Pr. Marcelo Gualberto: "Precisamos ser tomados por uma santa indignação" | |
No 10º Encontro para Pastores e Líderes de Jovens e Adolescentes do JV na Estrada, o palestrante falou sobre o "anestesiamento social" da atualidade |
Por João Neto
Indignar-se de forma santa. Isso é possível? Segundo o Pr. Marcelo Gualberto, tomar esta atitude não só é possível, como também necessário. Como palestrante da noite de 5 de junho, no 10º Encontro para Pastores de Jovens e Líderes, realizado no acampamento do Ministério Jovens da Verdade, em Arujá (SP), o teólogo baseou-se na passagem bíblica do capítulo 16 do livro de Atos para criticar o conformismo presente entre os cristãos atualmente. Se importar mais com conceitos e objetos tidos como ''sagrados'' foi uma das críticas do palestrante em sua pregação.
No trecho lido pelo Pr. Marcelo, Paulo, junto a Silas e a seu discípulo Timóteo, deparam-se com uma moça que tinha espírito de adivinhação. Buscando gerar lucros para os homens que a exploravam, a jovem seguiu o apóstolo e seus companheiros por muitos dias. Indignado, Paulo repreendeu aquele espírito maligno. O preletor lembrou que a indignação do apóstolo foi santa, devido à sua motivação, ou seja, a revolta não se deu contra a moça, mas sim contra os que se aproveitavam dela. ''Paulo foi movido por um profundo senso de compaixão. Ele estava indignado com os homens maus, que a estavam explorando, com o sistema corrupto, porque, na verdade, através das adivinhações geravam-se grandes lucros para esses homens'', apontou.
Origami
Se dobrar diante de Deus, desdobrar-se pela obra e não se dobrar diante de Satanás. Esta foi a interpretação que Gualberto deu ao tema do Encontro, que relacionava os líderes de jovens cristãos ao Origami, dando introdução a uma idéia que perdurou durante todo o Encontro. Em entrevista ao Guia-me, o pastor explicou esta idéia, afirmando que essas três ações precisam ser simultâneas na vida de um líder. ''A gente tem que fazer tudo ao mesmo tempo. Não tem um momento certo para não se dobrar, desdobrar-se ou se dobrar. À medida que eu não me dobro diante de Satanás, diante do sistema, diante dos senhores deste século, ao mesmo tempo eu me desdobro [pela obra], apesar das injustiças, da dor, da humilhação, das incompreensões e ao mesmo tempo que eu tenho que me dobrar diante de Deus, com gratidão, louvor, senso de missão encarnado, com santas expectativas'', afirmou.
Com um exemplo prático, o teólogo ilustrou didadicamente a importância da simultaneidade dessas atitudes. Sendo complementares entre si, elas contribuem de forma essencial, cada uma com a sua importância, para que a obra divina seja bem sucedida. ''É como se você estivesse em um navio. Você está em alto-mar e o navio está cheio de água. Você tem que fazer quatro coisas ao mesmo tempo. Tem que tirar a água, tampar os buracos, seguindo viagem e não perdendo o rumo. É meio difícil, porém não é impossível. Foi assim na vida de Paulo, de Cristo e Paulo falou: 'Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo'. Então, se Jesus é o meu mestre, eu tenho que fazer isso''.
Santa Indignação
A acomodação, não somente da liderança, mas dos cristãos em geral, perante às más notícias foi um tema constantemente lembrado pelo pastor, durante a sua pregação. Segundo Marcelo, a acomodação e a indiferença em relação aos fatos que noticiam tragédias, miséria, violência dificulta o desdobramento das pessoas pela obra divina. ''Eu acho que, hoje, nós perdemos essa capacidade de nos indignarmos. A gente se acostuma com aquilo que não podia se acostumar. Se acostuma com as más notícias, com as crianças sendo mortas, com as meninas se prostituindo, com adolescentes grávidas, até que acontece perto da casa da gente ou na casa da gente, ou no prédio onde a gente mora, ou dentro da nossa própria família'', alertou. Além de apontar o problema, o pastor lembrou que somente reconhecer o erro não é o bastante, mas torna-se necessário agir. ''A gente não pode se acostumar com isso. A gente tem que olhar para essa menina, que é o retrato da juventude de hoje, com essa santa indignação, mas é uma indignação que nos leva à ação''.
Algumas causas do descaso em relação ao sofrimento alheio foram apontadas por Marcelo Gualberto, que lembrou de colocá-las como insuficientes para justificar tanta indiferença. ''Na minha perspectiva nós nos rendemos ao capitalismo, ao sistema, a gente quer estar bem com todo mundo, a gente não quer dar nome aos bois, a gente fica com medo da opinião pública evangélica, com medo do que o outro vai pensar e a gente se preocupa mais com isso do que com o que Deus pensa. Nós estamos acomodados por causa disso. Paulo fala: 'Não vos conformeis com este século'. Ele estava falando: 'Não vos conformeis com a maneira de pensar deste século'', interpretou.
Gualberto não deixou de assumir a sua parcela em toda essa culpa. Confessou que o cidadão acaba sendo envolvido pelo cotidiano, ficando sem tempo para prestar atenção na dor do próximo. ''Eu vejo isso à partir de mim mesmo. Não falo dos outros. Como eu me conformo com este século? A gente é engolido pela própria correria da vida. Tem conta para pagar, tem que levar filho na escola. A luta pela vida está nos consumindo e a gente só quer chegar em casa, esparramar-se na cadeira, tomar uma coca-cola e falar: 'Olha aí! O mundo está perdido mesmo!'. Por isso que Jesus fala: 'Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e me siga'. Nós não estamos seguindo a Jesus. Na verdade, nós estamos só falando que Ele é o nosso mestre, mas não estamos agindo como Ele agiu e estamos muito conformados'', reconheceu.
Via: www.guiame.com.br
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