A DIMENSÃO ESPIRITUAL DAS QUESTÕES POLÍTICAS
Pastor Antonio Carlos, o senhor analisa a violência do nosso Rio no contexto social e político.Podemos também analisá-la na visão espiritual?
Atuando há três anos ininterruptamente na luta pela redução da letalidade no Brasil, a começar pelo Rio de Janeiro, tenho procurado sempre tratar da questão com objetividade, procurando lidar com fatos concretos, levando em consideração os trabalhos de pesquisa no campo da segurança pública e usando nas entrevistas uma linguagem secular. Talvez muitos cristãos se ressintam disso, julgando que estou perdendo oportunidade de oferecer o ponto de vista das Escrituras sobre o problema.
O que mais tenho procurado fazer, nas ocasiões em que pedem minha opinião sobre o problema da violência, é apresentar o meu ponto de vista através de uma linguagem secular baseada (espero) em evidência científica (falo das ciências sociais e todo o seu trabalho de pesquisa), mas que ao mesmo tempo esteja dentro do enquadramento intelectual do cristianismo.
A.C. Costa
O grande problema da igreja é julgar que, bons legisladores, boas leis, aplicação justa da lei e um competente poder executivo, são menos importantes do que a igreja "guerrear nos lugares celestiais em Cristo". Tudo o que precisamos é orar, dizem.
Acontece que esse mundo tem suas leis -diria que algumas até mesmo sociológicas- e sempre que essas leis são respeitadas, certos resultados se seguem de acordo com a providência divina. As sociedades regidas por leis sábias, aplicadas com justiça e cujo poder executivo trabalha sob a vigilância do povo, tendem a viver com nível maior de harmonia social. Mesmo quando não se encontram sob um grande avivamento espiritual. Em Paris, por exemplo, vive-se com muito mais segurança do que no Rio de Janeiro. Contudo, em todos os bairros do Rio há igrejas evangélicas disputando palmo a palmo cada rua. Vai procurar igreja evangélica em Paris... É uma luta achar um lugar onde a Palavra de Deus esteja sendo pregada.
Deus não vai honrar uma igreja que ora, mas que se recusa cumprir sua função de sal da terra e luz do mundo. O nosso trabalho visa conduzir homens ao céu e trazer um pouco do céu para a terra. Quando a igreja perde o otimismo histórico do Novo Testamento, que ensina aos discípulos de Cristo a esperarem curas substanciais para esta presente vida (curas reais, ainda que não totais), vive a humilhação de ver não-cristãos vivendo em sociedades mais justas do que aquelas nas quais a quantidade de crentes é significativa. A simples presença da igreja não basta, especialmente, se essa presença se der apenas num espaço geográfico chamado, templo -estufa da alienação e mediocridade.Com isso estou querendo dizer que o trabalho de evangelização não faz diferença alguma para a vida em sociedade? Mil vezes não. A pregação do evangelho produz espontaneidade no comportamento social, inspira homens à formação em seu corações de forte espírito público, provê base intelectual para a defesa dos direitos humanos, traz sustentação ideológica para os projetos políticos, produz esperança quando os projetos humanos falham e socorre os homens no seu momento final, quando o Estado tem que se silenciar, pois dar conforto a quem morre é tarefa da igreja.
Fonte: Palavra Plena
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