quarta-feira, março 17, 2010

O velho homem é uma roupa…

O velho homem é uma roupa. É uma roupa velha e encardida, rota pelo uso e que apesar de cobrir a vergonha, de tão velha e fora de moda, já não se pode usar [1]. Estar vestido do velho homem significa estar vestido desta roupa de justiça própria, revestido de uma religião piegas, que apesar de ter alguma aparência de santidade, não pode combater a carne [2], e está fadada ao fracasso.
Permanecer vestido de velho homem é estar ainda buscando subterfúgios que possam esconder a nossa vergonha e escândalo [3]. É ancorar-se no Sinai e fechar os olhos para a teofania do Monte Tabor. É ainda a rejeição voluntária e obstinada das vestes mais excelentes, fruto do sacrifício propiciado pelo próprio Deus [4].
Eu não quero essa roupa velha! Cansei desta túnica mosaica de milênios atrás. As folhas de figueira perecem, murcham com o tempo, e minha vergonha permanece lá. Portanto, já não encobrirei minhas transgressões, nem me esconderei em uma capa rota de justiça morta; pano imundo do qual se vestem os hipócritas dissimulando que tudo está bem. Reconheço-me tal como sou: Nascido em pecado, e a menos que haja um milagre em mim, eternamente pecador.
Vestir-se do novo homem é reconhecer-se ainda nu. Sem obras, sem dons e sem justiça. Aceito-me ridículo e errante, e clamo a Deus por perdão. E Ele, conforme sua Palavra Eterna que não pode mentir, me cobre de uma justiça verdadeira, e confere a mim – o maior dos pecadores – uma santidade posicional e perfeita [5].
O novo homem é uma nova criação. Ele descansou, mas não para sempre. Sim, “o pai trabalha até agora” [6], transformando pecadores em santos, e em escala industrial!
Nasci nu. E meus pais, a sociedade e a religião me ensinaram a cobrir minhas transgressões, dando sempre a aparência de ser perfeito e politicamente correto. Hoje, desnudo-me ante Ti com reverência e temor, mas com a confiança filial de que não deixarás meu corpo exposto ao relento. Tal como Adão no Éden, hei de ser coberto e protegido no teu sacrifício.
Obrigado, Senhor, por permitir-me acercar nu à tua presença, encontrando em ti a minha justificação. Jamais estive tão santo! Jamais me conheci tão pecador!
Oh, mistério da graça… Maior (bem maior!) que o meu pecar!
Notas:
1. Efésios 4.22, Cl 3.9; 2. Cl 2.22; 3. Gn 3.7; 4. Gn 3.21; 5. Ef 4.24; 6. Jo 5.17
À Karl Barth, (herege) por meio do qual conheci a graça dialética e o paradoxo da fé.

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