segunda-feira, novembro 16, 2009

Mapa das ações de pedofilia na web

Destaque para esta iniciativa norte-americana, que pode ser reproduzida, e até melhorada, por aqui. A matéria é do G1, da Globo.com***

Estudo mapeia comportamento de pedófilos na internet
Conheça as frases que eles usam e o que elas realmente querem dizer."Computador pode ser uma arma", diz delegada que cuida de crimes virtuais.
Juliana Carpanez Do G1, em São Paulo

O ambiente doméstico, onde teoricamente são monitorados pelos pais, é o principal local de uso da internet por parte das crianças. Ainda assim, um estudo realizado pela empresa de segurança Trend Micro aponta que 14% das crianças dos EUA com acesso à web já foram sexualmente assediadas. Segundo a ONG brasileira Safernet, que defende os direitos humanos na internet, no primeiro semestre deste ano foram feitas 24,4 mil denúncias de pornografia infantil – de longe, o crime mais denunciado num total de 44,5 mil no mesmo período.

Para alertar os pais sobre o problema e mostrar como os pedófilos agem no universo virtual, a Trend Micro fez junto a ONGs dos EUA um levantamento das frases mais utilizadas por esses criminosos e também o que elas realmente querem dizer.

A delegada titular Helen Sardenberg, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio de Janeiro, afirma que, apesar de a pesquisa apresentada pelo G1 ter como base dados norte-americanos, ela está compatível com a realidade brasileira. No país, a pornografia infantil na internet pode render até 8 anos de prisão. Conheça algumas das frases-chaves levantadas pelo estudo.

O que eles escrevem
"Onde fica seu computador em casa?"
Qual a real intenção
Determinar se algum adulto está por perto.

O que eles escrevem
"Qual a sua banda favorita? Estilista? Filme?"
Qual a real intenção
Descobrir que tipo de presentes oferecer - entradas de shows, roupas, CDs, etc.

O que eles escrevem
"Eu conheço alguém que pode transformar você em modelo."
Qual a real intenção
Bajulação.

O que eles escrevem
“Eu conheço um modo de ganhar dinheiro fácil.”
Qual a real intenção
Apelar para o desejo natural dos jovens em ganhar e gastar dinheiro.

O que eles escrevem
“Você parece triste. O que aconteceu?”
Qual a real intenção
Mostrar simpatia e encorajar a criança a confiar no agressor, possivelmente fazendo-a se afastar
do apoio familiar.

O que eles escrevem
“Você é a amor da minha vida.”
Qual a real intenção
Manipulação – se tornar atraente fazendo com que a vítima se sinta especial e envolvida numa relação.

O que eles escrevem
“Vamos conversar privado.”
Qual a real intenção
Entrar numa conversa separada da sala de bate-papo, mensagem instantânea ou pelo celular.

O que eles escrevem
“Qual o número do seu telefone?”
Qual a real intenção
Estabelecer contato off-line – geralmente acontece numa fase adiantada, depois que a criança se sente confortável com o agressor.

O que eles escrevem
“Se você não... [fizer o que eu pedi], eu vou... [contar para seus pais OU mostrar suas fotos num blog/rede de
compartilhamento].”
Qual a real intençãoIntimidar e manipular – usado pelo agressor para conhecer ainda mais sobre a vítima.

“O computador pode ser uma arma, e os pais não têm noção do que essa máquina representa nas mãos de uma criança sozinha. A internet dá acesso a um mundo de relacionamentos para os quais a criança ainda não está preparada”, afirma a delegada Helen Sardenberg.
Segundo Helen, os pedófilos tentam se aproximar das crianças no universo infantil – o que era o parquinho, na era pré-internet, virou agora aquele site de joguinhos inocentes. “Mesmo que o pai tenha cuidados com os sites visitados e um bom sistema antivírus, ele precisa monitorar a criança na internet para saber com quem ela se relaciona no ambiente virtual. Isso porque os criminosos também entram em sites inocentes, onde se passam por crianças”, alerta Helen.

E, assim como mostra a pesquisa, os pedófilos vão usar diversas artimanhas para conseguir aquilo que realmente querem. “Depois de ganhar a confiança do menor e obter algum tipo de informação ou imagem considerada comprometedora, o criminoso passa a chantageá-lo”, afirma Helen. Geralmente nesse ponto começa o pesadelo dos jovens, que têm medo de contar para os seus pais a situação pela qual estão passando (afinal, eles possivelmente já haviam sido alertados a não conversar com estranhos).

Mudança de comportamento
O ideal, claro, é que nenhuma família passe por uma situação de aliciamento de menores pela internet. Mas se isso acontecer e os pais não forem avisados, dá para identificar que algo anda errado observando os filhos de perto.

“É possível perceber mudanças no comportamento e também nas conversas. Eles podem começar a falar sobre assuntos mais erotizados, ter segredos que antes não tinham, ir mal na escola, parecer angustiados e fazer perguntas que antes não faziam, sobre horários e lugares diferentes, por exemplo”, explica Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.

Se notar algo estranho, os pais podem ir até uma delegacia denunciar o caso e até pedir instruções para as autoridades sobre como proceder. Se houver necessidade, esses órgãos remetem os casos para delegacias que combatem especificamente os crimes de internet.

Desconfiança
Um pai do Rio de Janeiro se encaixa no que disse a psicóloga: ele estranhou quando seu filho de 13 anos começou a dizer que compraria uma moto e participaria de programas na TV. Desconfiado, ele e a mulher conferiram o histórico do comunicador instantâneo e descobriram que o garoto estava conversando com um homem – o adulto está preso e participará de uma audiência nesta terça-feira (27). Segundo o pai, o homem convenceu seu filho a fazer sexo em troca de uma moto, mas o encontro não chegou a acontecer.

Já a mãe de uma garota de 14 anos, ouvida pelo G1, não achou que havia problemas no namoro virtual de sua filha, do estado de São Paulo, com um moço do Rio de Janeiro. Até que chegou uma conta telefônica de R$ 1,7 mil referente às ligações que a jovem, na época com 12 anos, fazia para o rapaz que dizia ter 17. Assustada, a mãe conseguiu que um investigador descobrisse onde ficavam os números para onde a filha ligava.

Um dos números estava localizado dentro de uma universidade e o outro, em uma casa onde não morava ninguém com a idade do rapaz. Segundo o investigador, o internauta usava um esquema ilegal para receber ligações nesses números – por isso pedia sempre que a jovem ligasse em um horário previamente combinado.

“Enquanto era uma brincadeira no computador, tudo bem. Mas se ele desviava número de telefone devia ter más intenções e poderia ser alguém perigoso. Foi um período muito difícil, em que eu não sabia o que fazer, para onde correr. Trabalho fora e não tenho como controlar tudo o que meus filhos fazem”, disse a mãe. Com muita conversa e paciência, ela conseguiu fazer com que a filha cortasse toda forma de comunicação com o namorado virtual. A filha, prestes a completar 15 anos, diz que hoje só conversa na web com quem realmente conhece.

Paciência
Um caso relatado pelo perito de crimes em informática Wanderson Castilho mostra, na prática, como os pedófilos não medem esforços para se aproximar de suas vítimas em potencial. Há alguns meses, seu cliente descobriu que a filha de 12 anos havia sido contatada na web por um homem que dizia ser autor de um dos livros favoritos da garota.

Ela, que é fã de literatura, fez uma lista com os títulos que mais gostava em uma rede de relacionamentos e, tempos depois, recebeu o convite para se tornar amiga do falso autor -- o perfil fraudulento havia sido criado cuidadosamente para enganar os fãs do escritor. “O homem dizia que estava entrando em contato com seus admiradores, em uma clara técnica para facilitar a aproximação”, explicou Castilho ao G1.

Quando, sem querer, a menina relatou a história aos seus pais, eles entraram em alerta. Segundo Castilho, as mensagens trocadas entre os dois em um comunicador instantâneo tinham conotação sexual e, nelas, o homem insistia em marcar um encontro com a garota. A família procurou a polícia, que conseguiu chegar até o suspeito. O homem responderá criminalmente por crime de aliciamento de menores.

Hernán Armbruster, gerente da Trend Micro no Brasil, confirma que o tempo gasto na web não representa um problema para esse tipo de criminoso. “Eles costumam ser pacientes e possuem diversos alvos ao mesmo tempo, sempre com a promessa de que a vítima é única para ele.”

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