O Deus ferido
Estamos machucando o coração de Deus.  Deus não é uma máquina, é um Ser. Ele não funciona, se relaciona. Nas  páginas do Antigo Testamento há uma abundância de textos sobre o Deus  que sofre. As imagens mais constantes que os profetas utilizam sobre  Deus são: pai e amante. Pai decepcionado e amante traído. O Deus do  Antigo Testamento é passional: sofre, é intenso, preocupado, ativo -  tudo, menos indiferente! Essa verdade me atinge em cheio: o que somos (e  o que fazemos) toca Deus em sua profundidade. 
Ouso  afirmar: Deus está ferido!
Ferido por  nossa indiferença: somos uma igreja onde Deus não é bem-vindo.  Confundimos "Papai do céu" com "papai Noel". Alteramos seus padrões.  Quebramos seus votos. Desonramos seu precioso nome. Ferimos sua  sensibilidade quando nos prostituimos com os deuses da mistura. Quando  nos tornamos deuses de nossa própria rotina.
Deus  está ferido por nosso distanciamento: afastamos o sagrado de  sua casa. Convidamos os mercadores para que retornem ao templo.  Expulsamos viúvas pobres. Exorcisamos pessoas. Valorizamos posses e  poderes. Amamos as trevas, pois elas ocultam nossas faces distorcidas.
Deus  está ferido por nossa duplicidade: por nossos jogos de  manipulação. Por nosso amor declarado a tudo que vende. Pelos  favorecimentos descarados. Por hipocrisias que já não envergonham. Por  renúncias que não provocam dor. Somos duplos: tatuados de sagrado,  tentamos esconder as marcas do profano. Vestidos com o manto da fé,  cobrimos a nudez horrenda de nossas superstições indecentes. Tudo isso  dói no coração do Único.
Deus está ferido por  nosso falso amor: Deus chora ao ver que não tratamos as pessoas  com o devido cuidado. Ele geme ao perceber segundas e terceiras  intenções em cada aproximação. Deus se contorce ao ver nos cultos,  desejos ocultos de levar vantagem ainda que ao preço da destruição dos  sonhos alheios. É doloroso para o Pai saber que seus filhos são moedas  de troca no balcão da celestialidade diabólica.
Deus nos  pede somente uma coisa: ARREPENDIMENTO! Choremos  lágrimas sinceras. Amemos com um reto coração. Sejamos verdadeiros.  Ainda há tempo! Como o pai do filho pródigo, que esperava o retorno do  filho amado (Lc. 15. 20), o Pai por excelência nos aguarda. Que nossos  corações voltem a ser ofertados no altar do Deus que cura nossas  feridas, sem inversões de papéis. 
Shakespeare dizia que "quem  nunca foi ferido, zomba de cicatrizes". Não zombe da dor sincera  de Deus.

Um comentário:
Tremendo o texto! E tremenda verdade!
Deus abençoe!
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