quinta-feira, março 11, 2010

Cartas de uma vida

Cartas de uma vida


Lembro-me de quando era adolescente e escrevia um diário, onde relatava os acontecimentos do meu quotidiano. Uma das minhas actividades favoritas era chegar a casa, pegar no meu diário que estava escondido algures pela minha casa (habitualmente no meu quarto) e escravinhar tudo aquilo que me tinha trazido alegria e paz, mas também sofrimento, tristeza, confusão e dúvida. Inventei uma amiga imaginária à qual dirigia todas as minhas cartas. Para mim escrever era como um bálsamo. Trazia alívio e segurança à minha alma. Nessa época, os diários que mais me influênciaram a escrever foram: "Diário de Anne Frank", "O Diário de Zlata" e como não podia deixar de ser, o diário da minha irmã mais nova, o qual eu me deleitava a ler às suas escondidas cada novidade do seu dia-a-dia.

O Diário de Anne Frank foi um dos livros que mais me marcou nessa época de adolescente, por ser um diário verídico onde a jovem autora judaica, relata o seu dia-a-dia como condenada a uma auto-reclusão, para tentar escapar dos alemães que haviam começado a deportar os judeus para os campos de concentração. Este livro já vendeu mais de 31 milhões de exemplares e é um dos livros mais lidos e discutidos por ter sido escrito durante a tomada do poder pelos nazis. Forozmente um anti-semita, toma toda uma série de medidas de perseguição aos judeus, que ao fim de algum tempo, levam os pais de Anne Frank a tomar a decisão de se esconderem num anexo. A jovem detida, acaba por morrer de tifo num campo de concentração em Bergen-Belsen em Agosto de 1944.

Deixo aqui um excerto do seu diário, escrito no dia 21 de Julho de 1944:
" Estou finalmente a ficar optimista [...] Houve um atentado contra Hitler e, para variar, não foi cometido por judeus comunistas ou por capitalistas ingleses, mas por um general alemão[...]Esta é a melhor prova que tivemos até agora de que muitos oficiais e generais estão fartos da guerra e gostariam de ver Hitler afundar-se num poço sem fundo[...]Não consigo evitar, a prespectiva de voltar para a escola em Outubro deixa-me demasiado feliz para conseguir ser lógica![...]"

Zlata Filipovic vive em Sarajevo e no seu diário escreve os reflexos da vida que a cerca, quando de repente a guerra rebenta:
"Hoje uns jornalistas italianos perguntaram-me o que eu pensava de "Sarajvo cidade aberta". Eu respondi-lhes qualquer coisa, mas de facto penso que os "queridos meninos" se divertem. Já não tenho confiança neles e estou farta de tudo. O que eu sei é que não há electrecidade, nem água, nem comida, que se continua a morrer, que já não temos velas, que o mercado negro e os crimes aumentam, que os dias são cada vez mais curtos e que em breve chegará a Sarajevo aquilo que todos tememos - o Inverno [...]".


Mais recentemente, um outro livro que marcou a minha vivência foi:"Queremos ambas viver em Jerusalém", sendo um compêndio de longas conversas, cartas e e-mails de duas jovens, Amal, uma palestiniana árabe e Odelina, uma israelita, ambas de dezassete anos. Apesar das contrariedades, surge uma amizade difícil. Cada uma tenta com que a outra compreenda a sua posição em relação ao quotidiano e ambas querem descobrir se poderão estar juntas num futuro em paz. Estes diários e cartas para além de edificarem a vida pessoal de cada uma destas pequenas e jovens escritoras, ao chegarem às nossas mãos, também contribuiram para que as nossas prespectivas em relação aos assuntos mencionados em cada um desses livros, também mudassem. Por isso, hoje venho desafiar a cada uma de vocês a escrever um diário, cartas ou simplesmente um e-mail, onde relatam as vossas aspirações como pessoas, sonhos, desejos, pensamentos. Actualmente já não escrevo nenhum diário mas por vezes escrevo uma ou outra carta dirigida ao meu Deus e Pai, onde expresso o meu amor, carinho e afecto pela Sua Presença.


No sabado passado, encontrei uma pena de gaivota na areia da praia, e começei a pensar como seria bom escrever pensamentos e meditações com tinta da china e uma pena. Torna uma carta mais pessoal, mais intima e ao mesmo tempo mais divertida. Recomendo a cada uma de vocês a escrever. Como Deus deve ficar maravilhado quando escrevemos uma carta dirigida a Ele! Mas é igualmente romântico escreveres para o teu companheiro ou se preferires, escreve algo para uma amiga, familiar ou até para ti mesma.


Numa carta, podemos expressar o que vai na nossa alma. 
Desabafar, organizar os nossos pensamentos, sonhos e desejos.

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