Maicon.
MENTIRA DE HOJE: A BÍBLIA É O LIVRO DE CONSTANTINO
Este senhor aí, para quem não conhece, é o ator inglês Ian Mckellen. Sou um grande admirador de seu trabalho, principalmente pelos papéis que já interpretou. Ele conseguiu a façanha de interpretar alguns dos personagens que mais marcaram a minha vida como leitor. Dos gibis dos X-Men ele assumiu o preconceituoso Magneto; das cativantes páginas de O Senhor dos Anéis ele é o poderoso mago Gandalf e das polêmicas religiosas do Código da Vinci de Dan Brown ele é o Sir Leigh Teabing, um historiador cético e que admite que Maria Madalena e Jesus tiveram um caso e inclusive uma descendência. Vejamos uma de suas falas mais ‘interessantes’ no filme/livro de Dan Brown.
“A ironia fundamental do cristianismo! A Bíblia, tal como hoje a conhecemos, foi coligida por um pagão, o imperador romano Constantino, o Grande. Em 325 d. C. resolveu unificar o império sob uma única religião: o cristianismo. A Bíblia é um produto do homem, minha querida, não de Deus!”
Trata-se de uma exposição de Sir Leigh Teabing a Langdon e Sophie, na qual ele demonstra a ‘farsa’ do Cristianismo e de seu Livro Sagrado. Pra quem não conhece a história do Cristianismo os argumentos de Teabing são fantásticos e podem, sem sombra de dúvida, mostrar quão ridículo é postular que um livro seja Palavra de Deus já que foi compilação de um bando de marionetes de Constantino.
Pensemos juntos então. Segundo o texto de Dan Brown a Bíblia teve assumida a autoridade desses livros e esta formulação canônica no século IV, certo? Olhando para a história da formação do cânon poderemos observar vários fatos que demonstram que Constantino não impôs qual seria o texto da Escritura, mas simplesmente reuniu homens capacitados para formularem um cânon e com isso, temos a Bíblia com estes 66 livros desde o fim do século II e no mais tardar início do século III. Quanto ao Antigo Testamento não me aprofundarei muito, pois ele era o texto usado pelo próprio Cristo (inclusive hoje temos acesso a cópias mais antigas do que as dos tempos de Jesus) e pelos judeus até ao dia de hoje, apesar da distribuição (ou divisão) diferente.
Quanto ao Novo Testamento temos alguns fatores que advogam em favor da autoridade de um livro. Dentre eles podemos citar a aceitação dentro das comunidades cristãs do primeiro século, conformidade doutrinária com os demais escritos, testemunho dos Pais da Igreja que eram teólogos dos primeiros séculos e muitos deles eram discípulos diretos dos apóstolos de Jesus. Quanto a isso observemos algumas questões.
Policarpo, um pai da igreja da metade do segundo século já mencionou quase todo o Novo Testamento em seus escritos, provavelmente antes do ano 150 a.D. ele deixou fora de suas alusões os seguintes livros: 2 Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Apocalipse. Um contemporâneo dele, chamado Irineu de Lião deixa de fora apenas Filemon, Tiago, 2 Pedro e 3 João, ou seja, antes do fim do segundo século, apenas quatro livros ainda não eram reconhecidos como inspirados e de total autoridade dentro da igreja cristã. Porém, no início do século IV, talvez até o ano de 315 a.D. um Pai da Igreja de nome Atanásio já havia reconhecido TODOS os livros do Novo Testamento como inspirados por Deus o que nos mostra que, pelo menos, 10 anos antes de Constantino os Pais da Igreja já haviam sacramentado o cânon como hoje o é.
Além do testemunho dos Pais da Igreja podemos também recorrer aos cânones dos primeiros séculos que, nada mais eram, do que as ‘Bíblias’ da época ou os livros ajuntados por determinado grupo de crentes para tê-los como seu manual litúrgico e regra de fé. O Códice Muratório (ou Muratori) datado do ano 170 a.D. contava em seu conteúdo com todos os livros do Novo Testamento exceto os de Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, porém o Barocócio que é de 207 a.D. conta com todos a exceção de Apocalipse, que já fazia parte de 90% dos outros cânones usados na época, inclusive do Muratório que acabei de citar. Esses dados históricos só servem para nos mostrar que de modo algum Constantino, no século IV, teria sido quem ‘demarcou’ quais livros fariam parte do cânon, pois no ano de 207 a.D. ou no mais tardar 315 a.D. TODOS os livros que temos nas nossas Bíblias (protestantes, reformadas, históricas) atualmente já eram de uso da igreja e que Constantino não teve qualquer relação com esta escolha, pois os líderes da igreja da época o fizeram antes mesmo de qualquer concílio que só serviu pra definir uma regra geral.
É fato que Constantino convocou e patrocinou o Concílio, que algumas (e muitas) lacunas doutrinárias ficaram abertas, mas a questão canônica, da forma exposta por Dan Brown, chega a ser um erro infantil e digno de alguém que não fez qualquer questão de se informar acerca da verdadeira história da formação do texto da Sagrada Escritura. A mentira de Teabing é mais uma das que os homens contam e peço a você, crente, fiel, piedoso e que se preocupa em defender as verdades bíblicas que busque sempre as informações desta natureza, pois isso é o que temos como mais forte argumento extra-bíblico para nos defendermos do mundo que nos ataca e avassala a cada dia.
Fonte: Cristianismo Pensante
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