“Aí está o seu filho”
Ela foi a primeira “meramente humana” a sentir a presença dele — literalmente —, quando ele a chutou com seus pequenos pés, dentro do ventre. Foi a primeira a ouvir suas palavras, que eram sempre a Palavra. Na verdade, ela foi, sem dúvida, a primeira que lhe ensinou a primeira palavra.
Ela estava presente quando ele deu os primeiros passos, e ela fez um bolo em seu primeiro aniversário. Ela o viu sair pela primeira vez para a escola e o segurou nos braços quando ele chegou à sua casa com uma dor de barriga.
Foi ela quem o levantou na primeira vez que ele caiu. Foi ela quem ficou tão assustada quando ele bateu forte a cabeça. Ele chorou e chorou; parecia chorar mais que todos os bebês que ela conhecia. Não é que ele fosse um bebê chorão, e não parecia que ele estava com algum problema mortal. Era como se ele sentisse a dor de um modo mais profundo que os outros, e, apesar de ser apenas uma criança, seus olhos tinham algo de diferente — e até assustador —, que ela guardava consigo mesma, sem nunca dizer uma palavra. O olhar dele não dizia: “Mamãe, faça alguma coisa para que tudo isso vá embora!” Era mais como: “Coisas assim nunca deveriam existir.”
JESUS.
Imagine-se alimentando o Filho do Deus vivo. Imagine-se trocando suas fraldinhas sujas e limpando seu rosto sujo depois das refeições.
Imagine-se observando Jesus brincar com os amiguinhos e fazendo-o ir para a cama mais cedo do que ele gostaria. Imagine-se de pé ao lado de sua caminha e orando por seu futuro. Imagine-se lavando suas roupas e limpando seus cotovelos arranhados. Imagine-o sentado à mesa da cozinha, tomando, aos pouquinhos, um copo de leite e contando-lhe o que havia aprendido na escola naquele dia.
Então, certa manhã, ele se senta diante de você à mesma mesa da cozinha, e você vê que ele está crescendo. Você vê em seus olhos que ele tem de partir. Ele não precisa dizer nenhuma palavra. O olhar em seu rosto diz tudo. Não sei quando a verei novamente, mamãe. Eu amo muito você.
Você lhe prepara uma bolsa, e ele parte. E, a partir desse momento, na maior parte do tempo, você apenas pode observá-lo à distância. Mas, quando tem chance, você o vê mais de perto. Por ser sempre mãe, você fica curiosa para saber se ele está comendo direito e se as pessoas o estão tratando com carinho. Ao mesmo tempo, a vida dele se torna algo muito além daquilo que qualquer mãe poderia sonhar para o filho. E, assim, você o encoraja a seguir em frente.
Às vezes, você tem a chance de se sentar aos pés dele e ouvir suas palavras de sabedoria. Você olha ao redor e vê as multidões. Você vê coxos andando e mortos respirando. Você vê milhares que não tinham nada agora desfrutando de um banquete. Enquanto olha e ouve, você não consegue acreditar que ele é seu filho. Você pensa em todas aquelas vezes em que o segurou contra o peito e embalou o corpo de seu filhinho cansado para fazê-lo dormir.
E, então, um dia, ele está pendendo do madeiro. Você vê como eles cravaram seu filho em um pedaço de madeira. Você pranteia enquanto o sangue dele pinga no chão. Seu próprio filho, ensanguentado, pendendo em um madeiro.
Com o pouco de força que ainda tinha, Jesus fez um sinal com a cabeça para que seu amigo João trouxesse Maria para mais perto da cruz. Ao se aproximarem, Jesus olhou nos olhos de sua mãe e, embora os músculos de sua face estivessem muito feridos para mostrarem isso, no coração ele sorriu.
Então, do mesmo modo como fizera ao longo de muitos anos, ele cumpre a promessa que fez ao lado do túmulo do pai. Ele faz exatamente o que sempre fizera — exatamente quem ele sempre fora. Mesmo nesse que era o mais terrível dia, ele deixa tudo de lado para cuidar de sua mãe. “Querida mulher, aqui está seu filho”, ele sussurra através do inchaço e da dor. “Aqui está sua mãe.”
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