Carlos Queiroz, autor de Ser é o Bastante, abriu o 4º Encontro de RENAS com palavras tão suaves quanto um cabra cearense é capaz de fazer. Ele disse que falar de justiça em um país injusto como o Brasil, é, impreterivelmente, falar de cruz e sofrimento. Leia um pouco de suas palavras:
“Bem-aventurados os que têm sede e fome de justiça, porque serão fartos” (Mt 5.6). Ao contrário do que podemos pensar, o Sermão do Monte fala de uma justiça que precisa ser construída. A justiça que foi sinalizada por Jesus de Nazaré é a mesma que foi manifestada por meio dos profetas.
O Sermão do Monte aponta para a possibilidade de uma nova sociedade. Ao falar com seus discípulos, vemos o estilo de nova sociedade que Jesus propõe. Uma sociedade que vive todos os anúncios do Sermão. Vemos no texto de Mateus uma fome e sede de justiça que vêm como virtude… e não há igreja que tenha sede e fome de justiça e que não seja misericordiosa, mansa, humilde.
O reino de Deus está dentro de vós, então a justiça de Deus também está dentro de vós. Junto com a justiça, vem a perseguição por causa de seu nome e por causa dessa sua justiça. Porque a esta tem que ser vivida como virtude, como moral e como prática.
Quando você pensa em Jesus e justiça você tem que pensar também em transformação. Tem que pensar inclusive em morte… talvez o morrer com Cristo. Quando nós relacionamos a justiça de Jesus Cristo, não podemos negar a possibilidade de sofrimento. Foi assim com o próprio Jesus e com Martin Luther King. Você não tem que pensar que sua igreja vai crescer, vai aparecer na mídia ou vai aumentar a membresia, mesmo porque a luta pela justiça é a voz de uma minoria, mesmo que falando por uma maioria.
A justiça que deve estar em nosso coração deve ser aquela que dá fome e sede de fazer justiça permanentemente. E, sim, há uma outra justiça que precisa de esclarecimento; isto é, nossa justiça deve exceder em muito a dos escribas e dos fariseus. Exceder aquela posição em que você julga sem se autoperceber, sem avaliar as dimensões de injustiça que você também comete.
Falta de pão na mesa dos nossos irmãos pode ser uma denúncia de que está faltando espiritualidade em nossos templos. A justiça do Sermão do Monte tende a provocar perseguição e retaliação porque mexe com os poderosos, que se acham controladores do estado, do conhecimento, do tráfico de entorpecentes e outros. Se nós mexermos nessas estruturas o resultado será a cruz.
Pensar em denunciar os poderosos, a perversão das instituições religiosas, viver o evangelho e a justiça do reino no Brasil podem gerar sofrimento. De que Igreja nós estamos falando? De que Cristo? Façam da justiça a poesia da sua vida. Engajem-se socialmente, politicamente e economicamente em mecanismos que a sociedade possui. Interfiram nas políticas públicas, promovam sua implantação em nossa sociedade.
Não esperem que muita coisa lhes seja acrescentada. Eu gosto da tradução que diz “estas” coisas. “Estas coisas” das quais ele fala no Sermão do Monte são a singeleza dos lírios dos campos, a beleza das aves do céu. Sim, eu quero que você tenha um bom casamento e uma casa, mas não foi isso que Deus prometeu.
Que a motivação da busca pela justiça seja ela em si mesma. Que a sua motivação seja a mensagem da cruz.
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