sábado, janeiro 16, 2010

Elegia da Mulher Adúltera (Jo 8.1-11)

Elegia da mulher adúltera (Jo 8.1-11)


Dói demais esta condição
De não ser de ninguém
Entregue a qualquer um
Ao custo de qualquer vintém.

Dói demais me ver vil
Os olhares me desviam
Sou como um bicho
Ninguém me dá a mão
Todos me oferecem o não.

Dói demais ser quem sou
E me ver arrastada pelas ruas
Como criminosa vil e nua
Meus braços e joelhos feridos
Arrastados pela dolorida rua.

Dói demais ser julgada
Nunca fui inocente
Somente condenada
Meus olhos fecham
Ante a possível pedrada.

Dói demais ver meu nome
Escrito com dedo na areia
Por este que lhe colocam
A deferir meu terrível destino.

Dói demais ver todos
A me olharem com nojo
Com suas pedras em punho
A querer matar por este dolo.

Dói demais o silêncio
Fecho aflita meus olhos
Esperando o sentenciamento
Dos que não tem pecados
Daqueles santos imaculados.

Dói saber que fui salva
Não vejo mais ninguém
Nenhuma pedra em punho
Somente alguém abaixado
Escrevendo um rascunho.

Dois saber que aquele texto
Era minha vida, minha biografia
Escrita com dedo, por aquele
Que nem ao menos conheço
Mas teve misericórdia de minha vida.

Olho tão belo homem
Ele pergunta onde estão
Os de pedras na mão
Digo que foram em silêncio
Não me condenaram mais.

Ele me olha ternamente e responde
A dor que sentes, não será mais dor
Livre estás de todo este horror
Eu te perdôo pelo que fez
Vai em paz e não peques mais.

O que era dor, não é mais
Agora sinto plena paz
O que era, não sou mais
Tenho completa liberdade
Escravidão, adeus, até nunca mais.

(Thiago Azevedo
Fonte: Manga e Poesia

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