quarta-feira, junho 02, 2010

Impercepção Social Numa Era Pós Moderna.


“Impercepção Social”. Essa palavra nem existe em nossa língua portuguesa, aliás, esse é um título ultra-idealizado e complexo demais para o assunto, que na verdade é algo simples, mas incompreendido no âmbito religioso. Talvez devido tantas complicações da igreja pós-moderna.

O próprio termo “igreja”, por exemplo, tentamos reduzir a um lugar, isso tem expressado medíocres significados como somente um local de diversas atividades, onde pensamos literalmente pra dentro; templos que precisam ser belos, confortáveis, traduzindo um super contraste da igreja primitiva que humildemente ostentava suas singelas capelas com torres e sinos; mais conveniência, trazida dos shoppings, das compras, da publicidade; nossa era mediatizada, cercada de centros urbanos; nossos produtos acompanhados de status, que vendem, agregados de nosso padrão de comportamento das vitrines dos filmes, das novelas, através das marcas, do estilo de vida das grandes metrópoles, modelos, padrões, etc. Tudo bastante esteticamente atrativo. Mas e nosso compromisso com a igreja essência?

Eu poderia apontar dados estatísticos do crescimento da igreja. Mas como mensuraríamos quanto à igreja cresceu? A Santa e Imaculada?

Eu vejo que temos hoje somente a manutenção das grandes estruturas organizacionais, chamadas denominações evangélicas, a qualquer custo. É até engraçado dizer assim porque a bíblia trata a alma como algo de valor incalculável, mas algo tão valioso tem sido o preço, vidas e vidas que ficam a beira dessa estrada que decidimos trilhar, na mídia, com templos enormes, estruturas macroeconômicas, projetos gigantescos, sistemas e gestões superempreendedoras.
Pergunto-me, somos mesmo a extensão do Cristo sentado na fogueira com seus discípulos? Não sou contra o crescimento das instituições, com certeza não, sou a favor de mais templos e menos bares, mais qual a viabilidade social dessas estruturas, ou melhor, de nossas administrações desses templos? Daí que vem a “imperceção” pra intitular meu texto, vivemos a igreja imperceptível em uma sociedade que também não é percebida na igreja instituição. Redundante? Mas assim tem girado nossa atual roda gigante.

Cuidar do órfão, da viúva, o “Ide” a começar por nossa família... Pensando globalmente e agido localmente, onde você está? Com certeza por efeito de logística e viabilidade Deus te colocou aí.

Evangelizar sempre como orienta-nos Francisco de Assis, é a missão integral, local, vital, nossa, nós.

Há um contraste nessa missão. Existe uma antítese quando ela começa dentro de nós. Nós? Nós, que pretendíamos apenas colaborar financeiramente, daí percebemos que ela está dentro de tudo que somos e do ambiente no qual habitamos. Descobrimos que envolve amigos, família, nossa carreira profissional, nossos estudos, nossa cidade, nosso ambiente social, o copo de água que tomamos de manhã, o planeta como um todo. É espantoso quando a percebemos tão perto, quando podemos quase tocá-la, que nos identificamos com a igreja primitiva onde tudo era comum, permanecíamos juntos, enxergávamos o próximo na perspectiva do segundo maior mandamento, de maior experimentador do mesmo, simplesmente o grande autor, o Leão. O que estamos fazendo? Qual é nosso reino tomado a força? Nossa humildade conquistada em pequenos detalhes?

Pensemos na comunhão, na construção dela, em como fazemos isso, nos relacionarmos com o outro. Era pra ser fácil, mas está complicado ser comum. Nossa unidade conquistada na cruz, a comunhão transpassada, a humildade que veio da coroa de espinhos, vencida, que venceu, nossa morte consumida por um Deus vivo para a vida.

Quando fazemos retiros, acampamentos, quando tiramos nossas mascaras pra viver tudo isso que foi comprado na cruz, nos “destransvestimos”.

Patch Adams, lembra dele? Reinventou a medicina, pois se perguntou: Somos ou não somos comuns, médico e paciente? Às vezes o paciente é médico e o médico vira paciente, isso é uma loucura. Você aprende com a comunhão, entende coisas que antes só passavam na sua frente, mas não compreendia a profundidade delas. É como olhar o mar da praia, a gente nem imagina a quantidade de coisas que existem nas profundezas das águas. Patch usa roupas de palhaço sempre, quando vai comprar pão, quando vai trabalhar, quando vai ao parque... Tem sempre um nariz vermelho com ele...rs

Nós somos igreja sempre? Mas por onde anda nossa comunhão quando saímos das quatro alvenarias de divisão externa do templo? Pensemos nas estruturas espirituais de comunhão. Deus tem moldado e erguido seu templo-igreja através de nossas vidas e de nossos dias. Um templo espiritual. É certo que já ouvimos algo sobre isso, sobre sermos alicerces, tijolo, paredes, colunas, telhado, janela, como parte desse projeto chamado comunhão, Igreja uma com Cristo. Entretanto, onde estão as Samaritanas, os Zaqueu’s, os Judas de nossas histórias como “pequenos Cristos”, essa comunhão nos leva a eles, estamos indo as eles? A igreja vai a eles, a Esposa vai junto ao Esposo.

O que é precioso? Quais os tesouros que trouxemos de nossa jornada chamada amor ao próximo? Que fruto nós colhemos quando lançamos nossa rede chamada santidade? Comunhão.

Nós nos enclausuramos, talvez por medo, que era pra o perfeito amor lançar fora. Temos postura/máscara de trabalho, roupa para trabalho, outra para igreja, outra de pai, nos vestimos de amigo, de pastores, de filhos, de... Etc. Precisamos comermos juntos de novo, assentarmos à mesa, brincarmos, nos rendermos às obras dessa construção chamada comunhão, às palavras, escritas e faladas aos sorrisos, aos abraços, aos olhares de amor.

Reflitamos na extensão dela. Acredito que podemos tirar nossas máscaras de gás à medida que permitimos que a essência do genuíno evangelho seja borrifado pelo coração do Pai, pulverizando a terra do bom perfume de Cristo.

Tenhamos o coração puro, inocente, aquele que Cristo garimpa em nós para que entremos nos céus, pois a comunhão só pode acontecer através desse coração. Aliás, de comunhão é feito o céu. O céu do filho que é um com o Pai e assim reciprocamente. Comunhão é experimentarmos desse céu onde estivermos e para isso precisamos de muita percepção.

Comunhão dos achados e perdidos, resposta de DEUS para esse sistema incoerente e prostituído por sofismas, incorporados e veiculados. Levantemos nossas faixas, placas e bandeiras em protesto pela verdade transdérmica, constante, frenética, que acontece agora, Cristo. Pois comunhão não é só um tema interessante para se escrever ou ministrar no culto, é algo para experimentarmos. Esse é o escopo da palavra, comum. Experimentar o comum, a beleza e a alegria de quando vemos seu real sentido no olhar, nas mãos que acenam, do amor racional, sentido, vivido, vivo. E ela não cabe nessa nossa péssima relação com o tempo.

Estamos aqui, 2010 anos DC, em uma época marcada pelos bens de consumo de fácil acesso, créditos absurdos, sonhos aproximados, velocidade da informação, avanços tecnológicos, essa ligação do homem com objetos, que se tornam obsoletos em semanas, e a transferência disso tudo para nossos relacionamentos interpessoais. Hoje, conversamos mais por meios digitais do que pessoalmente.

Qual nossa experiência? O que Deus tem nos ensinado nas lutas que perdemos, nas fotos que agridem nosso ego e formam nosso álbum interior de comunhão?

Remeta-nos Deus a essa essência do amor da cruz e se for preciso, escalpele nosso eu para um coração puro. Dê-nos inocência para entender sem que ninguém precise explicar, sorrisos, abraços, brincadeiras, nos descobrindo, nos misturando com nossos medos, nossas dores, nossos sonhos, nossas experiências, nos confundindo com um só...

Será que somos tão diferentes assim ou somos o mesmo barro com formas diferentes? E se viemos do mesmo barro, entenderemos o abraço, decodificaremos olhares tristes, saberemos quando o próximo nos toca sem dizer uma só palavra.

Com tudo minha oração hoje segue assim.

"Enxergarmos os dois grandes mandamentos de Cristo, acontecendo em nossas vidas. O amar a Deus sobre todas as coisas, (criador da comunhão) e ao nosso próximo como a nós mesmos. Esse é o verdadeiro start da comunhão. Estamos falando aqui simplesmente e tão somente do grande amor de Cristo. Quem o tem, vai entender e viver sem palavras todos os dias." I Timóteo cap.1 vers. 5

Jonatas (Tanga)

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