Ensaio de João Tomaz Parreira
«E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam». Actos 16,25
Nesta narrativa interativa , porque designa apenas numa frase uma pluralidade de acontecimentos, sobretudo uma prática comum aos cristãos - o Louvor- , Lucas dá-nos algo mais que uma fórmula litúrgica, no que concerne aos hinos que os apóstolos entoavam. Estudiosos afirmam até que tais hinos não pertenciam aos salmos do Hallel. Assim, ocorre-nos perguntar que cânticos seriam?
No nosso trecho bíblico, o apóstolo Paulo assumiu como praxis pessoal, nos calabouços sombrios e húmidos de uma prisão macedónia, o que recomendava à Igreja de Éfeso, designadamente o uso de salmos e hinos e cânticos espirituais.
Alguns desses hinos estão no Novo Testamento, encaixados e preservados no Texto Sagrado, sendo que por vezes a linguagem da hinódia cristã tenda a ser difícil de interpretar.
Outros, porém, de uma clareza absoluta, pelo seu carácter de catequese, o que era para os cristãos do I Século imprescindível.
Os musicólogos dos vários períodos bíblicos, designaram assim a herança musical do Velho para o Novo Testamento: -a Era Bíblica, cerca de 2000 a.C até 100 d.C; - a Era do Cristianismo Primitivo, que foi do ano 100 até à Reforma.
Em qualquer dos casos, os cânticos espirituais tiveram influência no ensino bíblico, no modo de louvar e glorificar Deus, foram pedagógicos e não poucas vezes tiveram um valor psicológico como amparo da Fé no meio das perseguições ou tribulações dos crentes e da Igreja.
Depois dos Salmos e da sua incontornávl utilização litúrgica, a Igreja dos Actos dos Apóstolos terá usado o Magnificat, o chamado Cântico de Zacarias, o Nunc Dimitis de Simeão, porque representavam uma primeira hinódia conhecida, sem dúvida numa perspectiva do Velho Testamento, mas sempre apontando a Salvação levantada em Israel para a Humanidade.
Há quem mantenha a afirmação de que o Prólogo Joanino( «En arche en o logos...» ), na totalidade dos 18 versículos ou em parte, foi cântico espiritual na Igreja pelo seu conteúdo básico de teologia e cristologia. Era uma resposta inicial às grandes questões cristológicas que então o gnosticismo colocava.
«Os primeiros versos são obviamente um poema à maneira dos Estóicos»- refere
a Encyclopedia Americana. Diz esta ainda que «o Prólogo apresentou-se sob a forma de um hino, cantado na comunidade joanina antes de estar no início do Evangelho de João».
Mas os grandes(pequenos) hinos das várias igrejas fundadas pelo Apóstolo Paulo, em particular, e da Igreja Primitiva de um modo geral, estão nas Cartas paulinas. É curioso até verificarmos que no Novo Testamento grego, que procura até aos nossos dias trazer-nos os manuscritos originais, cada uma das passagens que são esses hinos cristológicos exibe os mesmos em forma de poesia. Assim tais hinos aparecem, na tradição cristã, desde as epístolas à tradição oral da Igreja do primeiro Século: Filipenses 2, 6-11 Colossenses 1, 15-20 I Timóteo 3, 16 até o próprio trecho da Carta aos Romanos 11, 33- 36.
Estes são considerados os principais. Existem, porém, mais, no interior de outras Epístolas paulinas e na I de Pedro.
A própria História Universal, ainda que ligada a aspectos particulares do modo como os primitivos Cristãos eram vistos pelo Império Romano, não deixa de vir testemunhar sobre o uso dos hinos.
Sabe-se que Plínio, o Moço (61-114 d.C), nas Epístolas X, 96, dirigidas a Trajano, elabora um pedido de « instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo». O historiador romano referia que tais louvores em forma de hino eram dirigidos a «Christo quase deo».
Todos os hinos cristãos primitivos, seguindo primeiro o Novo Testamento e só depois alguma tradição histórica, apontavam sempre para a Cristologia. Era e é o senhorio universal de Cristo Jesus, a sua essência e origem divinas que neles são cantados. Os hinos eram por assim dizer pedagogia, tinham plasmada parte da doutrina dos apóstolos.
-Filipenses 2, 6-11
«Cristo Jesus,
que, sendo em forma de Deus,
não teve por usurpação ser igual a Deus.
Mas aniquiliou-se a si mesmo (...)
sendo obediente até à morte,
e morte de cruz.»
Considerado paradigma do hino cristológico, segundo argumentos de tradição oral antigos que saem do Novo Testamento, contém duas estrofes que ensinam ao crente a doutrina do esvasiamento de Cristo e a Sua exaltação. Ao ser entoado, o cristão primitivo comunicava a si próprio e à comunidade o percurso do Filho de Deus desde a eternidade (ser em forma de Deus) até à Cruz (obediente como servo sofredor), depois culminando com a glorificação. Na verdade, é já um clássico que consagra na bibliografia das doutrinas teológicas do NT a quenótica - do grego kenós e kenósis.
-Colossenses 1, 15-20
«O Filho do seu amor
O qual é a imagem do Deus invisível,
o primogénito de toda a criação»
Este hino celebra essencialmente o senhorio univesal de Cristo. Com este argumento, o cristão pimitivo era convidado ao louvor e, em seguida, a considerar o senhorio do Filho de Deus, Senhor da Criação e Mediador da reconciliação.
-I Timóteo 3,16
«Aquele que se manifestou em carne,
foi justificado em espírito,
visto dos anjos,
pregado aos gentios,
crido no mundo,
e recebido acima na glória»
Declaração cristã do Século I, também considerada pelos estudiosos como um cântico do Mistério Cristológico. O seu preâmbulo «Grande é o mistério da piedade» foi uma maneira de se opor à expressão contemporânea « grande é a Diana dos efésios».
Num nivel histórico, é legítimo que nos perguntemos que hinos cantavam Paulo e Silas, na prisão. Seria um desses, referenciado acima? Ou outros como os que
o próprio apóstolo Paulo transcreve na carta aos Efésios, 5,14, ou o apóstolo Pedro escreve na sua Iª, 2, 22-24. Expondo ambos o que o profeta/poeta Isaías escreveu séculos antes.
Contudo, os comentaristas põem mais empenho no facto dos apóstolos estarem a «gloriar-se no meio da tribulação », mais do que uma preocupação sobre que cânticos seriam esses. Tratava-se de uma lição de vida e do ideal cristão, a alegria por ser achado digno de sofrer por Cristo.
J.N.Darby afirma, no seu comentário ao Livro dos Actos, que «Paulo e Silas cantam, em vez de dormirem, na prisão.»
Se cantavam, entovam hinos, tais cânticos tinham uma mensagem, sem dúvida a poesia vertida em teologia.
«E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam». Actos 16,25
Nesta narrativa interativa , porque designa apenas numa frase uma pluralidade de acontecimentos, sobretudo uma prática comum aos cristãos - o Louvor- , Lucas dá-nos algo mais que uma fórmula litúrgica, no que concerne aos hinos que os apóstolos entoavam. Estudiosos afirmam até que tais hinos não pertenciam aos salmos do Hallel. Assim, ocorre-nos perguntar que cânticos seriam?
No nosso trecho bíblico, o apóstolo Paulo assumiu como praxis pessoal, nos calabouços sombrios e húmidos de uma prisão macedónia, o que recomendava à Igreja de Éfeso, designadamente o uso de salmos e hinos e cânticos espirituais.
Alguns desses hinos estão no Novo Testamento, encaixados e preservados no Texto Sagrado, sendo que por vezes a linguagem da hinódia cristã tenda a ser difícil de interpretar.
Outros, porém, de uma clareza absoluta, pelo seu carácter de catequese, o que era para os cristãos do I Século imprescindível.
Os musicólogos dos vários períodos bíblicos, designaram assim a herança musical do Velho para o Novo Testamento: -a Era Bíblica, cerca de 2000 a.C até 100 d.C; - a Era do Cristianismo Primitivo, que foi do ano 100 até à Reforma.
Em qualquer dos casos, os cânticos espirituais tiveram influência no ensino bíblico, no modo de louvar e glorificar Deus, foram pedagógicos e não poucas vezes tiveram um valor psicológico como amparo da Fé no meio das perseguições ou tribulações dos crentes e da Igreja.
Depois dos Salmos e da sua incontornávl utilização litúrgica, a Igreja dos Actos dos Apóstolos terá usado o Magnificat, o chamado Cântico de Zacarias, o Nunc Dimitis de Simeão, porque representavam uma primeira hinódia conhecida, sem dúvida numa perspectiva do Velho Testamento, mas sempre apontando a Salvação levantada em Israel para a Humanidade.
Há quem mantenha a afirmação de que o Prólogo Joanino( «En arche en o logos...» ), na totalidade dos 18 versículos ou em parte, foi cântico espiritual na Igreja pelo seu conteúdo básico de teologia e cristologia. Era uma resposta inicial às grandes questões cristológicas que então o gnosticismo colocava.
«Os primeiros versos são obviamente um poema à maneira dos Estóicos»- refere
a Encyclopedia Americana. Diz esta ainda que «o Prólogo apresentou-se sob a forma de um hino, cantado na comunidade joanina antes de estar no início do Evangelho de João».
Mas os grandes(pequenos) hinos das várias igrejas fundadas pelo Apóstolo Paulo, em particular, e da Igreja Primitiva de um modo geral, estão nas Cartas paulinas. É curioso até verificarmos que no Novo Testamento grego, que procura até aos nossos dias trazer-nos os manuscritos originais, cada uma das passagens que são esses hinos cristológicos exibe os mesmos em forma de poesia. Assim tais hinos aparecem, na tradição cristã, desde as epístolas à tradição oral da Igreja do primeiro Século: Filipenses 2, 6-11 Colossenses 1, 15-20 I Timóteo 3, 16 até o próprio trecho da Carta aos Romanos 11, 33- 36.
Estes são considerados os principais. Existem, porém, mais, no interior de outras Epístolas paulinas e na I de Pedro.
A própria História Universal, ainda que ligada a aspectos particulares do modo como os primitivos Cristãos eram vistos pelo Império Romano, não deixa de vir testemunhar sobre o uso dos hinos.
Sabe-se que Plínio, o Moço (61-114 d.C), nas Epístolas X, 96, dirigidas a Trajano, elabora um pedido de « instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo». O historiador romano referia que tais louvores em forma de hino eram dirigidos a «Christo quase deo».
Todos os hinos cristãos primitivos, seguindo primeiro o Novo Testamento e só depois alguma tradição histórica, apontavam sempre para a Cristologia. Era e é o senhorio universal de Cristo Jesus, a sua essência e origem divinas que neles são cantados. Os hinos eram por assim dizer pedagogia, tinham plasmada parte da doutrina dos apóstolos.
-Filipenses 2, 6-11
«Cristo Jesus,
que, sendo em forma de Deus,
não teve por usurpação ser igual a Deus.
Mas aniquiliou-se a si mesmo (...)
sendo obediente até à morte,
e morte de cruz.»
Considerado paradigma do hino cristológico, segundo argumentos de tradição oral antigos que saem do Novo Testamento, contém duas estrofes que ensinam ao crente a doutrina do esvasiamento de Cristo e a Sua exaltação. Ao ser entoado, o cristão primitivo comunicava a si próprio e à comunidade o percurso do Filho de Deus desde a eternidade (ser em forma de Deus) até à Cruz (obediente como servo sofredor), depois culminando com a glorificação. Na verdade, é já um clássico que consagra na bibliografia das doutrinas teológicas do NT a quenótica - do grego kenós e kenósis.
-Colossenses 1, 15-20
«O Filho do seu amor
O qual é a imagem do Deus invisível,
o primogénito de toda a criação»
Este hino celebra essencialmente o senhorio univesal de Cristo. Com este argumento, o cristão pimitivo era convidado ao louvor e, em seguida, a considerar o senhorio do Filho de Deus, Senhor da Criação e Mediador da reconciliação.
-I Timóteo 3,16
«Aquele que se manifestou em carne,
foi justificado em espírito,
visto dos anjos,
pregado aos gentios,
crido no mundo,
e recebido acima na glória»
Declaração cristã do Século I, também considerada pelos estudiosos como um cântico do Mistério Cristológico. O seu preâmbulo «Grande é o mistério da piedade» foi uma maneira de se opor à expressão contemporânea « grande é a Diana dos efésios».
Num nivel histórico, é legítimo que nos perguntemos que hinos cantavam Paulo e Silas, na prisão. Seria um desses, referenciado acima? Ou outros como os que
o próprio apóstolo Paulo transcreve na carta aos Efésios, 5,14, ou o apóstolo Pedro escreve na sua Iª, 2, 22-24. Expondo ambos o que o profeta/poeta Isaías escreveu séculos antes.
Contudo, os comentaristas põem mais empenho no facto dos apóstolos estarem a «gloriar-se no meio da tribulação », mais do que uma preocupação sobre que cânticos seriam esses. Tratava-se de uma lição de vida e do ideal cristão, a alegria por ser achado digno de sofrer por Cristo.
J.N.Darby afirma, no seu comentário ao Livro dos Actos, que «Paulo e Silas cantam, em vez de dormirem, na prisão.»
Se cantavam, entovam hinos, tais cânticos tinham uma mensagem, sem dúvida a poesia vertida em teologia.
Fonte: Confeitaria Cristã
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