quarta-feira, janeiro 13, 2010

A Evolução dos Pastores Na Telinha

Pastores da telinha

por: Ana Paula Ramos

Rex Humbard Pare e dê uma olhada na sociedade brasileira dos anos 70 até nossos dias. Veja as conseqüências do que se pode chamar de modernização e não esqueça de suas bases capitalistas. Constate suas transformações e como elas afetaram diretamente a forma de discurso das igrejas.

A modernização trouxe alguns questionamentos para as igrejas em nível ideológico, como seu desempenho na sociedade moderna. Realmente, frente a tantas mudanças, o trabalho das denominações religiosas com a nova sociedade massificada tornou-se praticamente nulo. O que quase obrigou a igreja a repensar sua forma de abordagem e renovar algumas peculiaridades para não perder seus fiéis.

Segundo Felix Wilfred, em artigo para a Revista Internacional de Teologia, as religiões em fase da globalização teriam que passar por uma metamorfose. Noutras palavras, transformar-se numa religião com embalagem atraente para ser acoplada pela aldeia global.

Além das mudanças, surge a competição ideológica. As igrejas não enfrentam apenas a sociedade moderna, mas a indústria cultural. A força desta indústria só tem aumentado se tornando uma briga desleal para igreja. É a mídia que passa a definir os padrões éticos da sociedade. Exatamente a área de atuação da igreja.

O ditado "se não pode com ele, junte-se a ele" surgiu como uma alternativa; e assim se fez. E eis que para igreja tudo pareceu muito bom. Cunhou-se assim o nostálgico termo "igreja eletrônica", que compreende a explosão dos programas religiosos, em especial evangélicos.

Vale lembrar que a televisão brasileira começou com um padre, o Frei Mojica. Este surgiu no vídeo cantando seus antigos sucessos, na primeira transmissão da TV Tupi de São Paulo, em julho de 1950.

Uma década à frente, figuras de televangelistas, como Rex Humbard, Jimmy Swaggart, Pat Robertson e Benhard Johnson se tornaram "parte da família" de milhares de lares brasileiros. Os programas eram transmitidos geralmente aos sábados ou domingos pela manhã, campeões de audiência entre o público cristão. Suas características? Carisma, eloqüência, emoção. Enfim, comunicadores em potencial.

Nos Estados Unidos, a igreja eletrônica ganhou força na década de 60, no meio da tensão e confusão social causada pela Guerra do Vietnã. Geralmente as igrejas ficavam repletas depois de abalos como este. As pessoas buscavam paz e segurança em Deus. Essa explosão foi reflexo da insegurança da época, como ocorreu após o atentado terrorista de 11 de setembro.

Com a onda de religiosidade e misticismo exacerbada, os pastores perceberam que a TV era uma forma eficaz para alcançar maior número de pessoas. A pregação passaria a ser em larga escala, alcançando mais resultados que os cultos. Com todo o clima a favor das igrejas, a idéia rapidamente se alastrou pelos Estados Unidos e por todo o mundo, até chegarem ao Brasil.

O pioneiro

Rex Humbard O pastor Rex Humbard era mais que um pastor, um gênio de acordo com Carlos Cabral, em artigo para a revista eletrônica Telecentro. Conseguia reunir multidões nos estádios e auditórios. Sua função era pregar, gritar, chorar e arrecadar dinheiro, é claro.

Humbard foi o primeiro a deixar sua marca na TV brasileira. Sua pregação era conservadora e seu discurso baseado nos valores familiares. Como testemunho, sua família também participava dos programas. Maudee Aimee, seus dez filhos e dezenas de netos, todos em trajes comportados, cantavam hinos com o pregador.

Seu apogeu foi marcado em 1982 quando colocou 180 mil pessoas dentro do Maracanã, no Rio. Rex Humbard também ficou famoso por ter sido o pastor de Elvis Presley em seus últimos anos de vida e juntamente com o reverendo C. W. Bedley dirigiu a cerimônia fúnebre do cantor.

Foi Humbard que trouxe a benção do copo d'água a distância. Usada até hoje num dos programas da Record, em que um pastor abençoa o copo com água de todos os telespectadores. Ele começou sua carreira na Tupi, mas com o fechamento da TV outros canais começaram a transmitir seus programas.

Digno de Hollywood

Jimmy Swaggart Com o tempo, apareceram alguns sucessores. Surgia no vídeo de outras emissoras mais um pastor. O principal dele era Jimmy Swaggart, o showman da fé. Ele viajava o mundo fazendo seus milagres.

Com seu um metro e oitenta, cabelos louros e pelo jeito bem "enxuto" como diriam algumas fiéis - ou fãs, como queira -, Swaggart também conquistou multidões com seu talento. Além de pregar, ele cantava, chorava, gesticulava e fazia suas interpretações diante das câmeras. Quando Swaggart esteve no Maracanã, em 1987, teve direito a limusine, batedores, camarim, plumas e paetês. Um verdadeiro astro hollywoodiano.

Ele era pastor da Assembléia de Deus em Baton Rouge, Chicago. Sua pregação, carregada de apelo emocional, transmitia a ideologia norte-americana. Além de pregar contra o comunismo, Swaggart financiou a campanha contra o governo sandinista da Nicarágua.

Houve até comentários que ele seria o sucessor natural de outra figura do televangelismo, o pastor batista Billy Graham, que viajou o mundo fazendo seus programas religiosos e se consagrando uma mega-estrela deste segmento.

Escândalos

Em 1981, surgia Roberto Lemgruber. Na verdade, ela era mais milagreiro que pregador. Curava cegos, surdos e mudos e aumentava audiência do programa O Povo na TV, no então recém-nascido SBT. Até que alguém descobriu o farsante. Suas curas não eram verdadeiras. Lemgruber fez seu último "milagre" e desapareceu.

Com o passar do tempo, escândalos como este foram surgindo. Além das farsas, problemas financeiros e morais marcaram o fim da igreja eletrônica. Ao contrário de Billy Graham, que manteve sua integridade pessoal, Jimmy Swaggart se envolveu em um escândalo sexual de repercussão mundial. Depois de comprar briga com o pastor Bakker, acabou pagando o preço. O pastou flagrou Swaggart entrando num motel com diversas prostitutas. Diante da cena, ele só teve o trabalho de confessar. O programa logo saiu do ar no Brasil. Este foi só um dos casos.

Mesmo que a igreja eletrônica da década de 60 e 70 tenha desaparecido, ela foi a grande propulsora dos programas evangélicos que invadem a TV atualmente. O televangelismo deste pastores foi também precursor do surgimento de uma igreja que em 1977 surgiu para revolucionar tudo o que existia na TV.

Começando no subúrbio do Rio, o famoso bispo Edir Macedo Bezerra passou a ocupar os horários das rádios e televisores do País. Algum tempo depois, a Igreja Universal do Reino de Deus comprou um canal na TV aberta e passou a concorrer com as grandes emissoras.

Assim, a religião se tornou parte da indústria cultural. Uma coisa é certa: quanto mais sentidos são estimulados numa pessoa, menos eficaz é a mensagem. A TV, em certo sentido, atinge todos. A mensagem é tão mastigada e pronta que não permite uma mínima reflexão. Assim, as igrejas começaram a trabalhar como uma empresa. E como a indústria cultural faz da cultura, um bem que se vende para a obtenção de lucro.

Os dados históricos desse artigo basearam-se na reportagem "Você se lembra deles?", da revista Eclésia (março/03), na matéria "Erguei as mãos", da revista eletrônica Telecentro, e no artigo "Os discursos alternativos", de Luiz Roberto Benedetti, na revista Comunicarte

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