domingo, abril 25, 2010

O MOVIMENTO PENTECOSTAL: REFLEXÕES A PROPÓSITO DO SEU PRIMEIRO CENTENÁRIO

O MOVIMENTO PENTECOSTAL: REFLEXÕES A PROPÓSITO DO SEU PRIMEIRO CENTENÁRIO

por: Alderi Souza de Matos

Introdução
O moderno movimento pentecostal é considerado por muitos estudiosos o fenômeno mais revolucionário da história do cristianismo no século 20, e talvez um dos mais marcantes de toda a história da igreja. Em relativamente poucas décadas, as igrejas pentecostais reuniram uma imensa quantidade de pessoas em praticamente todos os continentes, totalizando hoje, segundo cálculos de especialistas, cerca de meio bilhão de adeptos ao redor do mundo. Mais do que isso, o pentecostalismo acarretou mudanças profundas no panorama cristão, rompendo com uma série de padrões que caracterizavam as igrejas protestantes há alguns séculos e propondo reinterpretações muitas vezes bastante radicais da teologia, do culto e da experiência religiosa. Exatamente agora, sem que muitos se dêem conta – inclusive muitos pentecostais – esse vasto e influente movimento está completando um século. Rigorosamente falando, o pentecostalismo como um fenômeno distinto surgiu nos últimos anos do século 19 ou nos primeiros do século 20. Todavia, por algum tempo ele se manteve relativamente modesto e circunscrito às fronteiras dos Estados Unidos. Seu crescimento vertiginoso e sua difusão internacional ocorreram a partir do famoso Avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles, que teve início em abril de 1906.

No Brasil, a magnitude do pentecostalismo é evidente a todos os observadores. Há muitos anos esse segmento congrega a maioria dos protestantes. De acordo com o Censo de 2000, dos 26,2 milhões de evangélicos brasileiros, 17,7 milhões são pentecostais (67%).[1] O crescimento vertiginoso que o protestantismo nacional tem experimentado em décadas recentes reflete principalmente o que ocorre nas igrejas pentecostais. Por causa dos seus pressupostos explícitos ou implícitos, esse movimento tem uma notável capacidade de reinventar-se a cada geração, assumindo formas novas e inusitadas. Isso já ocorreu no passado e ocorre novamente agora com o neopentecostalismo, um fenômeno nitidamente brasileiro. Assim como está se tornando comum falar em protestantismos, também se faz cada vez mais necessário falar em pentecostalismos, tal a diversidade do movimento. Outro fenômeno digno de nota – alvissareiro para alguns e inquietante para outros – é a adoção da cosmovisão pentecostal nas igrejas históricas, quer a católica, quer as protestantes, através do chamado movimento carismático ou de renovação.

Por essas e outras razões, é oportuno fazer-se uma nova reflexão sobre esse tema já tão estudado. O enorme crescimento do pentecostalismo e o impacto que tem causado nas igrejas e na sociedade, particularmente no Brasil, tornam necessário um reexame da história e características, bem como das possibilidades e limitações, desse movimento que completa um século de trajetória histórica. A argumentação deste artigo obedecerá a seguinte seqüência: inicialmente será apresentado um panorama dos antecedentes do pentecostalismo e das origens históricas e teológicas desse movimento nos Estados Unidos; em seguida, se fará uma breve síntese da história, evolução e peculiaridades do pentecostalismo brasileiro; por fim, será feita uma avaliação dos problemas e contribuições do movimento, sugerindo-se como as igrejas reformadas devem relacionar-se com ele.

1. Antecedentes na história da igreja
Assim como ocorre em outras religiões, o cristianismo tem, ao longo da sua história, testemunhado muitas vezes em suas fileiras a ocorrência de manifestações de entusiasmo religioso, em especial os movimentos chamados carismáticos. O termo “entusiasmo” (do grego en = “em” e theós = “Deus”) aponta para situações em que as pessoas afirmam receber revelações diretas de Deus, muitas vezes acompanhadas de êxtases místicos, visões e outros fenômenos associados a uma experiência religiosa de grande fervor e intensidade. Por sua vez, a palavra “carismático” lembra os carismas ou dons espirituais mencionados no Novo Testamento, particularmente aqueles extraordinários ou espetaculares, tais como profecias, línguas estranhas, curas e milagres diversos.

O primeiro exemplo dessas manifestações pode ser constatado na igreja de Corinto, nos dias apostólicos. Ao contrário do que parece ter ocorrido nas outras igrejas ligadas aos apóstolos, havia entre os cristãos coríntios um grupo de pessoas com inclinações místicas, que alguns estudiosos denominam os “espirituais”, os quais valorizavam grandemente certas experiências e práticas religiosas, tais como profecias e línguas extáticas, e tinham a tendência de menosprezar os cristãos que não apresentavam as mesmas manifestações.[2] Embora o próprio apóstolo Paulo indique ter tido, ele mesmo, algumas experiências espirituais incomuns, ele se mostra discreto em relação a elas e insiste em não torná-las uma norma para todos os cristãos. Ao mesmo tempo, Paulo demonstra sua preocupação com os excessos e distorções freqüentemente associados a tais práticas, como se pode ver em 1 Coríntios 12–14.

O mais notório movimento carismático do cristianismo antigo foi o montanismo, surgido na Frigia, Ásia Menor, na parte posterior do 2° século (década de 170). Seu fundador, Montano, fez a alegação de ser o porta-voz do Espírito Santo que iria anunciar a volta de Cristo e a descida da Nova Jerusalém. Apelando para visões e profecias, ele e duas discípulas, Priscila e Maximila, exortaram os cristãos a se santificarem como preparação para o final dos tempos. A “Nova Profecia”, como o movimento se autodenominou, desprezou a “igreja católica”, com seus bispos, suas Escrituras e sua tradição nascente, alegando ter uma autoridade vinda diretamente do Espírito Santo. Excluídos da igreja majoritária, os montanistas organizaram-se separadamente, subsistindo por algum tempo. No final da vida, Tertuliano (c.160-c.225), um dos mais brilhantes e influentes teólogos cristãos dos primeiros séculos, nutriu simpatias por esse movimento. Sendo partidário de um cristianismo rigoroso e disciplinado, esse pai da igreja sentiu-se atraído pela moralidade ascética dos adeptos da Nova Profecia.

A experiência negativa com os montanistas e suas atitudes contestadoras fez com que a igreja desestimulasse fortemente as manifestações dos dons espirituais de natureza espetacular e miraculosa, principalmente quando tais dons colocavam em risco a autoridade da igreja e de seus líderes ou sua interpretação da Bíblia. Não obstante, ao longo dos séculos, a mentalidade entusiástica continuou a manifestar-se esporadicamente no seio do cristianismo, dando origem a grupos com diferentes graus de ortodoxia, como os cátaros, os begardos e beguinas, e o apocaliptismo de Joaquim de Fiore, no século 12. No século 16, os reformadores protestantes se defrontaram repetidamente com pessoas e grupos, principalmente anabatistas, que apelavam para revelações diretas de Deus e tendiam a relativizar a importância das Escrituras. Esses indivíduos receberam os epítetos de “entusiastas”, “libertinos”, “fanáticos” e “espiritualistas”, sendo objeto de alguns dos escritos mais contundentes de Lutero, Calvino e outros líderes.[3]

O fato é que o protestantismo, devido à sua insistência em direitos como o livre exame das Escrituras, o sacerdócio de todos os cristãos e a liberdade de expressão e associação, sem querer abriu um espaço para o surgimento dessas manifestações. Desde então, o entusiasmo religioso se tornou um fenômeno relativamente freqüente nas hostes protestantes. Alguns exemplos mais conhecidos foram os quacres ingleses (século 17), com sua ênfase na “luz interior”, os avivamentos dos séculos 18 e 19, tanto na Europa quanto na América do Norte, e o ministério de Edward Irving (século 19), um pastor presbiteriano escocês que trabalhou em Londres e é considerado o precursor do moderno movimento carismático.[4] Apesar dos seus problemas, esses movimentos com freqüência revelavam insatisfações legítimas com a igreja oficial e o desejo de uma espiritualidade mais profunda.

2. Raízes na tradição metodista
O movimento pentecostal surgiu no ambiente religioso altamente dinâmico e volátil dos Estados Unidos no século 19. O cenário religioso das colônias inglesas da América do Norte havia sido relativamente estável até meados do século 18. Todavia, com o passar do tempo as influências do pietismo alemão, do puritanismo e do movimento metodista se somaram para produzir mudanças. Nas décadas de 1730 e 1740, a ocorrência do Primeiro Grande Despertamento trouxe revitalização às igrejas protestantes, mas, ao mesmo tempo, produziu um tipo diferente de cristianismo, mais emocional, mais independente das antigas estruturas e tradições, mais desejoso de novas formas de experimentar o sagrado. Essas ênfases se intensificaram em muito com o surgimento do Segundo Grande Despertamento, ocorrido na região da fronteira oeste durante as primeiras décadas do século 19. Sob a influência de pregadores como Charles G. Finney (1792-1875), houve um progressivo questionamento da teologia reformada tradicional, com seu enfoque na soberania de Deus, e uma ênfase crescente na liberdade, iniciativa, capacidade de decisão e experiência pessoal, em sintonia com a nova cultura americana que então se consolidava.

Desde então, o avivalismo, ou seja, atividades voltadas para a promoção de uma vida espiritual mais intensa e fervorosa, se tornou uma característica permanente do cenário religioso norte-americano. Essa preocupação encontrou as suas expressões mais visíveis nos “camp meetings” (conferências de avivamento) das zonas rurais e nas grandes campanhas evangelísticas urbanas. Essa poderosa efervescência espiritual também resultou no surgimento de um sem número de novos movimentos religiosos, alguns dentro dos limites do protestantismo histórico e outros bastante distanciados do mesmo, como shakers, mórmons e testemunhas de Jeová.

Os estudiosos têm adotado diferentes abordagens na busca de compreender a gênese do pentecostalismo. Em um artigo recente, Leonildo Silveira Campos privilegia o enfoque sociológico, destacando como as peculiaridades culturais e as transformações sociais e econômicas dos Estados Unidos no século 19 contribuíram para a ocorrência do fenômeno.[5] Outros autores têm dado maior ênfase às matrizes teológicas do movimento, acentuando que, apesar de toda a sua especificidade, o pentecostalismo é fruto de desdobramentos doutrinários ocorridos durante quase um século no cenário protestante norte-americano.[6]

Apesar da possibilidade de influências como o puritanismo e o piestismo, a maioria dos autores considera que a origem básica do movimento pentecostal se encontra no metodismo wesleyano, e especificamente na doutrina mais característica de João Wesley: a “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, um conceito que ele também descrevia em termos de “a mente de Cristo”, “plena devoção a Deus” ou “amor a Deus e ao próximo”.  Wesley via essa experiência como um alvo a ser buscado ao longo da vida cristã, embora tenha hesitado em concluir se era fundamentalmente um processo ou um evento instantâneo. Um desdobramento significativo ocorreu através do seu sucessor designado, John Fletcher, que começou a descrever a plena santificação como um batismo do Espírito Santo em termos do Pentecoste do Novo Testamento. Ao apontar a diferença entre o seu entendimento e o de Wesley, ele disse o seguinte:

Vocês encontrarão as minhas idéias sobre essa questão nos sermões do Sr. Wesley sobre Perfeição Cristã e sobre o Cristianismo Bíblico, com a seguinte diferença: eu distinguiria mais precisamente entre o crente batizado com o poder pentecostal do Espírito Santo e o crente que, como os apóstolos após a ascensão de nosso Senhor, ainda não está revestido desse poder.[7]

Outra ênfase peculiar de Fletcher, novamente em contraste com Wesley, foi sua divisão da história em três dispensações: do Pai, do Filho e do Espírito Santo, esta última tendo iniciado no Pentecoste e se estendendo até a segunda vinda de Cristo. É significativo que essa perspectiva também passou a ser usada para descrever os estágios de desenvolvimento espiritual pelos quais cada indivíduo devia passar. Em suma, a orientação cristocêntrica, centrada na tradição bíblica paulina e joanina, que era característica de Wesley, passou a ter em Fletcher uma orientação pneumatocêntrica e lucana, com destaque especial ao livro de Atos dos Apóstolos. Todavia, a transição efetiva de uma cosmovisão para a outra somente iria se consumar no contexto norte-americano.[8]

Durante o Segundo Grande Despertamento (primeiras décadas do século 19), o metodismo experimentou um crescimento sem precedentes nos Estados Unidos, só igualado pelos batistas. Mais que a expansão numérica, as idéias e práticas metodistas se infiltraram em muitas outras denominações. Entre essas idéias e práticas podem ser citadas a pregação extemporânea com forte conteúdo emocional, os apelos insistentes seguidos de assistência espiritual aos convertidos ao término das reuniões, a participação de mulheres falando e orando em reuniões para ambos os sexos, e a forte ênfase na teologia arminiana. Em conseqüência disso, os historiadores falam da “arminianização da teologia americana” nesse período, com a resultante rejeição da teologia calvinista. Um dos expoentes dessa teologia foi o mencionado evangelista Charles Finney, de origem presbiteriana.

A partir da década de 1830, a crescente insistência na perfeição cristã resultou em uma cruzada ou avivamento da “santidade” (em inglês “holiness”), que teve como personagem central Phoebe Palmer, esposa de um médico de Nova York. Por muitos anos ela liderou reuniões semanais para a promoção da santidade, publicou um influente periódico e viajou extensamente como evangelista itinerante na América do Norte e na Europa. O tema da santidade saturou a literatura da época, sendo publicadas inúmeras obras sobre o assunto. No Oberlin College, em Ohio, onde Finney era professor de teologia, surgiu o chamado “perfeccionismo de Oberlin”, que dava forte destaque ao ativismo social. O avivamento de 1857-1858, considerado por alguns o Terceiro Grande Despertamento, difundiu de modo especial os ideais dos movimentos de santidade e de perfeição cristã. Desse modo, o contexto avivamentista norte-americano moldou o pensamento metodista em novas direções. Exemplo disso foi a tendência de resolver a tensão wesleyana entre crise e processo mediante uma crescente ênfase no caráter instantâneo da inteira santificação como uma “segunda obra da graça”. A santidade passou a ser vista como o pressuposto e não como o alvo da vida cristã.[9]

Um desdobramento significativo ocorreu quando, nas décadas posteriores à Guerra Civil (1861-1865), o discurso e a simbologia do Pentecoste neotestamentário começaram a dominar cada vez mais o movimento de santidade e suas igrejas. A santidade cristã começou mais e mais a ser entendida em termos do batismo com o Espírito Santo, sendo considerada uma “segunda bênção”, distinta da conversão. Ao mesmo tempo deu-se ênfase crescente ao Pentecoste como o arquétipo dos avivamentos e à importância de resgatar a vitalidade e o poder do cristianismo primitivo. Outros destaques foram as profecias, geralmente no sentido sobrenatural e extático, as curas e os milagres. A hinódia também foi afetada, tendo surgido vários “hinários pentecostais”.

Nessa época, muitas igrejas metodistas e de outras denominações que abraçaram o movimento “holiness” e sua teologia passaram a criar as suas próprias associações. A primeira foi a Associação Nacional Holiness, criada em 1867 em Vineland, Nova Jersey, e a maior delas a Associação Holiness de Iowa, de 1879. Com o passar do tempo, alguns líderes holiness passaram a falar no “batismo com o Espírito Santo e com fogo” como sendo uma terceira experiência na vida cristã, distinta tanto da conversão quanto da plena santificação. Nos últimos anos do século 19, surgiram as primeiras denominações do movimento de santidade: a Igreja de Deus em Cristo (1897), em Lexington, Mississipi, e a Igreja Pentecostal Holiness (1898), em Goldsboro, Carolina do Norte. Ao aproximar-se o século 20, todas essas correntes do movimento de santidade tinham em comum uma mentalidade, linguagem e simbologia “pentecostal”, valorizando altamente a experiência do batismo “com”, “do” ou “no” Espírito Santo narrada em Atos 2. Todavia, ainda faltava um último passo a ser dado nessa evolução doutrinária.

3. Primórdios do movimento pentecostal
No ano de 1900, um pregador metodista influenciado pelo movimento de santidade, Charles Fox Parham (1873-1929), criou um instituto bíblico na cidade de Topeka, Estado do Kansas, na região central dos Estados Unidos. Há cerca de dez anos ele vinha ensinando que a glossolalia – falar em línguas desconhecidas ou estrangeiras – devia acompanhar esse batismo no Espírito Santo tão popular nos círculos holiness. Por algum tempo, ele chegou a acreditar que os crentes receberiam o conhecimento sobrenatural de línguas terrenas para que pudessem rapidamente evangelizar o mundo antes da volta de Cristo. Já havia ocorrido a manifestação de línguas em anos anteriores nos Estados Unidos, assim como em outros períodos da história do cristianismo. A novidade na teologia de Parham é que ele foi o primeiro a considerar o “falar em línguas” como a evidência inicial do batismo no Espírito Santo. Foi essa característica que se tornou a marca distintiva do movimento pentecostal.

No dia 31 de dezembro de 1900, Parham e seus alunos realizaram um culto de vigília em seu instituto bíblico para aguardar a chegada do novo século. Uma evangelista de 30 anos, Agnes Ozman, pediu que lhe impusessem as mãos para que ela recebesse o Espírito Santo a fim de ser missionária no exterior. Ela falou em línguas, fenômeno esse que se repetiu nos dias seguintes com metade das pessoas da escola, inclusive Parham. Nos anos seguintes, Parham deu continuidade ao seu trabalho em várias partes dos Estados Unidos e no Canadá, atraindo milhares de seguidores. Nessa mesma época, ocorreu um movimento semelhante na Grã-Bretanha, que ficou conhecido como “o grande avivamento do País de Gales”. O avivamento galês despertou em muitos o desejo de que um episódio semelhante ocorresse novamente, multiplicando-se as reuniões de oração nesse sentido.[10]

O movimento de Parham recebeu diferentes nomes – fé apostólica, movimento pentecostal ou chuva tardia – todos os quais apontavam para características marcantes da nova cosmovisão. Uma das idéias centrais era o que se denomina “repristinação” ou restauracionismo, isto é, o desejo de voltar aos dias iniciais do cristianismo, aos primeiros tempos da igreja primitiva, idealizados como uma época de maior fervor e plenitude cristã. Associada a isso estava a nova linguagem que dava ênfase ao poder do Espírito, conforme manifesto entre os apóstolos através de sinais e maravilhas. Essa linguagem passou a ser uma distinção importante entre os dois movimentos: enquanto a tradição holiness dava maior destaque à santidade ou santificação, o movimento pentecostal passou a privilegiar o conceito de poder.

O terceiro nome, “chuva tardia”, se tornou especialmente significativo porque por meio dele os pentecostais puderam entender o seu relacionamento tanto com a igreja apostólica quanto com o iminente final dos tempos. Dayton explica a lógica interna do movimento: “O Pentecoste original do Novo Testamento foram as ‘primeiras chuvas’, o derramamento do Espírito que acompanhou a ‘plantação’ da igreja. O pentecostalismo moderno são as ‘últimas chuvas’, o derramamento especial do Espírito que restaura os dons nos últimos dias como parte da preparação para a colheita, o retorno de Cristo em glória”.[11] O mesmo autor observa que a estrutura da “chuva tardia” transforma o maior problema apologético do pentecostalismo – sua descontinuidade com as formas clássicas do cristianismo – em um valioso recurso apologético: “A longa estiagem desde o período pós-apostólico até o tempo presente é vista como parte do plano dispensacional de Deus para as eras”.[12] Em suma, o pentecostalismo foi entendido pelos seus primeiros simpatizantes como o derramamento final do Espírito de Deus que iria preparar a igreja para o derradeiro esforço pela evangelização do mundo antes da volta do Senhor.

3.1 O Avivamento da Rua Azusa
Em 1905, Charles Parham mudou-se para o Texas e iniciou uma escola bíblica em Houston. Um dos estudantes atraídos por essa escola foi um ex-garçom negro e pregador holiness, William Joseph Seymour (1870-1922).[13] Era o período da discriminação racial no sul dos Estados Unidos e Parham era simpatizante desse sistema. Seymour assistia às aulas sentado em uma cadeira no corredor ao lado da sala. Algumas semanas mais tarde, ele recebeu o convite para visitar um pequeno grupo batista em Los Angeles. Esse grupo de afro-americanos, pastoreado por uma mulher, Julia Hutchins, havia sido expulso de sua igreja por esposar doutrinas holiness. Seymour, então com trinta e cinco anos, era filho de escravos, tinha pouca cultura, limitados dotes de oratória e era cego de um olho. Escolheu o texto de Atos 2.4 para o seu primeiro sermão em Los Angeles, embora ele mesmo nunca tivesse falado em línguas. A pastora não gostou do seu ensino, mas ele, acompanhado por boa parte do grupo, passou a fazer as reuniões na casa onde estava hospedado. Quando esta se tornou pequena, foram para outra um pouco maior, na Rua Bonnie Brae, onde o avivamento começou no dia 9 de abril de 1906.[14]

Com o passar dos dias, várias pessoas começaram a falar em línguas, primeiro negros, depois brancos, e finalmente o próprio Seymour teve essa tão-sonhada experiência (12 de abril). Nesse mesmo dia, a varanda da frente dessa residência desabou devido ao peso da multidão. Com isso, os líderes alugaram um rústico edifício de madeira na Rua Azusa, perto do centro de Los Angeles. Esse prédio havia abrigado uma igreja metodista negra e posteriormente tinha sido usado como cortiço e estábulo. Imediatamente as reuniões atraíram a atenção da imprensa. O principal jornal da cidade mandou um repórter ao local e este escreveu ridicularizando os fenômenos presenciados. Esse artigo, intitulado “Estranha babel de línguas”, foi publicado no mesmo dia em que um terremoto seguido de um incêndio destruiu a cidade de San Francisco (18 de abril de 1906), no norte na Califórnia. O artigo funcionou como propaganda gratuita e logo em seguida ocorreu o Avivamento da Rua Azusa.

As reuniões eram eletrizantes e barulhentas. Começavam às 10 horas da manhã e prosseguiam por pelo menos doze horas, muitas vezes terminando às 2 ou 3 da madrugada seguinte. Não havia hinários, liturgia ou ordem de culto. Os homens gritavam e saltavam através do salão; as mulheres dançavam e cantavam. Algumas pessoas entravam em transe e caiam prostradas. Até setembro, 13.000 pessoas passaram pelo local e ouviram a nova mensagem pentecostal. Um bom número de pastores respeitáveis foi investigar o que estava ocorrendo e muitos deles acabaram se rendendo ao que presenciaram.

Uma característica marcante dessas primeiras reuniões foi o seu caráter multi-racial, com a participação de negros, brancos, hispanos, asiáticos e imigrantes europeus. A liderança era dividida entre negros e brancos, homens e mulheres. Um artigo do jornal A Fé Apostólica, fundado por Seymour, dizia no número de novembro de 1906: “Nenhum instrumento que Deus possa usar é rejeitado por motivo de cor, vestuário ou falta de cultura”. Outro artigo informava que em um culto de comunhão que durou toda a noite havia pessoas de mais de vinte nacionalidades. Uma frase comum na época dizia que “a linha divisória da cor havia sido lavada pelo sangue”. Diante da longa e terrível história de racismo e segregação nos Estados Unidos, esse fato só podia deixar encantados os participantes e observadores do avivamento, que viam nisso mais uma prova de que o movimento vinha de Deus.

Todavia, desde o início também houve uma série de problemas: médiuns espíritas tentavam realizar sessões durante os cultos; enquanto muitas pessoas sentiam a presença de Deus, outras ficavam no fundo do salão discutindo e condenando; havia muitas críticas de jornais e de líderes eclesiásticos. Houve também algumas crises internas: choques de personalidade, fanatismo, divergências doutrinárias e separação racial. Com o passar do tempo, Seymour e outros líderes negros acabaram assumindo o controle da missão, excluindo os brancos e os hispanos. O próprio Parham visitou o local em outubro de 1906 e ficou chocado com certas manifestações que presenciou.[15]

Após cerca de três anos de reuniões diárias de alta intensidade, o avivamento entrou em declínio. Depois da morte de Seymour em 1922 e de sua esposa Jennie em 1936, a missão fechou as portas e o edifício foi demolido. Todavia, um novo capítulo na história da igreja havia começado. Há alguns anos foi colocada na praça anexa a esse local histórico uma placa com os seguintes dizeres:

Missão da Rua Azusa – Esta placa comemora o local da Missão da Rua Azusa, que estava localizada na Rua Azusa 312. Formalmente conhecida como Missão da Fé Apostólica, ela serviu como nascedouro do Movimento Pentecostal internacional de 1906 a 1931. O pastor William J. Seymour superintendeu o “Avivamento da Rua Azusa”. Ele pregou uma mensagem de salvação, santidade e poder, recebeu visitantes de todo o mundo, transformou a congregação em um centro multicultural de adoração e comissionou pastores, evangelistas e missionários para levaram ao mundo a mensagem do Pentecoste (Atos 2.1-41). Hoje os membros da Movimento Pentecostal/Carismático totalizam meio bilhão ao redor do mundo. Fevereiro de 1999 – Comissão Memorial da Rua Azusa.[16]

Portanto, o movimento pentecostal tem dois fundadores: Charles Parham e William Seymour. Parham foi o primeiro a fazer a afirmação fundamental de que o falar em línguas era a evidência visível e bíblica do batismo com o Espírito Santo. A importância de Seymour, o discípulo de Parham, reside no fato de que sob sua liderança, através do Avivamento da Rua Azusa, o pentecostalismo se tornou um fenômeno internacional e mundial a partir de 1906. Nos Estados Unidos, as primeiras denominações pentecostais foram, entre outras: a Igreja de Deus de Camp Creek (Carolina do Norte), a Igreja de Deus de Cleveland (Tennessee), a Igreja da Fé Apostólica (Portland, Oregon) e as Assembléias de Deus (Hot Springs, Arkansas). Um líder extremamente importante foi William H. Durham, de Chicago, cidade que teve grande influência na internacionalização do movimento.

3.2 Controvérsias
Desde o início o movimento pentecostal foi muito diversificado, apresentando uma grande variedade de manifestações e ênfases. Isso não é de admirar, visto que o pentecostalismo, por sua própria natureza, podia, a partir das premissas básicas, assumir um grande número de configurações, motivadas principalmente pelos muitos líderes independentes que iam surgindo. Portanto, quase desde o início uma série de controvérsias abalaram o movimento:[17]

3.2.1 A “obra consumada”
Essa controvérsia foi a primeira ruptura na família pentecostal. Segundo a visão tradicional do movimento holiness e dos primeiros pentecostais, inspirados por João Wesley, existia uma experiência instantânea de “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, separada da experiência da conversão. Era chamada a “segunda bênção”, sendo considerada uma preparação necessária para uma terceira experiência, o batismo com o Espírito Santo (a nova experiência pentecostal). Em 1910, William H. Durham, pastor da Missão da Avenida Norte, em Chicago, questionou essas idéias, insistindo no que ele denominou a “obra consumada no Calvário”, ou seja, o fato de que a obra de Cristo na cruz era suficiente tanto para a salvação quanto para a santificação. Os pentecostais da obra consumada passaram a entender a santificação como um processo gradual. Em 1915, essa já era a posição preferida de aproximadamente metade dos pentecostais americanos, e hoje da maioria deles.

3.2.2 A questão racial
Como foi visto, o Avivamento da Rua Azusa uniu negros e brancos, tornando-se, nos seus primeiros anos, um modelo de cooperação inter-racial. Em 1910, destacados líderes pentecostais brancos e negros se esforçavam para tornar essa visão inter-racial um elemento básico do pentecostalismo. Com o tempo, muitos líderes brancos acharam difícil manter esse impulso inicial. O racismo e as leis de segregação racial do sul dos Estados Unidos (leis Jim Crow) prevaleceram. Ficou difícil realizar convenções multi-raciais, pois havia leis proibindo reuniões desse tipo e acomodações em hotéis para ambas as raças. Por causa dos obstáculos culturais, sociais e institucionais, muitas igrejas negras começaram a se retirar de denominações multi-raciais já em 1908. Da mesma maneira, uma associação branca ligada à Igreja de Deus em Cristo formou as Assembléias de Deus como uma denominação predominantemente branca em 1914 (Hot Springs, Arkansas). Em 1924, a maior parte das igrejas brancas de outra denominação mista, as Assembléias Pentecostais do Mundo, se retiraram para criar uma denominação branca, que mais tarde veio a ter o nome de Igreja Pentecostal Unida (Missouri). Os pentecostais hispanos, muito numerosos, também se organizaram separadamente. Desde o final dos anos 60, as denominações pentecostais têm tentado sanar algumas dessas divisões.

3.2.3 O movimento da unicidade
Em 1913, numa concentração na Califórnia, o pastor canadense Robert Edward McAlister começou a insistir no fato de que o Novo Testamento mostra os apóstolos batizando somente “em nome de Jesus”.[18] Essa prática começou a ser adotada por muitos pentecostais através do país. No início parecia apenas uma nova fórmula para o batismo, mas com o tempo verificou-se que era uma rejeição da doutrina da Trindade com sua tríplice distinção de pessoas, constituindo uma reedição do monarquianismo modalista ou sabelianiamo dos primeiros séculos da história da igreja. Em 1916, as Assembléias de Deus condenaram formalmente as posições do movimento de unicidade ou “Jesus somente”. Seus adeptos tiveram de desligar-se e formaram as suas próprias denominações – as Assembléias Pentecostais do Mundo 1919) e mais tarde a Igreja Pentecostal Unida (1945). Hoje esse grupo representa uma fração muito pequena do pentecostalismo mundial.

3.2.4 Pacifismo
A maior parte dos primeiros pentecostais eram resolutos pacifistas, por duas razões: obediência a preceitos bíblicos como “Amai os vossos inimigos” e “Não matarás”, e a crença pré-milenista no fim do mundo. Se o final dos tempos estava próximo, os cristãos deviam concentrar todas as suas energias na evangelização do mundo, e não em guerras. Portanto, a maioria das igrejas pentecostais se posicionou contra o envolvimento dos Estados Unidos na I Guerra Mundial e alguns líderes chegaram a ser presos. Na época da II Guerra Mundial, eles já haviam assumido uma posição cultural mais semelhante aos evangélicos, aprovando a legitimidade de envolvimento americano na guerra. Por fim, na Guerra do Vietnã muitos já haviam se tornado antipacifistas.

3.2.5 Manipuladores de serpentes
Num domingo de 1910, George W. Hensley, um pregador do Tennessee, falou sobre o texto de Marcos 16.17-18. Ao concluir o sermão, ele tirou uma grande cascavel de dentro de uma caixa e segurou-a com as mãos por vários minutos. A seguir, ordenou que sua congregação fizesse o mesmo. Sua fama se espalhou pela região e ele foi ordenado na Igreja de Deus. Hensley teve uma vida cheia de altos e baixos, inclusive com quatro casamentos, mas continuou a manipular serpentes até o fim, sendo mordido várias vezes. Essa prática acabou proibida por lei e por isso esse líder e seus seguidores foram presos muitas vezes. No dia 24 de julho de 1955, Hensley foi picado mais uma vez. Como nas outras ocasiões, recusou-se a receber tratamento médico e na manhã seguinte estava morto, aos 75 anos de idade. Hoje cerca de 2.500 pentecostais americanos praticam o manuseio de serpentes em igrejas autônomas muito conservadoras.

3.2.6 Os latinos
Os latinos, principalmente mexicanos e chicanos (americanos de origem mexicana), estiveram presentes no Avivamento da Rua Azusa desde o início. Por razões não inteiramente claras, Seymour os expulsou da missão em 1909. Esse conflito deu origem ao movimento pentecostal latino, que se difundiu através dos Estados Unidos, México e Porto Rico. Em 1912, eles criaram as suas próprias igrejas autônomas e independentes na Califórnia, Texas e Havaí. Um dos líderes iniciais mais influentes foi o evangelista Francisco Olazábal, apelidado “El Azteca”. Até recentemente os latinos eram conhecidos como os “pentecostais silenciosos”, porque sua história raramente era contada. Esse segmento tem desfeito o estereótipo de que ser latino é o mesmo que ser católico romano. Em 1998, cerca de um milhão de latinos freqüentavam 10.000 igrejas e grupos de oração em 40 tradições pentecostais e carismáticas nos Estados Unidos e em Porto Rico, sem contar o número muito maior de pentecostais existentes em muitos países latino-americanos.

3.3 Mulheres
Outra característica do movimento pentecostal nos seus primórdios foi a grande participação e visibilidade dada às mulheres. Dois exemplos notáveis são Maria Beulah Woodworth-Etter e Aimee Semple McPherson, esta última a fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular.

3.3.1 Maria Woodworth-Etter (1844-1924)
Essa famosa pregadora teve uma vida difícil até os 35 anos. Cinco de seus seis filhos morreram e o seu primeiro marido foi surpreendido em adultério. Em aflição, ela uniu-se aos quacres e tornou-se uma pregadora avivalista. Nos seus cultos, as pessoas clamavam e choravam em alta voz; muitos participantes entravam em transe ou tinham visões que podiam durar várias horas. Em 1912, aos 68 anos, ela abraçou o movimento pentecostal mais amplo ao pregar por seis meses em Dallas. Tornou-se uma das evangelistas pentecostais mais conhecidas do início do século e o seu ministério possibilitou o surgimento posterior de outras mulheres pregadoras e ministradoras de curas.[19]

3.3.2 Aimee Semple McPherson (1890-1944)
Originalmente de sobrenome Kennedy, Aimee nasceu em Ontário, no Canadá. Seu pai era metodista e a mãe, do Exército de Salvação. Quando adolescente, conheceu o pentecostalismo através das pregações de Robert Semple, com quem se casou aos 17 anos. Ele morreu dois anos depois, em Hong Kong, quando o casal iniciava uma carreira missionária. Voltando para casa, ela contraiu matrimônio com o homem de negócios Harold McPherson e eles se tornaram evangelistas itinerantes (depois que ela quase morreu de apendicite em 1913). Em 1917, Aimee passou a publicar a revista mensal The Bridal Call (“O chamado do noivo”) e começou a atrair a atenção da imprensa. Depois que o marido pediu divórcio, ela aceitou em 1918 um convite para pregar em Los Angeles. Dedicou as suas energias à recuperação do “cristianismo da Bíblia”, usando como tema Hebreus 13.8. Em 1919, iniciou uma série de conferências que a tornaram famosa. Dentro de um ano, os maiores auditórios dos Estados Unidos não comportavam as multidões que queriam ouvi-la. As orações pelos enfermos tornaram-se marcas de suas campanhas. Em rápida sucessão, ela foi à Austrália, a primeira de suas viagens ao exterior (1922), consagrou o Templo Ângelus (1923), fundou uma estação de rádio (1924) e sua escola bíblica mudou-se para uma sede própria (1925). “Sister”, como era chamada, também iniciou projetos na área social em diversas cidades.

Em maio de 1926 começaram os problemas. Aimee alegou que foi seqüestrada e que teria conseguido escapar, algo que nunca foi devidamente esclarecido. Ela enfrentou sérios problemas de saúde na maior parte da década de 1930. Um desastroso terceiro casamento durou menos de dois anos. Sua realização pública mais notável nos anos 30 foi um programa social no Templo Ângelus que distribuiu alimentos, roupas e outros donativos a muitas famílias carentes. Durante a Depressão, o refeitório ofereceu 80.000 refeições só nos dois primeiros meses. Sua contribuição mais importante e duradoura foi a criação da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular (1927), cujo nome aponta para Cristo como aquele que salva, cura, batiza como Espírito Santo e virá outra vez.[20] Donald Dayton argumenta que essas quatro ênfases em conjunto caracterizam e distinguem o movimento pentecostal como um todo.[21] É aquilo que se denomina o “evangelho pleno”.

4. O pentecostalismo no Brasil
A partir de Los Angeles, e especialmente de Chicago, o pentecostalismo rapidamente se irradiou para vários outros países. O movimento entrou cedo na América Latina, primeiro no Chile (1909) e logo em seguida no Brasil (1910). No início o crescimento nesses e em outros países foi lento, mas se intensificou a partir da década de 50. Desde os anos 70, o pentecostalismo também se expandiu na América Central, especialmente na Guatemala e El Salvador, onde representa respectivamente 30% e 20% da população. No Chile, cerca de  80% dos protestantes são pentecostais. Nesse país, o pentecostalismo marcou a nacionalização do protestantismo. São muitas as razões da expansão pentecostal na América Latina: as vicissitudes históricas da obra evangelística e pastoral católica, o limitado trabalho das denominações protestantes, o misticismo das culturas ibero-americanas, os graves problemas econômicos, políticos e sociais.

A primeira manifestação de entusiasmo religioso no protestantismo brasileiro é atribuída por Émile Léonard ao movimento liderado por Miguel Vieira Ferreira (1837-1895).[22] Esse engenheiro, presbítero e pregador leigo da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, membro de uma família aristocrática de São Luís do Maranhão, acreditava que Deus ainda se revelava diretamente às pessoas, como nos tempos bíblicos. Dotado de um temperamento místico, certa vez teve uma espécie de transe, ficando totalmente imóvel por longo período de tempo. Disciplinado pela igreja por insistir nas suas idéias, o Dr. Miguel retirou-se com um grupo de crentes, a maior parte parentes seus, e criou a Igreja Evangélica Brasileira (1879), que subsiste até hoje. Todavia, esse grupo é diferente em vários aspectos do movimento pentecostal surgido algumas décadas mais tarde.[23]

O sociólogo Paul Freston fala sobre “três ondas” ou fases de implantação do pentecostalismo no Brasil.[24] A primeira onda, ainda nos primeiros anos do movimento pentecostal norte-americano, trouxe para o país duas igrejas: a Congregação Cristã no Brasil (1910) e as Assembléias de Deus (1911). Essas igrejas dominaram amplamente o campo pentecostal durante quarenta anos. A Assembléia de Deus foi a que mais se expandiu, tanto numérica quanto geograficamente. A Congregação Cristã, após um período em que ficou limitada à comunidade italiana, sentiu a necessidade de assegurar sua sobrevivência por meio do trabalho entre os brasileiros. É interessante o fato de que, quando chegaram os primeiros pentecostais, todas as denominações históricas já haviam se implantado no país: anglicanos, luteranos, congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas e episcopais. Todavia, o seu crescimento havia sido modesto. Em 1931, fazendo um levantamento sobre o protestantismo nacional, Erasmo Braga ironicamente dedicou apenas umas poucas linhas à Assembléia de Deus e nem se referiu à Congregação Cristã no Brasil.[25]

A segunda onda pentecostal ocorreu na década de 50 e início dos anos 60, quando houve uma fragmentação do campo pentecostal e surgiram, entre muitos outros, três grandes grupos ainda ligados ao pentecostalismo clássico: Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo (1955) e Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), todas voltadas de modo especial para a cura divina. Essa segunda onda coincidiu com o aumento do processo de urbanização do país e o crescimento acelerado das grandes cidades. Freston argumenta que o estopim dessa nova fase foi a chegada da Igreja Quadrangular com os seus métodos arrojados, forjados no berço dos modernos meios de comunicação de massa, a Califórnia.[26] Esse período revela uma tendência digna de nota – a crescente nacionalização do pentecostalismo brasileiro. Enquanto que a Igreja Quadrangular ainda veio dos Estados Unidos, as outras duas surgidas na mesma época tiveram raízes integralmente brasileiras.

A terceira onda histórica do pentecostalismo brasileiro começou no final dos anos 70 e ganhou força na década de 80, com o surgimento das igrejas denominadas “neopentecostais”, com sua forte ênfase na teologia da prosperidade. Sua representante máxima é a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), mas existem outros grupos significativos como a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980), Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Igreja Paz e Vida, Comunidades Evangélicas e muitas outras. Assim como a ênfase da primeira onda foi o batismo com o Espírito Santo e o conseqüente falar em línguas, a da segunda onda foi a cura e a da terceira, o exorcismo e mensagem da prosperidade. Uma importante precursora dos grupos neopentecostais foi a Igreja de Nova Vida, fundada pelo canadense “bispo” Robert McAllister, que rompeu com a Assembléia de Deus em 1960. Essa igreja foi pioneira de um pentecostalismo de classe média, menos legalista, e investiu muito na mídia. Foi também a primeira igreja pentecostal a adotar o episcopado no Brasil. Sua maior contribuição foi o treinamento de futuros líderes como Edir Macedo e seu cunhado Romildo R. Soares.[27]

Outros grupos pentecostais e neopentecostais brasileiros resultaram da chamada “renovação carismática”. Esse movimento surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 60, com a ocorrência de fenômenos pentecostais nas igrejas protestantes históricas e também na Igreja Católica Romana.[28] No Brasil, a “renovação” produziu divisões em quase todas as denominações mais antigas, com o surgimento de grupos como a Igreja Batista Nacional, a Igreja Metodista Wesleyana e a Igreja Presbiteriana Renovada. Essa adoção de crenças e práticas carismáticas, principalmente na área do culto, continua afetando em maior ou menor grau as denominações tradicionais até hoje. A esta altura, é oportuno considerar alguns representantes significativos do pentecostalismo brasileiro.

4.1 Congregação Cristã no Brasil
As duas igrejas pioneiras do pentecostalismo brasileiro tiveram sua origem em Chicago, através do ministério de William H. Durham (1873-1912), que fundou em 1907 a Missão da Avenida Norte (North Avenue Mission). Um dos seus discípulos foi o italiano Luigi Francescon (1866-1964), que havia emigrado para os Estados Unidos em 1890. Em Chicago, ele se converteu ao evangelho e foi um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Italiana daquela cidade. Em 1903, foi batizado por imersão e passou a reunir-se com um grupo holiness, até descobrir a mensagem pentecostal na igreja do pastor Durham. Foi batizado com o Espírito Santo em 1907 e recebeu uma profecia de Durham para que levasse a mensagem pentecostal aos seus patrícios. Em 1909 ele e Giacomo Lombardi foram a Buenos Aires, onde abriram uma igreja. No início do ano seguinte, Francescon visitou São Paulo e a pequena Santo Antônio da Platina, no Paraná. Numa segunda visita, em junho de 1910, ele criou a Congregação Cristã, que resultou em parte de um cisma na Igreja Presbiteriana do Brás, constituída em boa parte de italianos. O fundador nunca chegou a residir no Brasil, mas fez onze visitas entre 1910 e 1948, totalizando uma estada de quase dez anos.

Em 1930, a Congregação Cristã tinha sete membros para cada três da Assembléia de Deus; todavia, em fins dos anos 40 foi ultrapassada pela sua rival. No ano 2000, de acordo com o censo oficial, ela estava com pouco menos de um terço dos membros da Assembléia de Deus, ou seja, cerca de 2,8 milhões de adeptos. A Congregação Cristã tem a maior parte dos seus templos em São Paulo e em cidades do interior de outros estados. Entre as suas peculiaridades está a rejeição dos modernos métodos de divulgação, restringindo a pregação da sua mensagem aos locais de culto. Possui fortes elementos sectários, não se considerando uma igreja protestante e não mantendo ligações com outros grupos.

Seu ethos caracteriza-se por um rígido dualismo igreja-mundo e espírito-matéria, e, no entanto, não pratica o legalismo de outros pentecostais. Destaca-se pelo “iluminismo” religioso, apelando para revelações diretas de Deus no que diz respeito às mensagens nos cultos e a decisões tomadas pela liderança. Suas reuniões, bastante ordeiras em comparação com as de outros grupos pentecostais, dão forte ênfase aos “testemunhos”. A igreja pratica uma forte cultura de ajuda mútua, denominada “obra de piedade”. No plano administrativo, rejeita o excesso de organização, tem uma burocracia mínima, e não conta com pastores, e sim com anciãos não-remunerados. A liderança é baseada na antiguidade mais do que no carisma ou competência. Seus líderes são praticamente anônimos e essa ausência de personalismo resulta numa tendência mínima para cismas e ambições políticas. A homogeneidade interna do grupo é fortalecida pelo constante contato entre os crentes de diferentes cidades e por uma convenção anual realizada no Brás, na Semana Santa. Com as suas características inusitadas, a Congregação Cristã no Brasil exemplifica o dinamismo e a diversidade do movimento pentecostal.[29]

4.2 Assembléia de Deus
Essa igreja, que veio a ser tornar a maior denominação pentecostal e evangélica do Brasil, bem como uma das maiores do mundo, também teve as suas raízes em Chicago, a cidade norte-americana onde o pentecostalismo mais cresceu nos primeiros tempos e na qual 75% da população era constituída de imigrantes ou filhos de imigrantes. Entre estes estavam dois suecos de origem batista: Gunnar Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1885-1963). Vingren, filho de um jardineiro, foi para os Estados Unidos em 1903 e estudou no seminário da igreja batista sueca em Chicago. Em seguida, pastoreou algumas igrejas e abraçou o pentecostalismo, época em que conheceu o colega Daniel Berg. Este era filho de um líder batista e também havia emigrado para os Estados Unidos. Retornando ao seu país em 1908, descobriu que um amigo de infância, Levi Pethrus, havia se tornado pentecostal. Ele seria posteriormente o líder do pentecostalismo sueco. Influenciado por Pethrus, Berg abraçou a fé pentecostal quanto retornava para os Estados Unidos em 1909. Conhecendo Vingren, os dois se uniram pelo ideal missionário. Enquanto oravam com um patrício, este profetizou que deveriam ir para um lugar chamado Pará.[30]

Os dois obreiros fixaram-se em 1911 em Belém do Pará, onde passaram a freqüentar a igreja batista, cujo pastor, Erik Nilsson ou Eurico Nelson, também era sueco. Alguns meses depois, a mensagem pentecostal de Vingren e Berg produziu uma divisão na igreja, surgindo assim o primeiro grupo da nova denominação, que inicialmente foi chamado “Missão de Fé Apostólica”, um dos nomes dos primeiros grupos pentecostais dos Estados Unidos. Só alguns anos mais tarde foi adotado o nome Assembléia de Deus. A partir de 1914, outros missionários suecos começaram a chegar para auxiliar os pioneiros. O auge da presença sueca na Assembléia de Deus ocorreu nos anos 30 e praticamente cessou após 1950. O ano de 1930 foi muito significativo, porque marcou a nacionalização do trabalho. Na primeira Convenção Geral, realizada em Natal, com a presença de 11 suecos e 23 líderes brasileiros, a igreja adquiriu autonomia em relação à missão sueca, que lhe transferiu todas as propriedades. Houve também a virtual transferência da sede nacional de Belém para o Rio de Janeiro. Mais tarde surgiu uma ligação mais estreita com os Estados Unidos, cujos missionários têm exercido influência na área da educação teológica.

Analisando essa trajetória, Paul Freston observa que “os missionários suecos, que tanta influência tiveram nos primeiros quarenta anos da Assembléia de Deus no Brasil, vieram de um país religiosa, social e culturalmente homogêneo, no qual eram marginalizados”.[31] Como membros de uma minoria desprivilegiada, eles tinham poucos recursos financeiros e rejeitavam a ênfase no aprendizado formal, fatores esses que influenciaram a igreja brasileira. Assim, as Assembléias de Deus, bem como outros grupos pentecostais pioneiros, não estabeleceram as relações de dependência que caracterizaram as missões históricas. Nos primeiros quinze anos, a expansão da igreja limitou-se ao norte e nordeste. Todavia, na época da nacionalização, em 1930, já estava presente em vinte estados, contando com cerca de 40.000 congregados.

Quanto às peculiaridades da igreja, Freston aponta para o seu sistema de governo “oligárquico e caudilhesco”, que seria fruto da influência cultural nordestina.[32] Exemplo disso são os diferentes “ministérios”, nem sempre amistosos entre si, e a grande autoridade exercida pelo “pastor presidente”, verdadeiro bispo de uma cidade ou região, sendo essa posição geralmente atingida após uma lenta ascensão. Nas últimas décadas têm ocorrido crises resultantes desse modelo de liderança, do fenômeno da ascensão social dos adeptos e da concorrência com novos grupos pentecostais. A maior crise enfrentada pela igreja foi o cisma que deu origem à Convenção Nacional das Assembléias de Deus de Madureira. Esse ministério havia sido fundado pelo gaúcho Paulo Macalão, filho de um general, que entrou em conflito com os missionários suecos, críticos do seu rigor legalista. Consagrado pastor por Levi Pethrus em 1930, ele se tornou independente e passou a abrir trabalhos em vários estados. As tensões crescentes após sua morte (1982) levaram à exclusão de Madureira pela Convenção Geral (1989), que assim deixou de representar cerca de um terço da Assembléia de Deus no Brasil.

Ao contrário da Congregação Cristã, que não tem literatura própria, a Assembléia de Deus publica desde 1930 um periódico oficial, Mensageiro da Paz, e possui uma editora de grande expressão. A igreja enfrenta forte tensão entre manter a tradição conservadora e populista e aceitar novos valores como a ênfase no aprimoramento intelectual. Freston destaca que a formação cultural ultrapassada faz com que os líderes “percam terreno para grupos pentecostais mais novos, com menos tradições arraigadas para dificultar sua adaptação à moderna cultura urbana brasileira”.[33] Ainda assim, a Assembléia de Deus é um fenômeno impressionante, com os seus mais de 8 milhões de afiliados (quase metade de todos os pentecostais brasileiros), muito mais numerosos que os da congênere americana, com 2 milhões.[34] Com o passar do tempo, essa igreja vem se tornando mais parecida com as outras denominações evangélicas, revelando maior sobriedade no seu culto e uma preocupação crescente com a preparação intelectual e teológica dos seus obreiros.

4.3 Outras igrejas
Alguns outros grupos expressivos no cenário religioso brasileiro, ainda dentro do pentecostalismo clássico, são os seguintes:[35]

4.3.1 Igreja do Evangelho Quadrangular
Fundada nos Estados Unidos em 1927 por Aimee Semple McPherson, a Igreja Quadrangular chegou ao Brasil por meio do missionário Harold Williams, um ex-ator de filmes de faroeste, que implantou a primeira igreja em São João da Boa Vista (SP), em novembro de 1951. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo Raymond Boatright o principal evangelista. Desde então essa igreja tem crescido constantemente, sendo uma de suas peculiaridades a forte ênfase dada ao ministério feminino. De todas as grandes igrejas pentecostais brasileiras (1,3 milhão de membros segundo o Censo 2000), esta é a única que pode ser considerada uma filial da congênere norte-americana. Todas as demais surgiram no próprio Brasil, ainda que algumas delas tenham sido iniciadas por fundadores estrangeiros.

4.3.2 Igreja O Brasil Para Cristo
Um dos primeiros pastores da Igreja Quadrangular brasileira foi Manoel de Mello, um ex-evangelista da Assembléia de Deus. Em 1955, ele separou-se da Cruzada Nacional de Evangelização e organizou a campanha “O Brasil Para Cristo”, da qual surgiu a igreja com o mesmo nome. Manoel de Mello surpreendeu o mundo evangélico em 1969 quando filiou sua igreja ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), filiação essa que se estendeu até 1986. Em 1979 a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo inaugurou o seu enorme templo no bairro da Água Branca, em São Paulo, sendo orador oficial Philip Potter, o secretário-geral do CMI. Curiosamente, entre os presentes estava D. Paulo Evaristo Arns, o cardeal arcebispo de São Paulo.

4.3.3 Igreja Deus é Amor
Essa igreja foi fundada por David Miranda, nascido em 1936, filho de um agricultor do Paraná. Vindo para São Paulo, ele se converteu numa pequena igreja pentecostal e em 1962 iniciou sua própria igreja na Vila Maria. Pouco depois a igreja transferiu-se para o centro da cidade, sendo em 1979 adquirida a “sede mundial” da Baixada do Glicério, onde há poucos anos foi construído um dos maiores templos evangélicos do Brasil. A Igreja Deus é Amor até hoje não utiliza a televisão, mas é proprietária de uma rede de emissoras de rádio e transmite os seus programas para toda a América Latina. Destaca-se como a mais rígida e legalista de todas as igrejas pentecostais. Sua direção continua firmemente nas mãos do missionário fundador.

5. O fenômeno neopentecostal         
O acontecimento mais marcante das últimas décadas no âmbito religioso do Brasil foi o surgimento do neopentecostalismo, notadamente sua expressão mais espetacular, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Sendo um fenômeno recente, essa manifestação religiosa ainda está sendo objeto de uma identificação mais precisa, inclusive no aspecto terminológico. Alguns autores falam em “pentecostalismo autônomo”.[36] Já o professor Antonio G. Mendonça utiliza a designação “pentecostalismo de cura divina”, o que pode ser problemático, pois faria o neopentecostalismo retrocedor aos anos 50, com o início da segunda onda pentecostal.[37] Seja qual for a designação, o fato é que essa manifestação representa, ao lado de alguma continuidade, profundas rupturas com o pentecostalismo clássico e muito mais ainda com o protestantismo histórico.

Esse fenômeno ainda em evolução tem como proposta religiosa básica o trinômio cura-exorcismo-prosperidade. Diante das realidades de sofrimento e alienação que caracterizam a sociedade moderna, principalmente nos grandes centros urbanos, essas igrejas oferecem espaços de solidariedade e acolhimento, gerando um forte senso de dignidade entre os seus participantes. Por outro lado, elas revelam uma clara tendência para práticas sincréticas e mágicas, tais como a utilização crescente de objetos e rituais como mediação do sagrado, a adoção do vocabulário e práticas da religiosidade popular brasileira e o uso da Bíblia apenas como um instrumento para a solução de problemas. Mendonça faz a seguinte avaliação contundente:

... essas igrejas não constituem comunidades de crentes comprometidos com a koinonia cristã. Estão sempre cheias, mas de clientes que buscam solução mágica para os problemas do cotidiano e que  estão sempre em trânsito, na maioria das vezes mantendo sua identidade religiosa tradicional. Não são, portanto, igrejas, mas clientela de bens de religião obtidos magicamente.[38]

José Bittencourt Filho tem uma perspectiva mais otimista, que ainda está para ser demonstrada:

O crescimento numérico do [Pentecostalismo Autônomo] e sua extraordinária capacidade de mobilização demonstra que a proposta oferecida está em sintonia com as demandas espirituais da população brasileira de todas as camadas sociais. No futuro, o carisma deverá rotinizar-se, e os remanescentes serão talvez poucas denominações mais próximas da tradição evangélica do que na atualidade.[39]

Esse novo pentecostalismo se adapta muito bem à moderna cultura urbana influenciada pela televisão e pela ética do capitalismo de consumo. Duas expressões emblemáticas são a Igreja Universal do Reino e a Igreja Renascer em Cristo.

5.1 Igreja Universal do Reino de Deus
A IURD foi fundada pelo pastor Edir Macedo, nascido em 1944, que possui uma biografia interessante e reveladora. Filho de um comerciante fluminense, ele trabalhou por dezesseis anos na Loteria do Estado do Rio de Janeiro, período no qual subiu de simples contínuo até um cargo administrativo. De origem católica, ingressou quando adolescente na Igreja de Nova Vida, deixando-a para fundar sua própria, inicialmente denominada Igreja da Bênção. Em 1977, ele deixou o emprego público para dedicar-se integralmente ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD e o primeiro programa de rádio. Em 1980, houve um conflito de liderança entre Macedo e seu cunhado Romildo Soares, o que levou este último a criar a Igreja Internacional da Graça de Deus. Há anos Soares se destaca como o líder religioso que ocupa maior espaço na televisão brasileira.

Macedo residiu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou para o Brasil, transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. À medida que construía um império econômico e de comunicações, a igreja também se preocupou em buscar sustentação política, elegendo em 1990 três deputados federais, e outros mais em anos posteriores. Em 1992, Macedo esteve preso por doze dias sob a acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo. Um acontecimento que deu grande publicidade à igreja foi o episódio do “chute na santa”, quando, em um programa de televisão transmitido em 12 de outubro de 1995, o bispo Sérgio von Helde referiu-se de modo desairoso a Maria, dando alguns chutes numa imagem da mesma. Apesar dos percalços, a IURD tem crescido enormemente, sendo, graças à sua presença maciça na mídia e aos seus grandes templos nas principais ruas e avenidas de muitas cidades, a mais visível das igrejas evangélicas brasileiras. Segundo o último censo geral, tinha no ano 2000 pouco mais de 2 milhões de adeptos no Brasil, além de muitos templos no exterior.

Freston entende que “a IURD é uma atualização das possibilidades teológicas, litúrgicas, éticas e estéticas do pentecostalismo”.[40] A ênfase principal da sua mensagem não é o batismo no Espírito Santo e a glossolalia, mas a teologia da prosperidade (na saúde, nas finanças e no amor), como fica explícito em seu slogan “Pare de sofrer; venha para a IURD”. Em conexão com isso, também pratica o exorcismo de modo bastante explícito. Essa igreja rompe com a pobreza simbólica do protestantismo brasileiro, fazendo amplo uso da visão, tato e gestos, bem ao sabor da religiosidade tradicional do país. Embora seja o líder inconteste, Edir Macedo tem um estilo pouco personalista. A organização da igreja facilita o controle centralizado e a constante inovação metodológica. As atividades são governadas por um marketing agressivo e estratégias ousadas. Ao falar sobre a ética dessa igreja, Freston faz uma comparação interessante: “A ética da IURD pode ser contrastada com a da [Assembléia de Deus]. Esta representa a ética tradicional do capitalismo primitivo, uma luta longa e árdua para alcançar a modesta respeitabilidade pequeno-burquesa. A Universal, por outro lado, encarna uma versão religiosa da ética yuppie, o enriquecimento súbito através de jogadas audaciosas”.[41]

5.2 Igreja Apostólica Renascer em Cristo
A Igreja Renascer foi fundada em 1985 pelo “apóstolo” Estevam Hernandes Filho e sua esposa, a “bispa” Sônia Haddad Moraes Hernandes. Como outros líderes pentecostais, Estevam teve uma origem humilde como filho de um jardineiro de cemitério e começou a trabalhar aos 7 anos, fazendo carretos em feiras livres. Mais tarde, desiludido com o catolicismo, filiou-se a uma igreja pentecostal, onde conheceu a futura esposa. Sete anos depois, casaram-se e decidiram fundar sua própria igreja. À semelhança dos pastores da IURD, o casal Hernandes tem grande habilidade em conseguir contribuições dos fiéis. Todavia, ao contrário de Edir Macedo, ostentam com orgulho sinais de riqueza, como roupas caras, jóias e automóveis importados. O casal é proprietário da Rede Gospel de Comunicação e por algum tempo procurou assumir o controle da Rede Manchete de Televisão. A Igreja Renascer exemplifica um pentecostalismo de classe média e tem forte apelo junto à juventude e a celebridades do esporte e da mídia.

Em pouco mais de vinte anos, essa igreja abriu 1500 templos no Brasil e 20 em outros seis países, sendo a segunda maior denominação neopentecostal do Brasil. Há vários anos promove a Marcha para Jesus, evento que reuniu 3 milhões de pessoas em São Paulo no corrente ano. À semelhança da IURD, a igreja tem investido na área política e elegeu dois deputados federais no último pleito. Uma séria dificuldade de imagem decorre do fato de que os fundadores não fazem uma clara distinção entre os bens da igreja, construídos com doações dos membros, e o seu patrimônio pessoal. O casal responde a um processo em que são acusados de estelionato contra fiéis e lavagem de dinheiro arrecadado nos cultos. Por não terem comparecido a uma audiência do processo, sua prisão preventiva foi decretada pela justiça no final de novembro de 2006.[42]

6. Avaliação e perspectivas
Qualquer abordagem construtiva do pentecostalismo precisa incluir, ao lado de uma crítica dos seus problemas e distorções, uma consideração honesta de suas contribuições positivas e das advertências que faz ao protestantismo histórico. A Igreja Católica Romana tem procurado deixar de lado as acusações de praxe (movimentos sectários, fanatismo, obscurantismo) para estudar com seriedade esse movimento que lhe tem subtraído um grande número de fiéis, fazendo uma necessária autocrítica e buscando aprender as lições da história.[43] As igrejas protestantes, notadamente aquelas de tradição reformada, precisam empreender um esforço semelhante.

As vicissitudes do pentecostalismo são bem conhecidas e muitas delas já foram apontadas neste artigo. Evidentemente elas não devem ser generalizadas, aplicando-se ora a uns, ora a outros grupos. Esses problemas podem ser classificados em algumas áreas: (1) Escritura: ênfase excessiva na experiência, profecias ou revelações, relativizando a importância da Bíblia; interpretação bíblica literalista ou alegórica, conforme a necessidade, sem atentar para as boas regras da hermenêutica; a Bíblia é considerada acima de tudo um livro de promessas de Deus para os crentes; (2) vida espiritual: entendimento da relação com Deus como uma transação, perdendo-se o senso da salvação como dádiva imerecida da graça; visão dualista da realidade (bem-mal, Deus-diabo) e tendência de atribuir todo mal a influências diabólicas, minimizando a responsabilidade humana; ênfase excessiva na experiência e nas emoções, que pode levar ao subjetivismo; interesse por modismos e novidades; (3) liderança: estilo centralizador e personalista; culto à personalidade do líder, considerado intocável (o “ungido do Senhor”); pequena participação dos fiéis na esfera decisória e na administração dos recursos financeiros[44]; (4) ética: atitude triunfalista e ênfase no poder podem minimizar um viver ético; maior ênfase aos dons do que ao fruto do Espírito; tendência para a alienação quanto aos problemas da sociedade; atuação questionável na esfera política; (5) culto: perigo de colocar os adoradores no centro das atenções ao invés de Deus (antropocentrismo); liturgia condicionada por interesses pragmáticos (atrair e empolgar os participantes) e preferências culturais, e não pelo ensino da Escritura.[45] Essas deficiências e outras são muito sérias e as igrejas históricas devem não só orientar os seus próprios fiéis, mas ajudar os pentecostais e carismáticos a serem mais bíblicos nessas áreas.

Por outro lado, os pentecostais, carismáticos e renovados oferecem algumas lições importantes para as igrejas tradicionais ou históricas. O surgimento e crescente aceitação desses movimentos sugere insatisfação com uma religiosidade formal e rotineira, bem como o desejo de uma experiência mais profunda com Deus, de um culto mais alegre e fervoroso, de uma vida cristã mais plena. O protestantismo histórico, que começou como um movimento revolucionário e renovador, com o tempo se tornou rígido, tradicionalista e rotineiro. Sua rejeição da piedade medieval fez com que se perdessem elementos valiosos da experiência cristã, como o senso de mistério, o deslumbramento diante do Ser Divino, o rico simbolismo espiritual que apela à mente e aos sentidos. O pentecostalismo veio resgatar esses elementos que haviam sido esquecidos pela tradição protestante. Outras contribuições importantes são a insistência na atualidade da mensagem bíblica (tudo o que a Escritura diz é também para hoje), a exuberância do louvor, a ênfase na evangelização (grande parte do crescimento do cristianismo no século 20 resultou do trabalho das igrejas pentecostais), a preocupação com os pobres e marginalizados (libertação do pecado e dos vícios; dignidade humana).[46]

Os especialistas têm feito uma série de conjecturas sobre o futuro do movimento pentecostal.[47] Embora haja diferentes perspectivas, em uma coisa todos concordam: o pentecostalismo veio para ficar. As igrejas herdeiras da Reforma, como a presbiteriana, podem adotar diferentes atitudes: tentar ignorar o movimento pentecostal, como se não fosse relevante; hostilizá-lo, apontando somente para as distorções teológicas e éticas; ou, preferivelmente, interagir com ele, aprendendo lições úteis com essa tradição e ao mesmo tempo procurando influenciá-la, para que se torne mais íntegra e bíblica.[48] Entre as áreas a serem reconsideradas, podem ser apontadas as seguintes: (a) na esfera do culto: liturgia mais alegre, edificante e participativa; hinódia contemporânea com sólido conteúdo bíblico e doutrinário; (b) na esfera das missões: maior ênfase na evangelização, envolvendo todos os membros; reexame das estratégias missionárias (por exemplo, em certas igrejas pentecostais o obreiro deve primeiro plantar uma igreja para então ser consagrado pastor, ao passo que na IPB o grande número de formandos dos seminários não está se traduzindo em crescimento para a igreja); (c) no âmbito social: transformação das igrejas em espaços acolhedores para pessoas de todas as classes e condições; atuação deliberada e sistemática junto às camadas mais pobres da população, levando-lhes o evangelho integral. Também existem algumas contribuições que as igrejas tradicionais podem oferecer aos pentecostais e renovados: seriedade no estudo e interpretação das Escrituras; valorização da boa teologia e das doutrinas bíblicas; compromisso com a ética cristã, especialmente quanto à liderança e finanças; ênfase à santidade tanto quanto ao poder; equilíbrio entre experiência e Escritura, emoções e intelecto, fervor e reverência; valorização da herança cristã.
 

[2] Ver LOPES, Augustus Nicodemus. Paulo e os “espirituais” de Corinto. Fides Reformata 3/1 (jan.-jun. 1998), p. 88-109.
[3] Por exemplo, Calvino escreveu uma obra intitulada “Contra a seita fantástica e furiosa dos libertinos que são chamados espirituais” (1545). Lutero costumava referir-se a eles com o termo Schwärmer, que lembra um enxame de abelhas esvoaçando confusamente em torno da colméia.
[4] Ver MATOS, Alderi S. Edward Irving: precursor do movimento carismático na igreja reformada. Fides Reformata 1/2 (jul.-dez. 1996), p. 5-14.
[5] CAMPOS, Leonildo Silveira. As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouca avaliada. Revista USP, n° 67 (set.-nov. 2005), p. 100-115.
[6] Ver DAYTON, Donald W. Theological roots of Pentecostalism. Peabody, Massachusetts: Hendrickson, 1991 (1987).
[7] Ibid., p. 50.
[8] Ibid., p. 54. Dayton afirma: “O metodismo iria encontrar o seu verdadeiro destino na América” (p. 63).
[9] Ibid., p. 68s.
[10] Ver OLSEN, Ted. American Pentecost: the story behind the Azusa Street Revival, the most phenomenal event of twentieth-century Christianity. Christian History, Vol. XVII, No. 2 (1998), p. 10-13.
[11] DAYTON, Theological roots of Pentecostalism, p. 27. O simbolismo das primeiras e últimas chuvas é tirado de textos como Atos 2.17-18; Joel 2.23, 28-29; Tiago 5.7-8.
[12] Ibid., p. 28.
[13] Para maiores informações sobre Parham e Seymour, ver CAMPOS, As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro, p. 108-112.
[14] O autor teve a oportunidade de visitar esse local em outubro de 2003. A casa da Rua Bonnie Brae está muito bem preservada, sendo administrada por uma instituição denominada Pentecostal Heritage Inc.
[15] OLSEN, American Pentecost, p. 16s.
[16] Dados colhidos pessoalmente pelo autor em outubro de 2003.
[17] Vários autores. Pentecostal quilt: key events and people who’ve made the movement as unique as it is diverse. Christian History, Vol. XVII, No. 2 (1998), p. 18-25.
[18] Ver MATOS, Alderi S. O batismo “em nome de Jesus” no livro de Atos: uma reflexão bíblico-teológica. Fides Reformata 5/2 (jul.-dez. 2000), p. 99-114.
[19] Maria Beulah Woodworth-Etter. Christian History, Vol. XVII, No. 2 (1998), p. 35s.
[20] BLUMHOFFER, Edith L. Sister: Aimee Semple McPherson was the first Pentecostal to become a national sensation. Christian History, Vol. XVII, No. 2 (1998), p. 31-34.
[21] DAYTON, Theological roots of Pentecostalism, p. 21s.
[22] Ver LÉONARD, Émile-G. O iluminismo num protestantismo de constituição recente. São Bernardo do Campo: Ciências da Religião, 1988; MATOS, Alderi S. Os pioneiros presbiterianos do Brasil: missionários, pastores e leigos do século 19 (1859-1900). São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 461-63.
[23] Para um estudo recente, ver RIVERA, Paulo Barrera. A reinvenção de uma tradição no protestantismo brasileiro: a Igreja Evangélica Brasileira entre a Bíblia e a Palavra de Deus. Revista USP n° 67 (set.-nov. 2005), p. 78-99.
[24] FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. Em: ANTONIAZZI, Alberto et al. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994, p. 70.
[25] BRAGA, Erasmo; GRUBB, Kenneth. The Republic of Brazil: a survey of the religious situation. Londres: World Dominion Press, 1932, p. 69s. Todavia, as estatísticas fornecidas indicam que os pentecostais já representavam quase 10% da comunidade evangélica (p. 71, 141).
[26] FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p. 72.
[27] Ibid., p. 132s.
[28] Ver CANÊLHAS, Jorge Alberto. Renovação carismática católica: opção metodológica pentecostal no catolicismo brasileiro. Dissertação de Mestrado, CPAJ, 2000; CÉSAR, Elben M. Lenz. História da evangelização do Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa, MG: Ultimato, 2000, p. 143-147.
[29] Para maiores informações, ver FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p. 100-109.
[30] Ibid., p. 80s.
[31] Ibid., p. 77.
[32] Ibid., p. 86.
[33] Ibid., p. 95.
[34] Para outras informações sobre a Congregação Cristã e a Assembléia de Deus, ver CÉSAR, História da evangelização do Brasil, p. 113-122. Um estudo mais antigo e mais técnico é READ, William R. Fermento religioso nas massas do Brasil. Campinas: Livraria Cristã Unida, 1967.
[35] Para maiores informações sobre esses grupos, ver FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p. 110-129; CÉSAR, História da evangelização do Brasil, p.129-142.
[36] BITTENCOURT FILHO, José. Remédio amargo. Em: ANTONIAZZI et al., Nem anjos nem demônios, p. 24.
[37] MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, pentecostais & ecumênicos. São Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1997, p. 165; ver também a seção “O início do neopentecostalismo no Brasil”, p. 157-59.
[38] Ibid., p. 161; ver ainda as características mencionadas na p. 165.
[39] BITTENCOURT FILHO, Remédio amargo, p. 33.
[40] FRESTON, Breve história do pentecostalismo brasileiro, p. 139. Um estudo clássico sobre a IURD é: CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Simpósio e UMESP, 1997.
[41] Ibid., p. 150s.
[42] Ver O Estado de São Paulo, 1º de dezembro de 2006, p. A24.
[43] Ver ANTONIAZZI, Alberto. A Igreja Católica face à expansão do pentecostalismo; e SANCHIS, Pierre. O repto pentecostal à cultura católico-brasileira. Em: ANTONIAZZI et al. Nem anjos nem demônios, p. 17-23, 34-63. Ver ainda: RUANO, Edgar Moros. A Igreja Católica e o desafio pentecostal. Em: GUTIÉRREZ, Benjamin F.; CAMPOS, Leonildo Silveira (orgs.). Na força do Espírito: os pentecostais na América Latina: um desafio às igrejas históricas. São Paulo: Pendão Real, 1996.
[44] Essa é uma das áreas que têm dado reputação mais negativa aos evangélicos junto à sociedade. Nas recentes eleições presidenciais, um dos mesários da seção eleitoral do autor usava uma camiseta com os seguintes dizeres: “Pequenas igrejas, grandes negócios”.
[45] Paulo Romeiro, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aborda essas e outras distorções em várias obras: Supercrentes (teologia da prosperidade), Evangélicos em Crise (decadência doutrinária nas igrejas), Decepcionados com a Graça (R.R. Soares e sua igreja).
[46] Uma obra que destaca a contribuição do movimento pentecostal na luta pela dignidade dos pobres é: CÉSAR, Waldo; SHAULL, Richard. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs: promessas e desafios. Petrópolis, RJ: Vozes; São Leopoldo, RS: Sinodal, 1999.
[47] Ver CAMPOS, Leonildo Silveira. Protestantismo histórico e pentecostalismo no Brasil: aproximações e conflitos; e FRESTON, Paul. Entre o pentecostalismo e o declínio de denominacionalismo: o futuro das igrejas históricas no Brasil. Em: GUTIÉRREZ e CAMPOS, Na força do Espírito, p. 107-109, 267-72.
[48] É essa a abordagem seguida pelo Rev. Antônio Carlos Costa, do Rio de Janeiro, que, através de programas de televisão e das conferencias anuais que promove em sua igreja, tem despertado grande interesse de muitos pentecostais em relação à fé reformada.

Fonte: Portal Mackenzie

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