Ronaldo Lidório*
O pacto de Lausanne, oficializado em 1974 por líderes de 150 países, sintetizou a missão da Igreja dizendo que o propósito de Deus é oferecer o evangelho todo, por meio de toda a Igreja, a toda criatura, em todo o mundo.
Deixa, assim, bem claro que a missão de Deus é o mundo. O método de Deus é a Igreja. O tempo de Deus é hoje.
Na sua carta aos Romanos, capítulo 1, verso 16, Paulo expõe: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.
Temos frequentemente uma má compreensão bíblica sobre o que é o evangelho. No meio missionário ouvimos que o “evangelho está se expandindo”, que o “evangelho está crescendo”, que o “evangelho está sofrendo oposição”, pois compreendemos, de forma reducionista, que o evangelho é a Igreja, ou o próprio movimento missionário.
O apóstolo Paulo, porém, expõe que o evangelho não somos nós, mas sim Jesus Cristo. Aos Romanos ele inicia a carta falando da promessa do evangelho, e que Cristo é o cumprimento desta promessa. Jesus, portanto, é o evangelho. Usando cores fortes no verso 16 do capítulo 1 Paulo afirma que “não me envergonho do evangelho”, ou seja: “eu não me envergonho de Jesus”. Quando ele afirma que o evangelho “é o poder de Deus” ela deseja comunicar que “Jesus é o poder de Deus”. Quando ele categoricamente destaca que o evangelho é poderoso para “salvar a todo aquele que crê” refere-se a Cristo: Jesus é poderoso para salvar a todo aquele que crê.
Assim, se nos envergonharmos do evangelho, estamos nos envergonhando de Jesus. Se deixarmos de pregar o evangelho, deixamos de pregar a Jesus. Se não cremos no evangelho, não cremos em Jesus. Se questionamos o evangelho, não estamos questionando uma doutrina, um movimento ou a Igreja. Nós estamos questionando Jesus.
Há algumas implicações nesta verdade bíblica.
Em primeiro lugar o evangelho jamais será derrotado, pois o evangelho é Cristo. Sofrerá oposição, seus pregadores serão perseguidos, será caluniado e ignorado, mas jamais derrotado.
Em segundo lugar o evangelho não é o plano da Igreja para a salvação do mundo, mas o plano de Deus para a salvação da Igreja. O que valida a Igreja é o evangelho, não o contrário. A Igreja só é igreja se for evangélica – se seguir o evangelho.
Em terceiro lugar o evangelho não deve ser apenas compreendido e vivido, mas também proclamado. Ele se manifestou entre nós para ser pregado pelo povo de Deus. Paulo usa esta expressão diversas e diversas vezes. Aos Romanos ele diz que se esforça para pregar o evangelho (Rm 15.20). Aos Coríntios ele diz que não foi chamado para batizar, mas para pregar o evangelho (1Co 1.17). Diz também que pregar o evangelho é sua obrigação (1Co 9.16).
A pregação abundante do evangelho, portanto, não é aqui apenas o cumprimento de uma ordem ou uma estratégia missionária, mas o reconhecimento do poder de Deus.
Paulo está dizendo, por outro lado, que é possível haver dor ao pregar o evangelho. Que poderemos ser perseguidos e passar por constrangimento. Perante esta possibilidade ele brada: “Não me envergonho do evangelho…” porque o evangelho é Jesus.
O pastor Hernandes Dias Lopes diz que a obra missionária é imperativa, intransferível e inadiável. Ele tem razão. Diz também que a Igreja é a única que não ouve e obedece a voz de Deus.
Deus ordenou, e sua Palavra sempre foi obedecida. Ele disse ‘haja luz’ e houve luz. Falou ao mar e ele se abriu. Sua palavra foi obedecida por demônios que foram expulsos, enfermos que foram sarados, muralhas que caíram. Ele falou à tempestade e ela se acalmou.
Ele também ordenou a igreja: vá por todo o mundo anunciar Jesus a todas as nações. Após 2.000 anos de Cristianismo Jesus ainda permanece desconhecido por boa parte do planeta, mais de 3.500 línguas faladas por 2 bilhões de pessoas não o conhecem. Será a Igreja, entre todos, a única a desobedecer ao comando do Senhor?
* Ronaldo Lidório é missionário das missões AMEM (A Missão de Evangelização Mundial) e APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais) e atualmente trabalha no Amazonas. É doutor em antropologia e está envolvido com o desenvolvimento sustentável em projetos sociais. É organizador de A Questão Indígena e Indígenas do Brasil, ambos da Editora Ultimato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário