Sempre achava estranho quando o Alan    respondia minhas perguntas intrigantes com outras mais intrigantes  ainda. A princípio achava que isso era mesmo coisa de filósofo. Porém,  convivendo com meu amigo, percebi sua ojeriza pela resposta pronta e  entendi o porquê. A resposta cessa a beleza do descobrir, da  possibilidade, dessa força que nos impulsiona em busca de respostas. Um  paradoxo maravilhoso que nos liberta mais e mais a cada dia. 
 Contudo, a palavra "mistério" tem se tornado uma obsessão na vida de  alguns crentes. Quanto mais "enrolado for o rôlo", quanto menos se  entender e, às vezes, quanto mais estranho for o negócio, mais crentes  são atraídos para as coisas encobertas. Aliás, "as coisas encobertas são  para Deus" (Dt. 29.29) tornou-se a frase genérica que finaliza qualquer  discussão - uma paulada na cabeça de qualquer aspirante a pensador. 
 "Eis que entrarei no seu plá plá plá... e vou fazer um reboliço no seu  prô prô prô...".  
 Bom, além de não me informar absolutamente nada, essa frase ainda tem  uma conotação péssima! (rs) Ela não é invenção minha, confesso. Escuto  essa piada desde que era menino. Mas a verdade é que existe um grupo de  pessoas que não tem a menor paciência para conviver com Deus e ir, aos  poucos, descobrindo a revelação de seus mistérios. Mas antes que meus  "amigos do manto" me crucifiquem, quero trazer à memória algumas vezes  que o Senhor falou comigo no meio do fogo (rs). 
 Eu era um adolescente que acabara de ganhar a oportunidade de trabalhar  pela primeira vez. O profeta, usado poderosamente por Deus, me dissera  de forma muito clara que eu teria uma sala, um computador e uma mesa.  Minha fé, que na época ainda vivia de fraldas, não suportou tamanha  revelação. "Um office-boy com tudo isso? Sei..." Para minha surpresa,  alguns meses depois eu já tinha tudo o que o "homi-di-Deus" tinha visto.  Cerca de dois anos depois e eu era Administrador de Redes. Foi quando  outra profeta disse que eu deveria preparar as malas, pois faria uma  viagem. Ela ainda disse que via um grande número 3 na minha frente.  Alguns meses depois e eu fazia minha primeira viagem de negócios,  embarcando no portão 3. Pra resumir, foi assim com a viagem  internacional, o sequestro e tantas outras vezes que meu coração  necessitou de alívio, minha alma de paz e minha mente de um  direcionamento.  
 Porém, percebi que conforme fui crescendo, estudando a Palavra e tendo  minhas próprias experiências com Deus, as manifestações proféticas  ficaram cada vez mais escassas. Entendo que quando eu era menino,  precisava de leite (I Co. 13.11). E eis aí o cerne do problema de muitos  cristãos. 
 Por vivermos o "fast-food da fé, onde tudo já vem pronto, mastigado"  (Alan Brizotti), não temos mais paciência de cultivar uma verdadeira  amizade com Deus. O Senhor Jesus disse que se fizéssemos Sua vontade,  seríamos Seus amigos (Jo. 15.14). Nos esquecemos, porém, que mesmo uma  amizade genuína é marcada algumas vezes por desentendimentos,  frustrações, distanciamentos e até mesmo segredos não revelados. É aqui  onde percebo a beleza da amizade com Deus.  
 Quando o Senhor apareceu a Jó, não lhe deu explicações sobre sua  desgraça repentina, muito menos revelou Seus mistérios mais profundos.  
 Não obstante, Jó se levanta das cinzas dizendo: "Meus ouvidos já tinham  ouvido a Teu respeito, mas agora os meus olhos te viram" (Jó. 42.5). 
 Sinceramente? Alguns dias tenho vontade de gritar da janela da sala  (onde costumo falar com Deus pelas madrugadas) e dizer-lhe que estou  farto de tanto mistério! Que a minha vida não faz o menor sentido.  Outros dias, porém, e esses são mais frequentes (graças a Deus),  digo-lhe com satisfação que embora não O entenda, continuo fascinado por  Sua forma de trabalhar.  
 Não, amigo leitor, eu não tive respostas às minhas perguntas mais  intrigantes.  
 Também não tive nenhuma visão a cerca do meu ministério. Deus não me deu  sonhos. Faz tempo que não ouço uma profecia. Já faz tempo que o  mistério não é revelado. Porém, minha busca por Deus está cada vez mais  emocionante. Sinto que quando abro uma porta desconhecida de minha fé,  surgem novos questionamentos, mais trabalho pela frente, mais estudo da  Palavra... E glória a Deus por isso! 
 Conselho de amigo - não busque respostas às suas perguntas. Respostas  encerram histórias. Tal como aquele alpinista que chega ao topo do monte  mais desafiador e ao fincar ali sua bandeira, grita: "Uhuuu...  consegui!" - olha pra um lado, olha pra outro, respira fundo... a  adrenalina acaba, ele tira a bandeira e volta pra casa. Com Deus, nunca  chegarei ao pico. Ele sempre me levará cada vez mais alto. E mesmo que  cada vez mais me falte o ar, tenho uma certeza: estou no caminho certo! 
 Um abraço sem mistério, 
L. Rogério Autor do livro "Adoração para Anônimos" (Editora Reflexão), L. Rogério tem ministrado nas áreas de adoração, apologética, liderança, família, entre outras. Seu ministério consiste em encorajar a igreja a um relacionamento íntimo e autêntico com Deus. Casado com Dany Miranda, que faz parte ativamente de seu ministério, já ministrou em diversas igrejas no Brasil e nos Estados Unidos. É fundador do projeto "Escola de Adoração" em SP que reúne todos os anos diversos músicos, cantores e palestrantes comprometidos com o Reino.
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