terça-feira, dezembro 01, 2009

Luta de Classes e espiritualismo explicam tudo! Pensar pra quê?



O espiritualismo como conceito ou filosofia de vida está para as religiões como o conceito de luta de classes está para a Filosofia , você consegue explicar TUDO por essa ótica - desde uma complexa saga à um conto de literatura de cordel.
Um bom passatempo é tentar explicar tudo pelas duas óticas: espiritualismo e luta de classes. Já fiz isso e me diverti um bocado. Farei isso no final do texto.
Não tenho preconceito contra os espíritas. Acredito no valor da caridade exatamente como eles. Mas não acredito nos conceitos de karma, imortalidade da alma ou do espirito, reencarnação, Zíbia Gasparetto, vidas passadas etc. Em matéria de religião acredito só na Bíblia. E ponto.
O que eu quero desabafar - e esse texto é um desabafo - é sobre a mania de explicar toda e qualquer coisa sob a ótica digamos espiritualista e esotérica das coisas.
Tenho amigos que explicam tudo, desde um acidente de automóvel até a taxa Selic pelo conceito de reencarnação, karma, nirvana, vidas passadas etc.. Tudo é karma. Tudo é destino. Ninguém precisa mais pensar, meditar e questionar as coisas.
Por sinal, até explicação de filmes não escapam da planificação da ótica espiritualista.

Muholland Drive - Cidade dos Sonhos.
É um filme interessante que tem como principal mérito tirar do anonimato a boa atriz Naomi Watts.. Tem umas cenas desnecessárias, que não contribuem muito para a trama. Mas é um filme legal. Daqueles filmes que te acompanham muito tempo depois de você ter assistido. Mas, lá vem a explicação espiritualista: A menina morreu e reencarnou. Como tinha uma missão a cumprir, voltou a se "relacionar" com sua amiga.
Simplista toda vida. O título em português já entrega a história toda. Metade do filme é sonho, e a outra metade realidade.
Mas, na minha visão o filme é sobre realidades paralelas. Uma decisão ou um evento pode desencadear ou não toda uma série de eventos.

Swimming pool - a piscina. (pra quê esse "a piscina", hein?)
Pra começar o filme só vale mesmo a pena pela atuação das atrizes (Ludvine Sagnier - A jovem Julie - maravilhosa e acho que Charlotte Rampling ? a escritora, não tenho certeza e tô sem tempo de fuçar o google para conferir). As duas são muito boas atrizes. A história é mais ou menos. Achei as cenas de sexo desnecessárias. Acho que os franceses têm uma necessidade de mostrar sexualidade o tempo todo. Isso me incomoda um pouco em filmes franceses.
Vi o filme do ponto de vista da literatura. Tudo o que acontece na casa após a chegada de Julie já é o livro (Swimming Pool) que a tal escritora está desenvolvendo. A única dúvida para mim é se a verdadeira Julie foi à tal casa de campo ou não. Eu quero crer que sim. Na cena final, a escritora acena tanto para a verdadeira Julie, como para a Julie literária. Possivelmente aquela história da mãe de Julie é também uma jogada literária da escritora. Ela tem ressentimento do editor que não a estimula a seguir outros rumos e a Julia (literária) aparece para redefinir a visão de vida de uma escritora que acabaria virando uma espécie de caricatura como o Paulo Coelho ou mesmo o Luís Fernando Veríssimo. Então, aquela história da mãe de Julie representa uma espécie de castração intelectual "imposta" sutilmente pelo editor.
O assassinato não aconteceu. Quer dizer, aconteceu na mente da escritora. Mas, apesar de ela ser uma romancista de livros policiais, aquele assassinato retratado no filme, foi o primeiro que ela não só descreveu, mas participou. Literariamente e não literalmente falando.
Ela, a escritora, tem uma atração pelo editor. Um atração reprimida. Ele percebe isso, mas não faz nada. Na verdade ele é apenas um cara que quer vender livros. Não chega a ser um canalha, mas incentiva sutilmente um certo comodismo intelectual.
Achei bem legal as cenas envolvendo a indiferença tipicamente inglesa, contrastando com a simpatia (ainda que às vezes forçada) francesa.
Eu quase cai na tentação de ver o filme sob uma ótica espiritualista mas, os aspectos literários eram evidentes demais para serem ignorados. Mas, se a ótica fosse espiritualista, o que ou quem seria a Julie? Um espírito? De quem? Se a verdadeira Julie aparece no final, o que tem a ver aquela história toda da mãe, do livro no fogo e a promiscuidade gratuita de Julie? Não consegui resolver a trama por essa ótica.
From dusk till dawn - Um drinque no inferno.
É um filme doido do Quentin Tarantino. O segredo do filme é que são dois filmes em um. O "primeiro" filme mostra dois irmãos assassinos seqüestrando uma família para ajudá-los a atravessar a fronteira com o México. O "segundo" filme, mostra esses dois irmãos, mais a família seqüestrada num bar de estrada infestado de vampiros (?!).
Mas, lá vem a explicação espiritualista: Na verdade eles teriam morrido na travessia e seus espíritos estavam sendo atormentados do outro lado.
É forçar demais a barra, né não?
Existem filmes claramente espiritualistas como "O sexto sentido" e "Os outros". Acredito que não precisamos ficar forçando a barra para um filme se encaixar num conceito que já possuímos. Vamos ver a proposta do roteirista, do diretor e tentar pensar um pouquinho mais.
Acho que é melhor errar pensando por si mesmo (e com algumas ferramentas, por que ninguém é de ferro ) do que acertar repetindo o senso comum ou se precipitando na avaliação.
Mas, vamos ao exercício:








Peter Pan.
Espiritualismo: As crianças morrem e vão para Neverland (o Além). No final, elas reencarnam em outras crianças e voltam para a casa.
Luta de classes: Os piratas e os pais de Wendy representam o capitalismo e a moral burguesa, que é combatida por Peter e os meninos perdidos, que obviamente representam a classe operária.
A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Espiritualismo:
Wonka tem o karma do chocolate. Ele está predestinado nesse sentido. Ele é uma reencarnação de todos os chocolateiros desde o início dos tempos.
Luta de classes: Willy Wonka é um burguês. Mas, como o Cazuza (epa!) ele é burguês mas é artista e está do lado do povo. Após se frustrar com a moral burguesa resolve socializar a fábrica dando-a para o jovem Charlie , que, juntamente com sua família, representa a classe operária.
Batman.
Espiritualismo: Bruce Wayne estava predestinado (sempre isso) a ser um combatente do crime. Seus pais morrem para que ele cumpra seu karma. Batman e Robin na verdade são reencarnações do Cavaleiro Solitário e seu amigo Tonto, que por sua vez são reencarnações do Fantasma e Capeto, Asterix e Obelix e assim por diante...
Luta de classes: Vivendo em luxo, a família Wayne é atingida pela desigualdade social. Batman é um criminoso tão vil quanto o Coringa. Ele luta para manter a burguesia funcionando. O Coringa (e todos os psicóticos de Gotham City) faz justiça social e, claro, representa a classe operária.

Frajola e Piu-piu.
Espiritualismo: Frajola e Piu-piu estão predestinados a brigar por toda a eternidade até que resolvam uma pendência jurídica que rolou no Antigo Egito, época em que Frajola era considerado um deus. A partir daí eles tiveram inúmeras encarnações: Tom e Jerry, Stan Laureu e Oliver Hardy, Batman e Coringa, Bush e Bin Laden.
Luta de classes: Piu-piu e a vovó representam a burguesia. Frajola é um sem-teto faminto e representa...adivinhem!
por: blogildo

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