidade com a  presença histórica do Reino de Deus e pelo desenvolvimento de uma  consciência crítica da realidade e que produza transformação da pessoa e  da sociedade.
Desta forma, a evangelização é definida em termos de “encarnar o amor divino nas  formas mais diversas da realidade humana para que Jesus Cristo seja  confessado como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador. A  evangelização sinaliza e comunica o amor de Deus na vida humana e na  sociedade através da adoração, proclamação, testemunho e serviço”. Isto é anúncio e  educação.
Já a  educação é definida como: “processo que visa oferecer à pessoa e comunidade,  uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida coma uma prática  libertadora, recriando a vida e a sociedade, segundo o modelo de Jesus  Cristo, e questionando os sistemas de dominação e morte, à luz do Reino  de Deus”. Isto  é educação e anúncio.
Separar a evangelização da educação ou a educação da  evangelização é fragmentar a missão da Igreja.
Se focarmos o ministério de Cristo, veremos que o amor está  presente na sua vida e no seu ministério, como sinalização para a vida e  ministério da Igreja. Ele veio ao encontro do ser humano porque Deus  amou o mundo de tal maneira que enviou seu filho para salvar a todos (Jo  3.16). Quando questionado pelos líderes religiosos, Jesus declara que o  amor é o primeiro mandamento de Deus e resume todo o ensinamento da lei  e dos profetas (Mt 22.34-40).
O  amor está presente também no processo da educação como um caminho  libertador. O educador Paulo Freire declara que (FREIRE, Paulo. Educação  e Mudança. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2007, p. 29)
“não há educação sem  amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os  seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta como não há  amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita. Não  há educação do medo. Nada se pode temer da educação quando se ama”.
Não se trata de um amor platônico, romantizado, intimista ou  individualizado, mas sim de um compromisso com a vida integral que tem a  libertação, a transformação e a conscientização como elementos  fundantes. O amor aproxima as pessoas e promove o diálogo e a interação.  Nesta relação as pessoas vão se constituindo seres que se tornam plenos  na luta e na transformação da sociedade. Assim, evangelizar e educar  são imperativos que acompanham estas duas ações da Igreja.
As Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista também  enfatizam o tema do amor e o fazem em termos de atos que quebram as  cadeias da opressão, do pecado e de toda sorte de injustiças, superando o  egoísmo e promovendo a vida em comunidade que se manifesta no serviço  ao próximo (DIRETRIZES, 1996). Assim, o amor é também uma prática  educativa que promove o bem estar e a integração de todas as pessoas.  Ele compromete o educador e o educando com a vida.
Portanto, evangelizar e  educar são caminhos do amor libertador, pois ele sustenta a  evangelização e a educação. A sociedade precisa experimentar a cura do  amor, nos relacionamentos, na família, nas convivências, nos debates e  embates que a vida impõe para todos. A Igreja também precisa vivenciar  este amor transformador e libertador, para que as pessoas da igreja  sejam agentes de transformação na sociedade e a igreja não se constitua  num clube de iguais e sim numa comunidade onde os diferentes encontram o  pastoreio na comunhão e na dignidade que o amor de Cristo oferece.
Evangelizar e educar sem  amor é o mesmo que “malhar com ferro frio”. Fica o desafio para que  encontremos o equilíbrio entre estas duas ações que dão plenitude à  missão da Igreja.
Bispo  Josué Adam Lazier
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